O problema da China
A China está na vanguarda em cada vez mais domínios
O PIB da China cresceu 5,2% em 2023, segundo dados oficiais. Um resultado em linha com as metas estabelecidas por Pequim e acima do nível de progressão necessário para atingir o objectivo de duplicação do PIB de 2020 em 2035 (depois do produto da China ter crescido mais de 10 vezes nos primeiros 20 anos do século!). Porém, os números do crescimento da segunda economia mundial (na verdade, desde 2014, a maior economia do mundo em termos de paridade de poder de compra) foram soterrados por uma avalanche de análises negativas nos média dominantes, retomando a campanha insidiosa que marcou 2023. Para o mainstream tudo está mal ou problemático na economia chinesa. Não é ainda a «crise total (…), mas há razões para acreditar que a China está a entrar numa era de estagnação e desilusão», escreveu, por exemplo, no dia seguinte à divulgação dos resultados, P. Krugman, Nobel da economia de 2008. Entre os muitos vícios apontados estão a gestão económica arbitrária de Xi, o sufoco da iniciativa privada, o nível incomportável do investimento (público) e a ameaça da China contrariar os «esforços ocidentais de promoção de tecnologias sustentáveis»(!). Ignorando a última projecção do FMI para a China, que apontava para um crescimento de 5.2%, o autor lança uma sombra sobre a fiabilidade dos resultados revelados por Pequim e associa a manipulação estatística aos «regimes autoritários».
Tudo demasiado previsível nos clichés do pensamento dominante.
Bem está a economia dos EUA, que em 2023 «superou largamente as expectativas». A afirmação é quase assombrosa, mesmo reconhecendo que 2023 não confirmou as piores previsões para a economia do tio Sam. Dados preliminares apontam para uma subida de 2,5% do PIB dos EUA no ano findo, cerca de metade da taxa chinesa, mas acima das restantes economias capitalistas centrais do mundo (G7), com várias a labutar no limiar da recessão, em que já caiu a Alemanha. Há que sublinhar que a evolução conjuntural da economia norte-americana – e as taxas médias do PIB continuam a evidenciar uma trajectória decrescente – não anula os crescentes desequilíbrios e riscos da sua condição fundamental. O incremento exponencial da dívida é apenas um dos indicadores alarmantes de uma economia de matriz parasitária. O chefe do JPMorgan, o maior banco dos EUA, avisou a semana passada que a economia «caminha para o desastre» se não for travada a bola de neve da dívida pública. Só em 2023 aumentou mais de 4 biliões de dólares, quase tanto como o PIB da Alemanha, terceira economia mundial.
A China é ainda um país em desenvolvimento e atravessa uma fase crítica da sua «modernização socialista».
O que atormenta Krugman e os arautos da campanha anti-chinesa não são os problemas e desafios com que o país se depara – reconhecidos pela liderança chinesa –, mas o potencial e extraordinários avanços em amplos domínios, incluindo o tecnológico. Apesar da intensificação das sanções arbitrárias, da guerra comercial, tecnológica e económica, da chamada estratégia de «diminuição de riscos» adoptada pelos EUA, UE e G7, da chantagem militar em torno de Taiwan, a China continua a arrepiar caminho. Está na vanguarda em cada vez mais domínios (ferrovia, energias verdes, veículos eléctricos, etc.). O espectro da superioridade sistémica da China e da perda da supremacia mundial do imperialismo – é este o problema real que lhes tira o sono.