Médicos em greve exigem valorização já no OE 2025

Com a forte adesão à greve de dois dias, os mé­dicos re­for­çaram a exi­gência de «ne­go­ci­ação séria e com­pe­tente», para que as gre­lhas sa­la­riais possam constar no Or­ça­mento do Es­tado do pró­ximo ano.

Para de­fender o SNS é fun­da­mental va­lo­rizar os seus pro­fis­si­o­nais

A greve, ini­ciada an­te­ontem, dia 23, foi con­vo­cada pela Fe­de­ração Na­ci­onal dos Mé­dicos (FNAM) e os seus sin­di­catos. Du­rante a manhã, re­a­li­zaram-se con­cen­tra­ções de mé­dicos e di­ri­gentes sin­di­cais no Porto (junto do Hos­pital de Santo An­tónio), em Coimbra (Hos­pital Geral dos Co­vões) e Lisboa (Hos­pital de Santa Maria, onde es­teve também o co­or­de­nador da Frente Comum de Sin­di­catos da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, Se­bas­tião San­tana), bem como nas re­giões au­tó­nomas dos Açores e da Ma­deira.

Está ainda con­vo­cada uma greve ao tra­balho su­ple­mentar, nos cui­dados de saúde pri­má­rios, que de­corre até ao fim de Agosto.

Ao final da tarde, a FNAM con­firmou que a greve, na terça-feira, teve uma adesão média de 70 por cento.

Con­di­ções dignas e sa­lá­rios justos
Ao in­tervir du­rante a con­cen­tração no Porto, onde foram gri­tadas pa­la­vras de ordem como «o povo me­rece o SNS», «mé­dico mo­ti­vado, SNS as­se­gu­rado» e «35 horas para todos, sem de­moras», a pre­si­dente da FNAM frisou que «que­remos ne­go­ciar se­ri­a­mente, que­remos con­di­ções dignas e sa­lá­rios que sejam justos».

«Nós não que­remos co­meçar a dis­cussão das gre­lhas sa­la­riais apenas em 2025, para vi­go­rarem em 2026», pre­cisou Joana Bor­dalo e Sá, su­bli­nhando que «a dis­cussão tem de ser agora», para que o re­sul­tado possa ser ins­crito no OE de 2025.

Saudou «utentes, es­tu­dantes e mé­dicos de todas as ge­ra­ções, juntos em de­fesa do SNS», e cri­ticou o «total de­sin­ves­ti­mento no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, nas úl­timas dé­cadas». É de­vido a este «de­sin­ves­ti­mento, no sen­tido do des­man­te­la­mento do SNS», que «não estão ga­ran­tidas con­di­ções dignas para os utentes, os do­entes, os mé­dicos e todos os pro­fis­si­o­nais de saúde».

Os mé­dicos por­tu­gueses, en­fa­tizou Joana Bor­dalo e Sá, são «dos mais mal pagos a nível eu­ropeu» e têm sen­tido os efeitos de «po­lí­ticas que as­sentam so­bre­tudo no tra­balho ex­tra­or­di­nário, in­cen­tivos pon­tuais, su­ple­mentos em troca de mais e mais tra­balho». Além disso, «con­ti­nuam a ser os únicos pro­fis­si­o­nais, de toda a Ad­mi­nis­tração Pú­blica, que tra­ba­lham 40 horas por se­mana», acres­cendo «todo o tra­balho ex­tra­or­di­nário que somos obri­gados a fazer».

A di­ri­gente re­alçou que este rumo «leva à exaustão de todos, dos es­pe­ci­a­listas e dos in­ternos», mé­dicos em início de car­reira, que re­pre­sentam um terço da força de tra­balho mé­dica. Desses cerca de dez mil mé­dicos in­ternos, acen­tuou, «um quarto está em bur­nout e 55 por cento está em risco grave de bur­nout».

«Que es­pe­rança podem ter os jo­vens mé­dicos com este tipo de po­lí­ticas de Saúde?», in­ter­rogou Joana Bor­dalo e Sá, lem­brando que «mé­dicos in­ternos, que aca­baram a for­mação em Março, ainda não estão co­lo­cados».


Apoio e so­li­da­ri­e­dade do PCP

Em Lisboa, o Se­cre­tário-Geral do PCP ex­pressou so­li­da­ri­e­dade para com «esta mais que jus­tís­sima acção da FNAM» e a luta dos mé­dicos.

Paulo Rai­mundo, acom­pa­nhado por Mar­ga­rida Bo­telho, do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral, e Ber­nar­dino So­ares, do CC, res­pondeu a per­guntas dos jor­na­listas, du­rante a con­cen­tração, na prin­cipal en­trada do Hos­pital de Santa Maria. Con­si­derou que «não é di­fícil re­solver o pro­blema do SNS, não há é von­tade po­lí­tica para isso». A von­tade po­lí­tica do Go­verno, acusou, «é para des­man­telar o SNS, criar todas as con­di­ções para que os mé­dicos se afastem do SNS e vão en­cher o ne­gócio da do­ença».

Trata-se de «op­ções que já vi­nham do go­verno an­te­rior e que per­sistem e acen­tuam-se neste», como ficou pa­tente no Pro­grama do Go­verno e no «plano de emer­gência para a Saúde». Para o PCP, este é «um plano de ga­rantia de re­cursos para aqueles que fazem da do­ença um ne­gócio». «En­quanto isso, estes pro­fis­si­o­nais – gente de­di­ca­dís­sima, que veste a ca­mi­sola do SNS, faz tudo o que está ao seu al­cance, trata os utentes como se fossem seus fa­mi­li­ares, com uma de­di­cação ex­tra­or­di­nária – são des­va­lo­ri­zados, são des­res­pei­tados», pro­testou o di­ri­gente co­mu­nista.

Também no Porto e em Coimbra, es­ti­veram de­le­ga­ções do PCP, que sau­daram a luta dos mé­dicos. Me­receu igual­mente apoio, em Coimbra, a pre­sença de mo­vi­mentos de utentes, rei­vin­di­cando a aber­tura da Ur­gência do Hos­pital Geral, no pe­ríodo noc­turno.

 



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