A paz com quem?

João Frazão

Ma­riana Mor­tágua, numa das ac­ções da cam­panha do BE ao Par­la­mento Eu­ropeu, quis des­mentir a afir­mação do pre­si­dente da IL de que aquela força que­reria «uma paz ne­go­ciada com a Rússia».

A di­ri­gente blo­quista quis ser muito clara. O BE nunca de­fendeu «uma paz ne­go­ciada com a Rússia». Antes pelo con­trário.

Ou­vindo isto, ima­gina-se que o BE es­teja muito sa­tis­feito com os re­sul­tados da Ci­meira de Paz, re­a­li­zada este fim-de-se­mana na Suíça, em que para além do na­tural papel da Ucrânia, todo o des­taque foi dado a três ou­tros in­ter­ve­ni­entes na guerra, EUA, NATO e UE, e da qual, no fun­da­mental, para além da re­a­fir­mação dos apoios ao con­ti­nuar da guerra, de­sig­na­da­mente pela emi­nência do envio de aviões para a pro­longar, re­sultou uma mão cheia de nada e outra de coisa ne­nhuma.

Mas se não se ne­go­ceia a paz com a Rússia, ne­go­ceia-se com quem? De que serve um mo­nó­logo que ex­clui um dos prin­ci­pais con­ten­dores? Se se ex­clui uma das partes, não quer isso dizer que se pensa que se pode con­se­guir a sua ca­pi­tu­lação ou uma vi­tória mi­litar sobre ela?

Ora, se as ques­tões que se co­locam são sim­ples, as res­postas são mais com­pli­cadas e ficam ainda mais dis­tantes quando se per­cebe que as luzes do es­pec­tá­culo mon­tado nos Alpes servem para pouco mais que es­conder ca­mi­nhos que a hu­ma­ni­dade vem re­jei­tando cres­cen­te­mente.

No dia se­guinte ao cair do pano da­quele des­filar de vai­dades, apesar do Pre­si­dente da Re­pú­blica Por­tu­guesa sen­ten­ciar o su­cesso da Ci­meira, a dura re­a­li­dade impõe-se: a guerra que nunca devia ter co­me­çado pros­segue, as bombas voltam a re­bentar, con­ti­nuam as mortes, a des­truição, o de­ses­pero das po­pu­la­ções.

É nestas al­turas que con­fir­mamos a ir­re­pre­en­sível po­sição de de­fesa da paz as­su­mida desde sempre pelo PCP, que, por exemplo, em Se­tembro de 2022, as­sumia na reu­nião do seu Co­mité Cen­tral que «é ur­gente que os EUA, a NATO e a UE cessem de ins­tigar e ali­mentar a guerra na Ucrânia e que se abram vias de ne­go­ci­ação com os de­mais in­ter­ve­ni­entes, no­me­a­da­mente a Fe­de­ração Russa, vi­sando al­cançar uma so­lução po­lí­tica, a res­posta aos pro­blemas de se­gu­rança co­lec­tiva e do de­sar­ma­mento na Eu­ropa, o cum­pri­mento dos prin­cí­pios da Carta da ONU e da Acta Final da Con­fe­rência de Hel­sín­quia».

Mas disto eles não querem mesmo falar.

 



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