Urgência no aumento de salários motiva greves em empresas

Na multiplicidade de sectores e geografias, as empresas Faurecia Escapes, Alliance Healthcare, Medway, Intelcia, FCC em Marco de Canaveses, EDP e Ascenza Agro, tal como super e hipermercados, ou asminas de Neves-Corvo e da Panasqueira, estão com um ponto em comum: os seus trabalhadores decidiram recorrer à greve, nos últimos dias, para darem força à exigência de aumentos salariais mais justos.

Há todas as razões para exigir um aumento significativo dos salários

Num momento em que deveriam estar a vigorar as actualizações salariais anuais, estes são alguns dos casos em que os trabalhadores e os seus sindicatos não se conformam com as perdas perante a escalada do custo de vida e reclamam, junto das entidades patronais, valores superiores ao que estas aplicaram ou estão a defender na negociação.

Para hoje, dia 4, foi convocada greve, por 24 horas, na Ascenza Agro (antiga Sapec), em Setúbal. Pelas 8 horas, os trabalhadores concentram-se junto da portaria. Pelo agravamento do conflito, o SITE Sul responsabiliza a administração, porque se recusa a negociar o Caderno Reivindicativo, incluindo a actualização salarial. Mas também porque alterou os plafonds do seguro de saúde e desencadeou um despedimento colectivo.

A luta foi decidida em plenários, a 25 de Março, por larga maioria, uma vez que a veracidade dos argumentos patronais é colocada em dúvida por factos que o sindicato da FIEQUIMETAL/CGTP-IN assinalou, num comunicado aos trabalhadores. A empresa apresenta investimentos na unidade fabril e continua a ter níveis de produção consideráveis, com reflexos positivos nos lucros. E, logo a seguir a um despedimento colectivo, admite novas contratações.

Fica, assim, reforçada a convicção dos trabalhadores de que a Ascenza Agro tem condições para responder positivamente às suas justas reivindicações.

Com adesão total, fizeram greve, nos dias 30 de Março e 1 de Abril, os trabalhadores da FCC Environement, que asseguram a recolha de resíduos no concelho de Marco de Canaveses. A Direcção Regional do Porto do STAL/CGTP-IN declarou esperar que, «após esta demonstração de unidade e determinação dos trabalhadores», a empresa e a Câmara Municipal do Marco de Canaveses manifestem «uma abertura séria para a resolução dos problemas».

As reivindicações que levaram à luta, explicou o sindicato, numa nota de imprensa de dia 1, são de ordem geral (aumento de salários, em resposta ao agravamento do custo de vida, e elevação das condições de trabalho, redução da semana de trabalho para 35 horas), mas também se prendem com as condições em que trabalham. É o caso da atribuição do subsídio de insalubridade, penosidade e risco, da garantia de condições de Segurança e Saúde no Trabalho, dos exames médicos anuais obrigatórios e do reconhecimento das doenças profissionais. Deve ainda ser aberta negociação para pôr fim à discriminação entre trabalhadores e regularizar as situações de vínculos precários, quando os trabalhadores exercem funções que correspondem a necessidades permanentes.

Após a greve parcial de segunda-feira, dia 1, com concentrações no exterior das instalações da empresa, em Alverca e no Porto, a administração da Alliance Healthcare deveria promover a negociação com a comissão sindical (SITE CSRA e SITE Norte), de forma a corresponder às justas reivindicações dos trabalhadores. Isto poderia ter acontecido, antes da greve. Agora, os trabalhadores e os sindicatos analisarão a forma como esta luta se vai reflectir no comportamento patronal, para, em função disso, tomarem as decisões adequadas.

Com esta jornada, durante três horas, tal como fora decidido em plenários, a 12 e 13 de Março, os trabalhadores mostraram que não estão dispostos a perder mais poder de compra, o que decorre da actualização salarial de apenas três por cento, aplicada pela administração.

A greve de 28 de Março, na Medway (Grupo MSC) provocou a supressão de muitos comboios de mercadorias, assinalou a FECTRANS/CGTP-IN. «Apesar das manobras divisionistas da administração» da antiga CP Carga, «a maioria dos trabalhadores manteve-se unida e demonstrou o seu descontentamento», referiu a federação, dando ainda conta de que uma delegação sindical se concentrou à porta da sede da empresa.

Aqui foi reafirmado o conjunto das reivindicações que a federação e o seu Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário querem ver discutidas na reunião que a administração, na véspera da greve, marcou para 11 de Abril. «Teria sido mais útil a marcação desta reunião em tempo oportuno», reagiram as estruturas sindicais, acusando a administração de não ter percebido que «os trabalhadores, sem deixarem de reconhecer evoluções, consideram que as suas profissões não estão suficientemente valorizadas e que há outros importantes problemas por resolver».

