Paris e Kiev querem desestabilizar Sahel

Carlos Lopes Pereira

Níger, Mali e Bur­kina Faso vão ad­quirir à Rússia sa­té­lites para me­lhor com­bater o ter­ro­rismo e pro­mover a paz e o de­sen­vol­vi­mento na re­gião. Os três países afri­canos cons­ti­tuíram em 2023 a Ali­ança dos Es­tados do Sahel (AES), um pacto de de­fesa co­lec­tiva.

A aqui­sição dos equi­pa­mentos foi acor­dada entre as au­to­ri­dades de Ni­amei, Ba­maco e Ua­ga­dugu, por um lado, e a em­presa Glav­kosmos, li­gada à agência es­pa­cial russa Ros­comos, por outro. São três sa­té­lites, um para co­mu­ni­ca­ções, outro para te­le­de­tecção e um ter­ceiro para radar de de­fesa e se­gu­rança. Se­gundo o go­verno ni­ge­rino, o acordo con­templa fa­brico do ma­te­rial, for­mação de ges­tores dos equi­pa­mentos e ins­ta­lação de um centro de co­mando num dos países da AES. No final do pro­jecto, que se en­quadra na po­lí­tica de re­forço da so­be­rania desses Es­tados sahe­li­anos, Níger, Mali e Bur­kina Faso po­derão gerir os sa­té­lites como en­ten­derem.

Este é um acordo que de­sa­grada a França, que viu nos úl­timos tempos as suas tropas ex­pe­di­ci­o­ná­rias e as de ali­ados como os Es­tados Unidos da Amé­rica ex­pulsas pelos go­vernos do Níger, Mali e Bur­kina Faso. Os afri­canos acu­saram os mi­li­tares fran­ceses de pouco fazer para com­bater o ter­ro­rismo no Sahel e de, em al­guns casos, con­luiar-se com grupos li­gados à Al-Qaida e ao «Es­tado Is­lâ­mico» a operar na zona.

Não sur­pre­endem, pois, as re­centes no­tí­cias de que França e Ucrânia estão a re­a­lizar ope­ra­ções «en­co­bertas», so­bre­tudo no Mali, para fra­gi­lizar a AES e de­ses­ta­bi­lizar a re­gião do Sahel.

O canal te­le­vi­sivo árabe Al Maya­deen, com sede em Bei­rute, no­ti­ciou que, pe­rante as cres­centes re­la­ções de co­o­pe­ração entre a Rússia e os países afri­canos, forças es­pe­ciais ucra­ni­anas e fran­cesas es­ta­riam a apoiar grupos se­pa­ra­tistas e ou­tros li­gados à Al-Qaida no Sahel, em ata­ques contra civis e bases mi­li­tares dos mem­bros da AES.

Se­gundo o meio li­banês, a Ucrânia re­co­nheceu ter mi­nis­trado treino e for­ne­cido in­for­ma­ções, armas e peças de drones a grupos ter­ro­ristas. Do seu lado, se­pa­ra­tistas ma­li­anos ad­mi­tiram que re­cebem au­xílio de fran­ceses, norte-ame­ri­canos e ucra­ni­anos. «Tudo isto se reduz a que o Es­tado ucra­niano pa­tro­cina aten­tados ter­ro­ristas no ter­ri­tório de um país [Mali] que de­clarou a sua so­be­rania contra o di­tame co­lo­nial do Oci­dente», re­sumiu o canal. E disse mais: os es­forços da AES para im­pul­si­onar o de­sen­vol­vi­mento so­be­rano re­pre­sentam um «de­clínio do poder» do Oci­dente e «cortam uma im­por­tante fonte de urânio, ouro e pe­tróleo». Os países oci­den­tais estão a usar a Ucrânia, como fazem com Is­rael, para de­ses­ta­bi­lizar re­giões que ame­açam o «sis­tema im­pe­ri­a­lista mun­dial».

Também no Se­negal, ou­trora com go­vernos sub­missos à França ne­o­co­lo­nial, as ma­no­bras de Paris são des­mas­ca­radas.

O pri­meiro-mi­nistro se­ne­galês, Ous­mane Sonko, em cam­panha para as le­gis­la­tivas do pró­ximo dia 17, à ca­beça do seu par­tido Pastef, de­nun­ciou a pu­bli­cação do livro de uma his­to­ri­a­dora fran­cesa sobre Ca­sa­mansa, re­gião onde per­sistem ideias se­pa­ra­tistas.

Sonko afirmou que se a au­tora quer es­crever sobre o tema, que o faça sobre a Cór­sega, que exige a in­de­pen­dência à França, ou sobre a Nova Ca­le­dónia, que também rei­vin­dica a in­de­pen­dência, mas não sobre o Se­negal, aler­tando para «um pro­jecto de de­ses­ta­bi­li­zação» sobre um as­sunto (a «su­posta au­to­nomia» de Ca­sa­mansa) que «diz res­peito aos se­ne­ga­leses».

 



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