Os EUA nunca bombardeiam países

Margarida Botelho

Os Es­tados Unidos, Is­rael, o Reino Unido, a NATO, nunca bom­bar­deiam. Fazem ata­ques es­tra­té­gicos, ci­rúr­gicos e pre­ven­tivos. As bombas nunca acertam em países nem em pes­soas. Atingem ta­li­bans, o Hamas ou houtis.

Os ci­da­dãos ame­ri­canos, is­ra­e­litas ou de países da União Eu­ro­peia são as­sas­si­nados. Os ou­tros li­mitam-se a morrer. Ou nem isso.

As pa­la­vras têm cada uma o seu peso pró­prio. As lín­guas têm, fe­liz­mente, muitos re­cursos para que os seres hu­manos possam ex­primir pen­sa­mentos, emo­ções, co­nhe­ci­mentos. A língua por­tu­guesa não é ex­cepção e até há quem diga que é es­pe­ci­al­mente rica. Não é pois por falta de vo­ca­bu­lário que as no­tí­cias se re­petem, usando as mesmas pa­la­vras es­tu­dadas para cada oca­sião.

Usar pa­la­vras que de­su­ma­nizam as ví­timas da guerra, da fome, das do­enças evi­tá­veis, da vi­o­lência, não é ino­cente. A se­mân­tica não é ino­cente. Na pressa das re­dac­ções – de que por estes dias, a pro­pó­sito do Con­gresso dos Jor­na­listas, fi­cámos a co­nhecer me­lhor as di­fi­cul­dades – aplica-se mal muitas pa­la­vras. Re­pete-se co­mu­ni­cados de im­prensa, de­cla­ra­ções e pontos de vista de quem bom­bar­deou, de quem ocupa, dos po­de­rosos. Par­tilha-se ví­deos de exér­citos e em­bai­xadas, sem ques­ti­onar. Emi­tidos no mo­mento em que os in­te­resses da guerra de­ter­minam que devem ser emi­tidos, estão em mi­lé­simos de se­gundo nos te­le­mó­veis, nos com­pu­ta­dores e nas te­le­vi­sões de mi­lhões de pes­soas. A forma como con­se­guem de­ter­minar e ma­ni­pular à es­cala de massas é im­pres­si­o­nante.

Mas não é menos im­pres­si­o­nante a ca­pa­ci­dade que os povos têm de ques­ti­onar, re­sistir, ser so­li­dá­rios, lutar. Apesar de todo o po­derio das armas, do dis­curso me­diá­tico, da ide­o­logia do salve-se quem puder, do dis­curso sobre a su­pe­ri­o­ri­dade do «oci­dente alar­gado», do «nós-ci­vi­li­zados» contra um «eles-sel­va­gens», mi­lhões de pes­soas em todo o mundo lutam pela paz e por va­lores hu­ma­nistas. E é nelas que está o fu­turo.




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