A ternura dos povos

Cristina Cardoso

Cuba não está só

Na pas­sada se­mana, o Par­la­mento Eu­ropeu aprovou mais uma ver­go­nhosa re­so­lução contra Cuba, que a pre­texto da ale­gada de­fesa dos di­reitos hu­manos, usa a ca­lúnia e a men­tira para jus­ti­ficar a in­ge­rência sobre o povo cu­bano e a apli­cação de mais san­ções, a somar ao blo­queio ilegal e cri­mi­noso im­posto pelos EUA.

Esta re­so­lução, que omite a exis­tência do blo­queio, o seu agra­va­mento du­rante a ad­mi­nis­tração Trump, a ma­nu­tenção, por Biden, de Cuba na dita lista de «países pa­tro­ci­na­dores do ter­ro­rismo», assim como todas as suas con­sequên­cias para o de­sen­vol­vi­mento de Cuba e para o bem-estar do seu povo, aponta falsa e hi­po­cri­ta­mente como prin­cipal res­pon­sável das di­fi­cul­dades sen­tidas por Cuba o sis­tema eco­nó­mico e pro­du­tivo que o povo cu­bano tem vindo a cons­truir e a de­fender. Ora, pa­rece iró­nico que, vindo de de­pu­tados de países onde o em­po­bre­ci­mento cresce a olhos vistos, em par­ti­cular entre as cri­anças, onde a mai­oria dos tra­ba­lha­dores têm di­fi­cul­dades em pagar a ha­bi­tação e a ali­men­tação, onde cada vez mais se paga a saúde e a edu­cação e se pri­va­tiza os ser­viços pú­blicos, con­denem um povo e um país que es­co­lheu o ca­minho da dig­ni­dade da vida hu­mana acima dos lu­cros de uma mi­noria.

Em vés­peras de Ci­meira União Eu­ro­peia (UE) e Co­mu­ni­dade de Es­tados La­tino-Ame­ri­canos e Ca­ri­be­nhos (CELAC), esta re­so­lução não teve outro pro­pó­sito senão o de tentar obs­ta­cu­lizar o ne­ces­sário de­sen­vol­vi­mento das re­la­ções entre Cuba e a União Eu­ro­peia. Vinda das forças de di­reita re­pre­sen­tadas no Par­la­mento Eu­ropeu – in­cluindo o PSD e o CDS –, não é de es­tra­nhar que aqueles, que têm «feito o jeito» a in­ge­rên­cias e agres­sões do im­pe­ri­a­lismo, não se te­nham cla­ra­mente de­mar­cado desta ver­go­nhosa ma­nobra po­lí­tica, abs­tendo-se no con­junto do texto, como foi o caso dos de­pu­tados do BE.

Mas Cuba re­cebeu aquele abraço fra­terno e so­li­dário ao longo da des­lo­cação a Por­tugal de Mi­guel Diaz-Canel, Pre­si­dente da Re­pú­blica de Cuba, nos pas­sados dias 14 e 15 de Julho. Numa ex­pressão de firme con­de­nação do blo­queio dos EUA a Cuba, de ami­zade com o o povo cu­bano e a sua re­vo­lução, de pro­funda ad­mi­ração pelas con­quistas al­can­çadas mesmo nas mais duras con­di­ções, pela re­sis­tência a mais de 60 anos de acosso do im­pe­ri­a­lismo, que in­clui a agressão mi­litar e as vá­rias ac­ções ter­ro­ristas de que foi vi­tima, a Voz do Ope­rário trans­bordou de so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista, no pas­sado dia 15 de Julho.

Um grande acto de so­li­da­ri­e­dade com Cuba, pro­mo­vido por 37 or­ga­ni­za­ções, in­cluindo o PCP, que contou com a pre­sença de Mi­guel Diaz-Canel, e que juntou cerca de duas mil pes­soas vindas de Norte a Sul do País – acto que pelo seu pro­fundo sig­ni­fi­cado foi re­me­tido ao si­lêncio pela ge­ne­ra­li­dade dos media.

O que ficou claro na­quele acto e que a ge­ne­ra­li­dade dos meios de co­mu­ni­cação so­cial pro­curou ocultar, é que Cuba não está só e muitos são aqueles que pre­co­nizam o di­reito dos povos a de­fender a sua so­be­rania e o ca­minho que es­co­lheram, aliás, como também foi afir­mado pelos países la­tino-ame­ri­canos e ca­ri­be­nhos pre­sentes na Ci­meira UE-CELAC e na Ci­meira dos Povos que se re­a­lizou em Bru­xelas.

Como Mi­guel Diaz-Canel citou na sua in­ter­venção que en­cerrou o acto na Voz do Ope­rário, «a so­li­da­ri­e­dade é a ter­nura dos povos» e dali saímos todos de peito cheio de con­fi­ança de que Cuba ven­cerá e de que é justa e in­ven­cível a causa pela qual lu­tamos.

 



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