Natureza: exploração ou recuperação?

Sandra Pereira

Na se­mana pas­sada, os mi­nis­tros do Am­bi­ente dos 27 Es­tados-Mem­bros da UE apro­varam, por mai­oria qua­li­fi­cada, o Re­gu­la­mento «Res­tauro da Na­tu­reza». A partir da pro­posta que a Co­missão Eu­ro­peia apre­sentou em Junho de 2022, este po­lé­mico re­gu­la­mento foi al­te­rado pelo Par­la­mento Eu­ropeu (PE), que o aprovou com uma margem re­du­zida em Julho de 2023. O Con­selho foi adi­ando a sua po­sição, que tinha a re­pro­vação anun­ciada, até agora, mo­mento em que países como Por­tugal e a Áus­tria pas­saram a dar luz verde ao texto pro­posto. Não deixa de ser sur­pre­en­dente que, há um ano, o PSD e o CDS te­nham vo­tado contra o re­gu­la­mento e que, agora no Go­verno, pas­saram a aprovar até porque, pelo que se co­nhece do texto, não houve al­te­ra­ções assim tão sig­ni­fi­cantes.

Este re­gu­la­mento prevê o res­tauro de ecos­sis­temas de­gra­dados, de­ter­mi­nando metas de re­cu­pe­ração de, pelo menos 20 por cento das áreas ter­res­tres e, pelo menos, 20 por cento das áreas ma­ri­nhas até 2030 e de 90 por cento até 2050 de todos os ecos­sis­temas que ne­ces­sitam de res­tauro.

Para o PCP, pro­mover a re­cu­pe­ração de ha­bi­tats e a bi­o­di­ver­si­dade não se pode li­mitar ao es­ta­be­le­ci­mento de metas a al­cançar. É ne­ces­sária uma co­e­rência entre ob­jec­tivos a al­cançar e os meios de­fi­nidos para os al­cançar, assim como entre esses ob­jec­tivos e as po­lí­ticas que se im­ple­mentam em va­ri­ados do­mí­nios: agri­cul­tura, gestão flo­restal, co­mércio, energia, entre ou­tros. Nesse sen­tido, apre­sen­támos pro­postas para o re­forço das do­ta­ções fi­nan­ceiras de ins­tru­mentos que visem conter e re­verter a perda de bi­o­di­ver­si­dade, a perda e de­gra­dação de ha­bi­tats na­tu­rais e semi-na­tu­rais, como o pro­grama Life ou a gestão de áreas in­te­gradas na Rede Na­tura 2000. Os que agora se dizem pre­o­cu­pados com a res­tau­ração da na­tu­reza vo­taram contra!

Temos de­nun­ciado que a de­gra­dação dos ecos­sis­temas é in­dis­so­ciável de dé­cadas de po­lí­ticas, que con­ti­nuam em curso, de ex­plo­ração de­sen­freada da Na­tu­reza, em função dos grandes in­te­resses eco­nó­micos, em de­tri­mento da pro­dução de pe­quena e média es­cala e da ocu­pação equi­li­brada e va­lo­ri­zação do ter­ri­tório.

A re­cu­pe­ração de ecos­sis­temas ca­rece de uma pro­funda mu­dança do pa­ra­digma pro­du­tivo, que res­ponda aos in­te­resses do País, pro­mova e apoie os pe­quenos e mé­dios pro­du­tores, a pro­dução tra­di­ci­onal, a va­lo­ri­zação de es­pé­cies au­tóc­tones.

E como não se fazem ome­letes sem ovos, é fun­da­mental que, no plano na­ci­onal, se re­force as verbas para a con­ser­vação da na­tu­reza e dos cor­res­pon­dentes meios hu­manos e ma­te­riais das au­to­ri­dades com­pe­tentes, para uma gestão ac­tiva do ter­ri­tório, que se re­jeite a mer­can­ti­li­zação e pri­va­ti­zação da na­tu­reza, a que fre­quen­te­mente se as­socia uma dita «fis­ca­li­dade verde». Que se ga­ranta o en­vol­vi­mento das po­pu­la­ções e das or­ga­ni­za­ções de pro­du­tores na ela­bo­ração das po­lí­ticas.

 



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