Eles querem fazer esquecer...

Pedro Guerreiro

A Ju­gos­lávia não ab­di­cava da sua so­be­rania

No pró­ximo do­mingo as­si­nala-se 25 anos da agressão da NATO à Ju­gos­lávia, de­sen­ca­deada a 24 de Março de 1999.

De­pois de anos a fo­mentar, a apoiar e a ins­tru­men­ta­lizar a acção ter­ro­rista do de­no­mi­nado «Exér­cito de Li­ber­tação do Ko­sovo» na Ju­gos­lávia – uma prá­tica co­mum­mente le­vada a cabo pelos EUA contra di­versos países e que con­tinua nos dias de hoje –, a in­ter­venção mi­litar di­recta da NATO cons­ti­tuiu mais um passo na ope­ração de in­ge­rência e de­ses­ta­bi­li­zação que levou ao des­mem­bra­mento da Ju­gos­lávia, país que per­sistia em não ab­dicar da sua so­be­rania e in­de­pen­dência, re­sis­tindo às pres­sões po­lí­ticas, eco­nó­micas e mi­li­tares dos EUA, da NATO e da União Eu­ro­peia.

A agressão mi­litar da NATO à Ju­gos­lávia – que foi acom­pa­nhada do pri­meiro grande alar­ga­mento deste bloco po­lí­tico-mi­litar ao Leste da Eu­ropa – marcou o início de uma nova fase da ofen­siva do im­pe­ri­a­lismo para re­cu­perar o es­paço que havia per­dido com a al­te­ração da cor­re­lação de forças a favor das forças da paz, do pro­gresso so­cial e da li­ber­tação na­ci­onal ve­ri­fi­cada após a Se­gunda Guerra Mun­dial, e impor o do­mínio he­ge­mó­nico dos EUA no plano mun­dial.

Ou seja, uma agressão que não só re­pre­sentou o re­gresso da guerra à Eu­ropa, como o ponto de par­tida para novas ope­ra­ções de in­ge­rência, de de­ses­ta­bi­li­zação e de agressão nou­tras re­giões, como contra o Iraque, o Afe­ga­nistão, a Líbia ou a Síria, entre ou­tros exem­plos de su­ces­sivas e sis­te­má­ticas vi­o­la­ções da Carta das Na­ções Unidas e do di­reito in­ter­na­ci­onal por parte dos EUA, da NATO e da UE, de­mons­trando na re­a­li­dade o que sig­ni­fica a dita «ordem in­ter­na­ci­onal ba­seada em re­gras» de­ter­mi­nada pelos EUA, que ar­voram para si o di­reito à in­ge­rência e ao in­ter­ven­ci­o­nismo em função dos seus in­te­resses, em qual­quer parte do mundo e sob um qual­quer pre­texto.

A NATO bom­bar­deou a Ju­gos­lávia de 24 de Março a 10 de junho, tendo atin­gido par­ti­cu­lar­mente as infra-es­tru­turas bá­sicas deste país – in­cluindo de energia e abas­te­ci­mento de água, mas também es­ta­ções de te­le­visão ou a Em­bai­xada da China, em Bel­grado – cau­sando inú­meras ví­timas entre a po­pu­lação.

Re­corde-se que a agressão da NATO contou com o apoio do go­verno por­tu­guês – então di­ri­gido por An­tónio Gu­terres – e o en­vol­vi­mento das Forças Ar­madas Por­tu­guesas, em claro des­res­peito pela Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa e 25 anos de­pois da Re­vo­lução de Abril ter posto fim às guerras co­lo­niais e con­quis­tado a paz para o povo por­tu­guês.

Uma agressão que expôs toda a hi­po­crisia dos EUA, da NATO e da UE e que cons­ti­tuiu um grave e pe­ri­goso pre­ce­dente, com a cri­ação do pro­tec­to­rado da NATO no Ko­sovo – onde os EUA ins­ta­laram uma das suas mai­ores bases mi­li­tares –, e que foi pos­te­ri­or­mente re­co­nhe­cido pelo Go­verno por­tu­guês, di­ri­gido por José Só­crates.

Tal como hoje se ve­ri­fica na Eu­ropa, no Médio Ori­ente ou na Ásia-Pa­cí­fico, também há 25 anos a po­lí­tica de con­fron­tação e guerra dos EUA, da NATO e da UE foi re­a­li­zada a co­berto de uma ampla ope­ração de de­sin­for­mação e ma­ni­pu­lação, com que ten­taram es­ca­mo­tear a ver­dade, ocultar os reais e ina­cei­tá­veis ob­jec­tivos da sua acção be­li­cista e es­tig­ma­tizar, isolar e atacar aqueles que – como o PCP – de­fen­deram a paz e re­jei­taram a ins­ti­gação da con­fron­tação, da es­ca­lada ar­ma­men­tista e da guerra.

 



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