A maior crise de fome do planeta

Carlos Lopes Pereira

Por todo o mundo, os povos acom­pa­nham, hor­ro­ri­zados, o ge­no­cídio per­pe­trado por Is­rael contra o povo pa­les­ti­niano, pe­rante a im­po­tência da «co­mu­ni­dade in­ter­na­ci­onal». E as­sistem com a mesma cons­ter­nação à guerra na Ucrânia, que opõe a Rússia ao «Oci­dente alar­gado» – os EUA, a NATO, a União Eu­ro­peia e ou­tros ali­ados.

Ambos os con­flitos, com de­zenas de mi­lhares de ví­timas e uma co­lossal des­truição de bens, que correm o risco de alas­trar, um por todo o Médio Ori­ente e outro pela Eu­ropa e mesmo à es­cala global, travam-se também no plano co­mu­ni­ca­ci­onal. Mo­no­po­lizam a atenção dos grandes meios de in­for­mação e mar­gi­na­lizam ou si­len­ciam ou­tras guerras mor­tí­feras.

Em África, uma das tra­gé­dias es­que­cidas é a do Sudão, no co­ração do con­ti­nente.

Na se­mana pas­sada, o Pro­grama Mun­dial de Ali­mentos (PMA), uma agência das Na­ções Unidas, pediu mais apoio às suas ope­ra­ções na­quele país, face ao pe­rigo de ali eclodir «a maior crise de fome do pla­neta». E re­velou que con­si­dera o Sudão numa si­tu­ação de fome e des­nu­trição ge­ne­ra­li­zadas, com mi­lhões de pes­soas a viver os hor­rores diá­rios de uma cruel guerra civil.

De acordo com a ONU, 18 mi­lhões de su­da­neses so­frem de in­su­fi­ci­ência ali­mentar aguda, nú­mero que quase tri­plicou desde 2019, e cinco mi­lhões de pes­soas vivem com ní­veis de fome de emer­gência.

«O mundo não pode afirmar que não sabe quão grave é a si­tu­ação no Sudão ou que des­co­nhece que são ne­ces­sá­rias me­didas ur­gentes para evitar um ce­nário de pe­sa­delo», alertam res­pon­sá­veis do PMA.

A agência con­si­dera «alar­mante» a vi­o­lência ac­tual, que cons­titui o prin­cipal obs­tá­culo para fazer chegar ajuda aos mais ca­rentes – cri­anças, mu­lheres, idosos. Cal­cula que 90 por cento das po­pu­la­ções que vivem em con­di­ções de emer­gência en­con­tram-se em zonas de acesso li­mi­tado de­vido aos in­tensos com­bates entre as duas fac­ções em con­fronto. Em suma, «a si­tu­ação já é ca­tas­tró­fica e tem po­ten­cial para pi­orar, a menos que o apoio chegue a todos os afec­tados pelo con­flito».

Para os civis, as con­di­ções agra­varam-se desde a ex­pansão dos com­bates à ci­dade de El Fasher, ca­pital da re­gião de Darfur do Norte, um bas­tião das forças ar­madas su­da­nesas que per­ma­nece cer­cado pelos seus ad­ver­sá­rios das Forças de Apoio Rá­pido (FAR).

A ONU es­tima que 1,8 mi­lhões de re­si­dentes e des­lo­cados estão cer­cados na ci­dade «em risco imi­nente de fome». Qual­quer nova es­ca­lada «teria um im­pacto ca­tas­tró­fico para os civis e apro­fun­daria o con­flito entre co­mu­ni­dades, com con­sequên­cias hu­ma­ni­tá­rias de­sas­trosas».

El Fasher é a única zona no Darfur que não é con­tro­lada to­tal­mente pelas FAR. Além disso, é re­fúgio de cen­tenas de mi­lhares de des­lo­cados in­ternos, in­cluindo so­bre­vi­ventes de ata­ques an­te­ri­ores que pro­cu­raram re­fúgio na área.

Esta se­mana, a ONU de­nun­ciou que as FAR ata­caram e as­sal­taram um im­por­tante hos­pital em Darfur, o único na zona, se­gundo a Or­ga­ni­zação Mun­dial da Saúde, com ca­pa­ci­dade para efec­tuar ope­ra­ções ci­rúr­gicas.

Desde me­ados de Abril de 2023, o Sudão afunda-se numa guerra in­terna pelo poder entre o chefe das forças ar­madas, ge­neral Abdel Fatah al-Burhan, e o líder das FAR, Mohamed Hamdan Daglo, ou­trora ali­ados. Cal­cula-se que este con­flito tenha cau­sado já a morte de mi­lhares de civis, 15 mil dos quais apenas na re­gião do Darfur Oci­dental.

 



Mais artigos de: Internacional

Para lá das promessas importa parar o massacre

A re­so­lução apro­vada na se­gunda-feira, 10, pelo Con­selho de Se­gu­rança das Na­ções Unidas, para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, acom­panha ou­tros es­forços em curso mas pode não ser dado o his­to­rial de in­cum­pri­mento do di­reito in­ter­na­ci­onal por parte de Is­rael.

ANC promove diálogo com vista a solução governativa

O Con­gresso Na­ci­onal Afri­cano (ANC) está a de­bater com ou­tras forças po­lí­ticas a for­mação de um go­verno de uni­dade na­ci­onal na África do Sul, tendo em conta o quadro po­lí­tico re­sul­tante das elei­ções de 29 de Maio no país.

Reforma Agrária avança na Colômbia

O governo da Colômbia entregou a camponeses, na passada semana, cerca de oito mil hectares de terra, de acordo com dados disponibilizados em Bogotá pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural. A mais recente entrega de terras teve lugar em Aguachica, no departamento de Cesar (nordeste do país) e em San Juan...