A voz que o povo levanta

João Oliveira (Membro da Comissão Política)

Cada voto na CDU foi ex­pressão de co­ragem e de re­sis­tência ao pre­con­ceito

Havia quem qui­sesse ver a CDU de­sa­pa­recer do Par­la­mento Eu­ropeu e foi grande o in­ves­ti­mento feito nesse ob­jec­tivo. Tra­vámos uma ba­talha muito di­fícil mas con­se­guimos dar a volta ao des­tino que esses in­te­resses nos ti­nham tra­çado. Para isso con­tri­buiu a grande cam­panha elei­toral da CDU, cons­truída por mi­lhares de ac­ti­vistas, fa­zendo um in­tenso tra­balho de mo­bi­li­zação para o voto, mas também de aber­tura de cons­ci­ên­cias para as di­versas lutas que temos pela frente.

A cam­panha elei­toral mos­trou o ca­rácter dis­tin­tivo e de­ci­sivo de CDU, in­cluindo na forma como trouxe à dis­cussão ques­tões que, de outra forma, te­riam fi­cado au­sentes. Foi assim na afir­mação da luta pela paz como uma das ques­tões ur­gentes e de­ci­sivas do nosso tempo. Foi assim na afir­mação da de­fesa da nossa so­be­rania como ele­mento in­dis­pen­sável a uma po­lí­tica de de­sen­vol­vi­mento na­ci­onal e de res­posta às ne­ces­si­dades do povo. Foi também assim na mar­cação das di­fe­renças entre os de­pu­tados da CDU, que cum­prem os seus com­pro­missos de­fen­dendo o povo e o País no Par­la­mento Eu­ropeu, em con­traste com quem ra­pi­da­mente se es­quece dos com­pro­missos que pro­clamou e se po­si­ciona como de­fensor da UE em Por­tugal, mesmo que em pre­juízo do povo e dos in­te­resses na­ci­o­nais. Foi assim ainda na afir­mação dis­tin­tiva de quem luta pela de­mo­cracia en­ten­dendo-a nas suas múl­ti­plas di­men­sões po­lí­tica, eco­nó­mica, so­cial e cul­tural, in­te­grando nela a luta por me­lhores sa­lá­rios e re­formas, pelo di­reito à saúde, à edu­cação, à ha­bi­tação, pela igual­dade e contra todas as formas de dis­cri­mi­nação.

Co­ragem e re­sis­tência
O re­sul­tado da CDU não cor­res­ponde ao re­forço que seria ne­ces­sário para que a de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e de Por­tugal ti­vesse maior força e ex­pressão no Par­la­mento Eu­ropeu. Não ig­no­rando isso, há que va­lo­rizar a opção feita por mais de 162 mil elei­tores que as­su­miram o seu voto na CDU, in­cluindo muita gente que votou na CDU pela pri­meira vez. Cada um desses votos é uma ex­pressão de co­ragem e de re­sis­tência ao pre­con­ceito, à ma­ni­pu­lação, à de­tur­pação e até à ca­lúnia que foram uti­li­zadas como armas contra a CDU, no quadro de uma pro­lon­gada cam­panha an­ti­co­mu­nista.

A eleição de um de­pu­tado da lista da CDU é, por tudo isso, um facto im­por­tante para o povo e o País. Essa eleição ga­rante que se fará ouvir no Par­la­mento Eu­ropeu uma voz em de­fesa do povo e dos in­te­resses na­ci­o­nais, uma voz em de­fesa de uma Eu­ropa de paz, co­o­pe­ração e pro­gresso so­cial.

Uma voz ainda mais ne­ces­sária tendo em conta a com­po­sição global do Par­la­mento Eu­ropeu saída destas elei­ções. Mantém-se a in­fluência das forças po­lí­ticas que têm con­du­zido o pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ropeu, de­ter­mi­nado o agra­va­mento das po­lí­ticas ne­o­li­be­rais, mi­li­ta­ristas e fe­de­ra­listas da UE e acen­tuado o seu ca­rácter be­li­cista e re­a­ci­o­nário. Acen­tuam-se pre­o­cu­pa­ções e riscos de ainda mai­ores re­tro­cessos de­mo­crá­ticos, de ata­ques a di­reitos e li­ber­dades, de in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração, de des­res­peito pela so­be­rania, de pro­moção da guerra, de fo­mento de con­cep­ções re­ac­ci­o­ná­rias e an­ti­de­mo­crá­ticas, em par­ti­cular pelo ali­nha­mento e in­cor­po­ração na UE de forças de ex­trema-di­reita que têm be­ne­fi­ciado de ampla pro­moção por parte do grande ca­pital.

Cum­prir com­pro­missos
A ta­refa não é de pouca monta mas do que se trata agora é de dar cum­pri­mento ao com­pro­misso as­su­mido com o povo e o País.

Trata-se de in­tervir pela de­fesa e apro­fun­da­mento dos di­reitos so­ciais e la­bo­rais, no­me­a­da­mente pro­pondo a ela­bo­ração de um Pacto de Pro­gresso So­cial e pelo Em­prego. De lutar por uma po­lí­tica de de­sen­vol­vi­mento e so­be­rania, in­cluindo o re­forço do or­ça­mento da UE (e dos fundos des­ti­nados a Por­tugal). De lutar pela igual­dade, a li­ber­dade e a de­mo­cracia, in­te­grando nessa luta a de­fesa de uma Eu­ropa de co­o­pe­ração entre Es­tados so­be­ranos e iguais em di­reitos. De de­fender a sus­ten­ta­bi­li­dade eco­ló­gica, mi­ti­gação e adap­tação às al­te­ra­ções cli­má­ticas, lu­tando pela de­fi­nição de po­lí­ticas que te­nham por ob­jec­tivo a pro­moção de uma re­lação sus­ten­tável e har­mo­niosa entre o ser hu­mano e a Na­tu­reza e re­jei­tando a mer­can­ti­li­zação do am­bi­ente. De lutar por uma Eu­ropa de paz, so­li­da­ri­e­dade e co­o­pe­ração com todos os povos.

Cá con­ti­nu­a­remos, firmes e de­ter­mi­nados nas lutas que temos pela frente!



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