Confiança

Rui Braga (Membro do Secretariado)

Como sempre, com a co­ragem de sempre, os co­mu­nistas es­tarão na linha da frente

O Co­mité Cen­tral do PCP pro­cedeu, na sua úl­tima reu­nião, à aná­lise dos re­sul­tados das elei­ções para a As­sem­bleia da Re­pú­blica e do quadro po­lí­tico delas de­cor­rente. Apre­ciou ele­mentos da si­tu­ação na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal e apontou e es­ta­be­leceu li­nhas de acção, ini­ci­a­tiva po­lí­tica e de re­forço do Par­tido, para res­ponder às exi­gên­cias que se co­locam.

Sobre os re­sul­tados para as elei­ções à As­sem­bleia da Re­pú­blica, como se iden­ti­fica no co­mu­ni­cado do Co­mité Cen­tral saído dessa reu­nião, o re­sul­tado ob­tido pela CDU traduz um de­sen­vol­vi­mento ne­ga­tivo. Na cons­trução deste re­sul­tado – al­can­çado voto a voto – como também o co­mu­ni­cado do Co­mité Cen­tral sa­li­enta, pe­saram e avul­taram a hos­ti­li­zação, a me­no­ri­zação, a des­ca­rac­te­ri­zação, a fal­si­fi­cação das po­si­ções do PCP, o fa­vo­re­ci­mento e a pro­moção me­diá­tica de ou­tros, assim como a di­fusão, di­vul­gação e pro­moção de forças, ideias e con­cep­ções re­ac­ci­o­ná­rias.

Na­tu­ral­mente, este re­sul­tado saído das elei­ções de 10 de Março fra­gi­liza as nossas po­si­ções na As­sem­bleia da Re­pú­blica. Con­tudo, im­porta ter pre­sente que, tra­tando-se de um re­sul­tado ne­ga­tivo, não foi o re­sul­tado ne­ga­tivo onde al­guns nos que­riam co­locar. Para os mais de­sa­tentos con­virá aqui lem­brar que o que se anun­ciava era a «saída do PCP da As­sem­bleia da Re­pú­blica», tantas vezes va­ti­ci­nada por «co­men­ta­dores», «ana­listas» e ou­tros pseudo qual­quer coisa, todos eles «isentos», que hoje vão pro­li­fe­rando nos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial da nossa praça, também eles ditos «isentos».

O tempo que temos pela frente é tempo de luta
Os re­sul­tados ob­tidos pela CDU não nos animam, mas também não nos fazem de­sistir. De­sistir seria bai­xarmos os braços, dei­xarmos de lutar por re­ceio de sermos der­ro­tados, ca­pi­tu­larmos pe­rante os nossos ini­migos de classe, acei­tarmos que a sua força cale a nossa razão.

Para aqueles que ainda possam ter dú­vidas, 103 anos de his­tória mos­tram que essa nunca foi, não é, nem será a pos­tura deste Par­tido. Tal como afir­mámos na Con­fe­rência Na­ci­onal do Par­tido, re­a­li­zada em No­vembro de 2022, Tomar a ini­ci­a­tiva. Re­forçar o Par­tido. Res­ponder às novas exi­gên­cias, o tempo que temos pela frente é tempo de luta. Luta di­fícil, que exige a uni­dade de todo o Par­tido, a in­ter­venção in­tensa e de­ter­mi­nada de todo o co­lec­tivo par­ti­dário, a per­sis­tência na to­mada de me­didas vi­sando o re­forço or­gâ­nico e o re­forço da li­gação do Par­tido aos tra­ba­lha­dores e às po­pu­la­ções, aos seus pro­blemas, an­seios e rei­vin­di­ca­ções, mo­bi­li­zando e atraindo à luta todas as ca­madas e sec­tores da po­pu­lação fus­ti­gadas por dé­cadas de po­lí­tica de di­reita.

Luta di­fícil, que re­clama a pro­cura de ac­ções con­ver­gentes com todos os de­mo­cratas e pa­tri­otas – com par­ti­cular des­taque, desde já, para as co­me­mo­ra­ções po­pu­lares do 25 de Abril e do 1.º de Maio – que se opõem à mais do que certa linha po­lí­tica que o fu­turo go­verno vai pro­curar levar por di­ante, sem com isso di­luir e deixar de afirmar aquilo que é dis­tin­tivo no nosso pro­jecto po­lí­tico e ide­o­ló­gico e que é único na­quilo que dele re­sulta en­quanto pro­jecto trans­for­mador da so­ci­e­dade.

Como sempre, com a co­ragem de sempre, os co­mu­nistas es­tarão na linha da frente. Com de­ter­mi­nação, com con­fi­ança, na luta pela de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País, contra a po­lí­tica de di­reita e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, nesse exal­tante pro­jecto que é a edi­fi­cação de uma so­ci­e­dade mais justa e fra­terna, livre das amarras da ex­plo­ração.

O es­cor­pião e o sapo
O go­verno que agora se pre­para para tomar posse, e como diz o nosso povo, «antes de o ser já o era». Nos úl­timos dias, o PCP tem sido muito cri­ti­cado pela sua pre­ci­pi­tação, por não se co­nhecer ainda o Pro­grama de go­verno e já o PCP ter anun­ciado uma moção de re­jeição ao mesmo. Todos nós co­nhe­cemos a his­tória do es­cor­pião que pede ajuda ao sapo para atra­vessar o rio. No fim, o es­cor­pião acaba por ferrar o sapo, ar­gu­men­tando que é da sua na­tu­reza.

Com as de­vidas di­fe­renças, não é ne­ces­sário es­perar por pro­gramas nem or­ça­mentos para se saber qual o con­teúdo de classe da po­lí­tica que o fu­turo go­verno vai pra­ticar. Há coisas a que, aten­dendo à sua na­tu­reza, não pre­ci­samos de es­perar para saber o que aí vem.

 



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