O polícia do mundo

Albano Nunes

A política agressiva dos EUA nem é sinal de força nem é imbatível

A agressão dos EUA ao Iémen está a ser apresentada e justificada pela comunicação social dominante como visando proteger e assegurar a «liberdade de navegação» e uma acção «legítima» e «legal» que teria mesmo cobertura do Conselho de Segurança da ONU quando, como aliás foi sublinhado pela China e pela Rússia, não tem. A mesma «liberdade de navegação» que no estreito de Taiwan e no mar do Sul da China está a ser invocada para a ingerência nos assuntos internos da República Popular da China (RPC), fomentando o separatismo desta ilha chinesa e provocando ostensivamente um perigosíssimo foco de tensão. A mesma «legalidade» com que, com os seus aliados da NATO, semeou a morte e a destruição no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Síria ou impõe arbitrários bloqueios e sanções a Cuba e a outros países soberanos.

Na realidade, os bombardeamentos dos EUA (e do seu subordinado britânico) ao Iémen são expressão do seu indefectível apoio ao regime sionista de Telavive (que tem sido e continua a ser a sua ponta de lança contra o movimento de libertação nacional e social no Médio Oriente) e ao genocídio que Israel está a perpetrar contra o povo palestiniano.

Bombardeamentos que, a pretexto do «combate ao terrorismo», visam silenciar e vergar um povo que, já martirizado por muitos anos de guerra de agressão, tem estado, e continua a estar, na primeira linha da solidariedade com a causa palestiniana, bem visível nas gigantescas manifestações populares em Sanaa e noutras cidades iemenitas.

Uma vez mais estamos perante uma descarada inversão de responsabilidades por numerosos focos de tensão e de guerra. Arvorando-se em polícia do mundo para impor a sua «ordem mundial com regras» (a sua dita «legalidade»), os EUA têm espalhadas pelos cinco continentes mais de 700 bases e instalações militares. As suas poderosas esquadras navais, dotadas de armas nucleares, patrulham todos ao mares, como no Mediterrâneo Oriental para proteger o genocida expansionismo de Israel, ou no Pacífico, para cercar e ameaçar a RPC e tentar deter o seu desenvolvimento.

A ordem capitalista norte-americana em crise é pela exibição e utilização da superioridade militar que tenta contrariar o seu declínio e impor uma hegemonia planetária que lhe escapa. Em relação ao terrível drama palestiniano, o imperialismo norte-americano manobra para se apresentar como «moderador» e «pacificador», mas é na realidade o grande cúmplice dos crimes de Israel. Tal como os sucessivos vetos no Conselho de Segurança a um simples cessar-fogo humanitário, a proteção que lhe dispensa com a sua ofensiva militar na região fala por si.

A política militarista agressiva dos EUA está a causar e poderá ainda causar no futuro muita destruição e sofrimento. Mas nem é sinal de força nem é imbatível. O resultado das suas agressões ao Iraque (que está a exigir a completa retirada das suas bases militares), à Síria (que entretanto continua a bombardear e a roubar petróleo), ao Afeganistão (de onde teve de sair vergonhosamente), são exemplos recentes que o confirmam. No quadro de uma situação internacional que tanta incerteza e tanto perigo comporta, é importante não esquecer as lições da História e manter a confiança na força da luta e da solidariedade anti-imperialista.




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