Tempo de «sondagens»

Carlos Gonçalves

As sondagens «não servem para prever resultados eleitorais», embora possam ser úteis na avaliação de tendências várias num momento concreto, diferente das eleições. As sondagens à «boca das urnas» são mais verdadeiras, mas imprestáveis após a noite eleitoral.

Vale lembrar que uma sondagem eleitoral séria resulta na previsão datada de tendências de voto, na margem de erro (3 a 5%!), se forem cumpridas as «normas técnicas» – pergunta clara, método aleatório, amostra dimensionada e estratificada, no plano geográfico, social, etário, de género e voto anterior, inquirição fiável e leitura da abstenção, não respondentes e indecisos, conforme à realidade.

Para as eleições de Março de 2024 a hipótese de cumprir estas normas é ainda mais residual, dado o Congresso e liderança do PS por definir, os favores da governação e os processos judiciais vários (e imprevisíveis), a campanha e decisões do poder económico em rateio (entre PS, PSD, etc.) e as ofertas no mercado das empresas da área.

As «sondagens» (com aspas) dominantes, tão iguais como o interesse geral do capital financeiro, têm-se revelado face ao real um desastre cada vez maior, perdendo credibilidade – foi o empate técnico PS-PSD nas legislativas em Janeiro de 2022 ou o fim da CDU na Madeira em Setembro de 2023, e outras. Mas a questão é que nunca foi intenção de quem as encomendou e tratou nos média prever um resultado eleitoral, mas sim, pelas parangonas dos média e a repetição sem freio, condicionar o voto de quem resiste e fabricar votações à medida de quem paga. É a «democracia de mercado» decidida pelo grande capital.

E já aí estão de novo, paletes de barómetros e «sondagens» que «tudo sabem» (nem é preciso votar!): «bipolarização» PS-PSD, grandes subidas do proto-fascismo e dos «cucos», como se tudo isto fosse possível (no mesmo dia) ou mudasse alguma coisa.

Visam instrumentalizar, ocultar, apoucar e (frustração maior) «acabar» com o PCP e a CDU, a força que sempre lutou contra a política de direita e cujo reforço é o único caminho para romper com a sujeição ao grande capital e construir a alternativa patriótica e de esquerda; a força que derrotará as «sondagens» fabricadas, que merece e vai garantir o voto e a luta dos trabalhadores e do povo, por um Portugal com futuro.




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