Recordes

Anabela Fino

O ano de 2023 termina com uma sucessão de recordes que testemunham o estado de barbárie a que chegou a dita civilização ocidental. Na impossibilidade de os elencar a todos, recorda-se aqui alguns que merecem figurar no Guinness mundial dos horrores.

O primeiro chega da Ucrânia, veiculado pelo sítio techbreak, que foi o primeiro a divulgar o vídeo que registou o «sucesso»: um sniper ucraniano matou um militar russo a 3,8 km de distância, pelo que a Ucrânia reivindica um novo recorde do mundo de tiro a longa distância. Ao que consta, o anterior, a 3,5 km, pertencia a um soldado do Canadá, e foi alcançado no tiro ao iraquiano, em 2017, no Iraque. O novo recordista, Vyacheslav Kovalskiy, não esconde o orgulho: «Não tenho escrúpulos em matar russos. Vamos fazê-los tremer, mesmo quando estão sentados em casa», dá conta o Wall Street Journal. Presume-se que o passo seguinte seja a colecção de cabeças.

Nem a propósito, Kiev e Washington assinaram um memorando para a produção conjunta de armamento e partilha de dados técnicos, o que deverá levar a assistência sem precedentes dos EUA à Ucrânia, que já atingiu quase 45 biliões de dólares (41,6 biliões de euros), a um novo patamar, perdão, a um novo recorde. Isto sem contar com os 22,9 mil milhões de dólares (21,1 mil milhões de euros) para o orçamento da Ucrânia e o pacote de 61,4 mil milhões de dólares (56,8 mil milhões de euros) que Biden quer dar ao seu amigo Zelensky, mas por enquanto bloqueados no Congresso.

Outro recorde em permanente alteração é o do número de palestinianos assassinados em Gaza por Israel, que no final da semana passada o secretário-geral da ONU situou em mais de 17 mil, dos quais sete mil crianças, para além do recorde na destruição de casas, 60% das existentes no enclave, e da população obrigada a fugir, 85%.

Guterres não bateu nenhum recorde ao invocar o artigo 99.º da Carta da ONU para obrigar o Conselho de Segurança a discutir a «situação sem precedentes» na Faixa de Gaza, mas os EUA aumentaram o seu palmarés ao vetar a proposta de um cessar-fogo em Gaza, sob pretexto de que isso «só iria plantar as sementes para a próxima guerra». Um contributo para o capítulo dos recordes da hipocrisia do Guinness, que se não existe, devia existir.

O número de jornalistas assassinados em Gaza já bateu todos os recordes e corre o risco de estar ultrapassado quando o jornal chegar às bancas: 94 desde 7 de Outubro, mais de uma morte por dia, mais do que o total de jornalistas mortos nos últimos 30 anos na região, facto sem precedentes na história dos meios de comunicação social. É o «Inferno na Terra», diz o director da Agência ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente, que assim entra na lista negra de Israel, recordista de rotular críticas com perseguição aos judeus.




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