Com a greve de 27 de Março, os trabalhadores da Intelcia que laboram na Altice, em regime de outsourcing, vieram exigir que seja aplicada a lei, assegurando-lhe direitos iguais, com a aplicação da contratação colectiva em vigor na MEO e outras empresas do grupo. À agência Lusa, um dirigente do SNTCT destacou os valores do salário e do subsídio de refeição. Daniel Negrão admitiu que possam vir a ser decididas novas paralisações. O sindicato da FECTRANS/CGTP-IN continua a defender que os trabalhadores de centros de contacto e outros serviços, que têm vínculo a prestadoras de serviços, devem ser integrados nos quadros da Altice.

A greve nas lojas Minipreço (Grupo DIA, adquirido pelo Auchan), a 27 de Março, provocou o encerramento de alguns estabelecimentos, em particular no distrito de Lisboa, como disse à agência Lusa um dirigente do CESP/CGTP-IN. Orlando Gonçalves referiu ainda que outras lojas funcionaram apenas numa parte do dia, porque só um trabalhador se apresentou ao serviço. No dia seguinte, fizeram greve os trabalhadores dos armazéns do DIA, em Torres Novas e Vialonga, também para exigir aumentos salariais de 150 euros.

Nessa manhã, o CESP promoveu concentrações junto das sedes do Continente, em Matosinhos, e do Pingo Doce, em Lisboa, como «empresas que alternam, entre si, a presidência e a vice-presidência da associação patronal APED». O sindicato insiste na revisão do contrato colectivo de trabalho, com aumento dos salários, mas sem perda de direitos. A APED pretende instituir a admissão de contratos com vínculo precário até 12 meses, para funções permanentes, bem como bancos de horas (até 150 horas de trabalho gratuito por ano) e salários muito próximos do mínimo nacional. No protesto, em Lisboa, participou o Secretário-Geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira.

A greve nas lojas Auchan no Algarve, dia 30 de Março, teve níveis de adesão de 50 a 60 por cento, com algumas secções a aderirem a 100 por cento.

Com a greve de 26 e 27 de Março, que provocou grandes perturbações em toda a laboração, os trabalhadores da Somincor demonstraram à administração que querem mesmo que as suas reivindicações sejam atendidas. A FIEQUIMETAL criticou as tentativas patronais de conter a luta e limitar os seus resultados e assinalou que o STIM (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira), os seus dirigentes e delegados e os trabalhadores não se deixaram intimidar.

Tiago Oliveira, Secretário-Geral da CGTP-IN, esteve em Neves-Corvo com o primeiro piquete de greve. Ao saudar a luta, frisou que há todas as razões para exigir um aumento significativo dos salários e que é plenamente justo reclamar da administração medidas para salvaguardar a vida, a saúde e a integridade física e psíquica dos mineiros.

Ao fim de dez dias de greves de três horas por turno, com muito elevada adesão, os trabalhadores da Beralt Tin & Wolfram Portugal, concessionária das Minas da Panasqueira, aceitaram a proposta de mais seis por cento, nos salários, e um euro, no subsídio de refeição. Um dirigente do STIM acusou a administração de chantagem, ao ameaçar com um lay-off, e salientou que a empresa tinha margem para satisfazer as reivindicações.

Em Bragança, a 27 de Março, os trabalhadores da Faurecia Sistemas de Escape fizeram greve, com grande adesão, e concentraram-se no exterior da fábrica, reivindicando aumentos salariais dignos e justos, em vez da actualização insuficiente que a administração pretende aplicar. Organizados no SITE Norte, receberam a solidariedade de uma delegação da Comissão Concelhia do PCP.

 

Protesto marcará assembleia da EDP

Um plenário geral de trabalhadores, a 25 de Março, reforçou a mobilização para a concentração que terá lugar no dia 10 de Abril, em Lisboa, junto da sede da EDP, no dia em que se reúne a Assembleia Geral de accionistas. Vai ser decidido subir os dividendos e aumentar em 15 por cento a remuneração dos membros da Administração e demais órgãos.

Desde Outubro, os trabalhadores da EDP travam uma batalha com a administração, pela valorização das suas carreiras profissionais.

Os sindicatos da FIEQUIMETAL na empresa (SITE Norte, SIESI, SITE Centro-Norte e SITE CSRA) salientaram, dia 1, que a greve ao trabalho extraordinário, em curso desde 1 de Dezembro, tem causado vários problemas no abastecimento eléctrico, como foi o caso, a 29 de Março, da falta de energia que afectou a fábrica da Bosch, em Ovar, bem como habitações e vários estabelecimentos.

Para os representantes dos trabalhadores, as falhas são da exclusiva responsabilidade da administração da EDP, que poderia facilmente resolver o conflito, mas apenas tem tomado decisões que aumentam os motivos de descontentamento.