Contra o fascismo e contra a guerra!

Albano Nunes

O neoliberalismo é incompatível com a democracia formal

De modo irregular, é certo, e defrontando forte resistência, as forças de extrema-direita e fascistas continuam a crescer em vários países e a tornar-se cada vez mais arrogantes. Os casos da Argentina e da Holanda, embora circunscritos ao plano eleitoral e ainda não consolidados a nível do aparelho de Estado, são exemplos recentes muito significativos.

Seria errado considerar que, em geral, as vitórias eleitorais da pior reacção traduzem opções políticas de fundo do eleitorado ou representam um alargamento estável da base de apoio da extrema-direita, mesmo quando esta não esconde ao que vem, como no caso de Milei no país das pampas. A verdade é que a extrema direita tem crescido explorando com a sua demagogia «anti-sistema» situações de profundo descontentamento popular perante políticas que, cobrindo-se por vezes com roupagens de «esquerda», realizam políticas que desprezam os interesses e aspirações dos trabalhadores e servem o grande capital. É o que tem acontecido com a participação ou apoio de fascistas a vários governos na Europa, como na Itália, ou a possibilidade de se tornarem a força política mais votada em França ou, na Alemanha, segundo várias sondagens, ficarem à frente do SPD do primeiro ministro Olaf Scholz. É também o que está a acontecer em Portugal com a instrumentalização do descontentamento para com a política de direita do PS para promover concepções e projectos reaccionários e antidemocráticos e ajustar contas com o 25 de Abril.

Tal como o combate ao militarismo e à guerra, a intensificação da luta contra o fascismo, que anda de mãos dadas com a escalada de confrontação imperialista, é um imperativo da hora actual. Combate difícil que pode implicar pesados sacrifícios, como se está a verificar na Palestina, onde, com o apoio do imperialismo, o governo sionista/fascista de Israel está a cometer os mais monstruosos crimes, mas que, como a historia já mostrou, pode e deve ser travado com sucesso. Combate que será tanto mais eficaz quanto mais se alargar a consciência da natureza de classe do fascismo como expressão terrorista do domínio do grande capital monopolista. E quanto mais recuarem entre as massas ilusões fomentadas pela ideologia dominante, pela manipulação de conceitos como «voto útil», «democracia» ou «esquerda», pela falsificação da história e sistemáticas e sofisticadas campanhas anticomunistas. Quando se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, o combate do PCP contra o branqueamento do fascismo e do colonialismo e em defesa da verdade sobre o que realmente foi e significou a Revolução é uma importante contribuição dos comunistas portugueses à luta mais geral dos trabalhadores e dos povos contra o fascismo e pela paz.

O neoliberalismo mostrou, desde o seu nascimento, no Chile de Pinochet, que é incompatível com a própria democracia formal e que o fascismo é a «saída» dos sectores mais agressivos do grande capital para impor as taxas de exploração que a reprodução capitalista exige e proteger-se de inevitáveis explosões sociais e revolucionárias. Mas esta perigosa realidade, bem identificada no XXI Congresso do Partido, não significa fatalidade. Há forças – políticas, sociais e estatais – que, se unidas e mobilizadas, impedirão a catástrofe.




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