Bruno Pernadas

«Fiquei maravilhado com a dimensão e oferta musical da Festa do Avante!»

Com­po­sitor, gui­tar­rista, multi-ins­tru­men­tista, pro­dutor. São muitas as formas de des­crever Bruno Per­nadas, que re­gressou há pouco de uma ex­tra­or­di­nária di­gressão pelo Brasil. Em Se­tembro, volta à Festa do Avante!, onde já antes es­teve, como mú­sico e, desde jovem, como par­ti­ci­pante. Da pri­meira vez que lá foi, nos anos 90, re­corda como ficou «ma­ra­vi­lhado com a di­mensão, oferta mu­sical e com a mul­ti­cul­tu­ra­li­dade tão bem re­pre­sen­tada a nível ar­tís­tico».

“é ma­ra­vi­lhoso as­sistir à de­di­cação de todas as pes­soas en­vol­vidas na Festa”

O ano pas­sado o Bruno Per­nadas subiu ao Palco 25 de Abril para re­ceber os aplausos pela com­po­sição de O Go­verno do Povo, uma peça feita para as ce­le­bra­ções ofi­ciais da Re­vo­lução e que foi in­ter­pre­tada no con­certo sin­fó­nico que ce­le­brou os 50 anos dessa con­quista. Este ano volta à Festa do Avante! para li­derar um es­pec­tá­culo que passa pela in­ter­pre­tação de temas seus. Em qual das duas si­tu­a­ções se sente mais à von­tade?

Foi uma sen­sação fan­tás­tica ouvir a Or­questra Sin­fo­ni­etta com o coro Cantat in­ter­pretar a minha peça, bem como o res­tante re­per­tório. Foi um mo­mento de grande ale­gria, mais uma vez obri­gado pelo con­vite. Em re­lação à sua per­gunta, devo dizer que ambas as si­tu­a­ções re­pre­sentam vá­rios de­sa­fios, no caso do meu en­semble talvez seja um pouco mais sim­ples a co­mu­ni­cação e a re­so­lução de algum pro­blema que possa surgir.

No es­pec­tá­culo deste ano vai tocar mú­sicas suas gra­vadas na úl­tima dé­cada, que mos­tram es­tilos mu­si­cais muito di­fe­rentes como, ci­tando o seu web­site, «jazz, pop da era es­pa­cial, folk, world music e elec­tró­nica». Esta va­ri­e­dade não é muito ha­bi­tual na cons­trução de uma car­reira ar­tís­tica com su­cesso e ge­ne­ra­li­zado aplauso da crí­tica, como é a do Bruno. Esta ex­cep­ci­o­na­li­dade, esta di­ver­si­dade mu­sical foi in­ten­ci­onal ou ca­sual? Como é que foi cons­truída?

Muito obri­gado. No fundo, está muito re­la­ci­o­nado com toda a mú­sica que ouço e com os com­po­si­tores que ad­miro, uma vez que de uma forma ge­né­rica é bas­tante eclé­tica. Quando co­mecei o meu per­curso mu­sical pen­sava pouco na car­reira a longo prazo, e fiz es­co­lhas das quais me ar­re­pendo hoje em dia, mas nada de muito grave. Por­tanto, posso res­ponder que foi ca­sual.

Quando re­pega em com­po­si­ções feitas há muitos anos e as mis­tura com com­po­si­ções ac­tuais, re­co­nhece co­e­rência nesse per­curso ou olha para trás e pensa «se fosse agora tinha feito isto de outra ma­neira»?

Talvez pe­quenos de­ta­lhes mas, de forma geral, re­co­nheço essa co­e­rência e res­peito a ho­nes­ti­dade da com­po­sição. Ainda há uma se­mana in­ter­pretei temas ori­gi­nais meus de 2012/​13 e soou tudo bem. É en­gra­çado per­ceber como é que o sen­tido cri­a­tivo fun­ci­o­nava na­quela al­tura, as pe­quenas re­so­lu­ções, as ideias me­ló­dicas, etc.

Este ano fez uma tour pelo Brasil du­rante o mês de Maio, de­pois de em Por­tugal ter dado uma série de es­pec­tá­culos de ce­le­bração dos 10 anos do seu pri­meiro álbum. Como é que tudo isso correu? Como é que os bra­si­leiros o re­ce­beram?

As apre­sen­ta­ções da ce­le­bração dos 10 anos de how can we be joyful in a world full of kno­wledge cor­reram muito bem, o es­pec­tá­culo es­gotou al­gumas salas que eu não es­tava à es­pera, o ba­lanço foi muito po­si­tivo e foi bom re­cordar o ali­nha­mento sem in­ter­rup­ções tal qual a ordem do disco. Também houve tempo para criar novos ar­ranjos pro­po­si­tados para esta di­gressão, bem como pre­parar um es­pec­tá­culo com luz e vídeo, como nunca tinha tido opor­tu­ni­dade de o fazer.

O pú­blico bra­si­leiro sempre se mos­trou muito en­tu­si­asta e cu­rioso em re­lação à minha mú­sica, por­tanto esta tour tinha de acon­tecer um dia. De­morou muito mais tempo do que es­tava à es­pera, por falta de apoios a di­gres­sões in­ter­na­ci­o­nais, mas fi­nal­mente con­se­guimos. To­cámos no Rio de Ja­neiro e em São Paulo, com imenso pú­blico, pú­blico esse que re­agiu de forma muito emo­ci­onal e eu­fó­rica com uma energia con­ta­gi­ante, ma­ra­vi­lhoso mesmo. Ficou a faltar o con­certo do Ins­ti­tuto Ling, em Porto Alegre, que foi can­ce­lado de­vido à triste ca­tás­trofe am­bi­ental que acon­teceu no es­tado do Rio Grande do Sul. Fica para uma pró­xima opor­tu­ni­dade.

Outra fa­ceta da sua car­reira é a da com­po­sição para ci­nema, te­atro e dança. É mais di­fícil compor para um en­redo ou para um ar­gu­mento?

De­pende do re­a­li­zador, dra­ma­turgo ou en­ce­nador, quando a co­mu­ni­cação é ho­nesta e clara, ambas as partes res­peitam o pro­cesso cri­a­tivo e a com­po­sição, nor­mal­mente corre bem.

Que opi­nião formou sobre o papel cul­tural da Festa do Avante! no nosso país, cujo pro­grama ao longo dos anos tem uma ca­rac­te­rís­tica comum com a car­reira do Bruno: o tra­balho com uma grande di­ver­si­dade de es­tilos mu­si­cais e com di­fe­rentes formas de arte?

Co­mecei a fre­quentar a Festa do Avante! na ado­les­cência, e lembro-me per­fei­ta­mente da pri­meira vez que es­tive pre­sente, ainda na dé­cada de 90. Fi­quei ma­ra­vi­lhado com a di­mensão, oferta mu­sical e com a mul­ti­cul­tu­ra­li­dade tão bem re­pre­sen­tada a nível ar­tís­tico. De­pois é ma­ra­vi­lhoso as­sistir à de­di­cação de todas as pes­soas en­vol­vidas, in­cluindo os vo­lun­tá­rios que todos os anos se pro­põem em in­vestir de forma pes­soal e emo­ci­onal de modo a ga­rantir o su­cesso da Festa do Avante!.

 



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