Tantas histórias, quantas perguntas

Manuel Rodrigues

Em de­cla­ra­ções re­centes à agência Lusa, a mi­nistra He­lena Car­reiras de­ta­lhou a de­cisão to­mada pelo Con­selho de Mi­nis­tros de apoiar a Ucrânia com 100 mi­lhões de euros para mu­ni­ções de ar­ti­lharia de grande ca­libre, um pro­grama de aqui­sição con­junta li­de­rado pela Re­pú­blica Checa e ao qual se as­so­ciam vá­rios países mem­bros da NATO.

Ora, sendo certo que esta verba vai sair do Or­ça­mento do Es­tado, e apesar do go­verno estar de saída, per­gunta-se: de que ru­brica vão ser re­ti­rados estes 100 mi­lhões? Em vez da guerra, não po­de­riam e de­ve­riam estas verbas ser des­ti­nadas ao SNS, à Es­cola Pú­blica, ao in­ves­ti­mento na Ha­bi­tação, à re­so­lução dos múl­ti­plos e graves pro­blemas com que o povo por­tu­guês se vê con­fron­tado?

E, já agora, porque optou o Go­verno por uti­lizar di­nheiro para sa­tis­fazer a gula da in­dús­tria ar­ma­men­tista e pro­mover o pro­lon­ga­mento da guerra, com o seu rol de morte, so­fri­mento e des­truição, e não para de­fender e con­tri­buir para a aber­tura de vias de ne­go­ci­ação que levem à paz?

Con­viria ainda que o Go­verno ex­pli­casse porque as­sumiu o ali­nha­mento total com o Con­selho Eu­ropeu que, na sua reu­nião de 21 e 22 de Março, re­forçou o ca­minho que leva à guerra, ao de­cidir apro­fundar a dis­cussão sobre uma Es­tra­tégia In­dus­trial de De­fesa Eu­ro­peia, mu­dando o pa­ra­digma eco­nó­mico e pas­sando para um «modo de eco­nomia de guerra»?

Seria per­ti­nente que o Go­verno tor­nasse ainda claro: como é que num con­texto de guerra, que está sempre a in­vocar como a causa dos pro­blemas na­ci­o­nais, as for­tunas dos grupos eco­nó­micos te­nham cres­cido ver­ti­gi­no­sa­mente en­quanto a imensa mai­oria dos por­tu­gueses en­frenta o ele­vado custo de vida, risco da po­breza e ex­clusão so­cial?

É ur­gente que se ponha fim aos con­flitos mi­li­tares – na Ucrânia como também na Pa­les­tina ocu­pada ou em ou­tras partes do mundo – e, para isso, é de­ci­siva a luta dos povos, mas é também re­le­vante a pressão dos go­vernos. Que pre­tende, afinal, o Go­verno por­tu­guês, na sua cega sub­missão aos EUA, à NATO e à União Eu­ro­peia, ao juntar-se aos ins­ti­ga­dores da guerra, em vez de se ligar ao campo da paz, cum­prindo, assim, o que de­ter­mina a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa?

Ci­tando um co­nhe­cido poema de Brecht, «tantas his­tó­rias / quantas per­guntas».




Mais artigos de: Opinião

Confiança

O Comité Central do PCP procedeu, na sua última reunião, à análise dos resultados das eleições para a Assembleia da República e do quadro político delas decorrente. Apreciou elementos da situação nacional e internacional e apontou e estabeleceu linhas de acção, iniciativa política e de reforço do Partido, para responder...

Hipocrisias e obstinação militarista

O militarismo e a guerra é sempre sustentado pela mentira e manipulação e pela hipocrisia mais suja. Vem a reflexão a propósito de dois acontecimentos recentes. O primeiro foi a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU (CS) da Resolução 2728 sobre a situação na Palestina (Faixa de Gaza), que «exige um cessar-fogo...

Os investidores

«O sistema socioeconómico que o actual Governo de direita pretende restaurar será no essencial (se este processo se concluir) idêntico ao existente no tempo do fascismo. Digo o sistema socioeconómico. Não digo o regime político. Porque, nas condições actualmente existentes, o capitalismo monopolista, a ser concretizado,...

Sim, rejeitamos

A voz do dono, instalada nas cadeiras do comentário político, já decretou. O PCP decidiu avançar com uma Moção de Rejeição ao Programa do Governo, apenas para fazer prova de vida! Clama «a voz» contra a insensatez de o fazer antes de se conhecer o dito Programa. Grita «a voz» contra o dislate de o fazer antes de se...

É uma casa portuguesa com certeza

Os preços das casas subiram 8,2% em 2023, em cima dos 12,6% que já tinham subido em 2022. 13% das pessoas viviam em casas com mais gente do que deviam ter, tendo em conta as assoalhadas disponíveis. Eram 9,4% em 2022. Se olharmos para as crianças e jovens até aos 17 anos, são 21,8% a viver em casas sobrelotadas. 20,8%...