Apagou-se-lhes o “farol”

Filipe Diniz

O Guar­dian, como a ge­ne­ra­li­dade dos media “de re­fe­rência”, fez cam­panha a favor de Ka­mala Harris. Dois dias de­pois das elei­ções nos EUA, pu­blicou um ar­tigo des­ta­cando que a vi­tória de Trump adi­ci­o­nara 64 mi­lhares de mi­lhões em bolsa à for­tuna dos 10 mais ricos, um valor re­cord. À ca­beça, Elon Musk, com mais 26 mi­lhares de mi­lhões.

O jornal es­taria de mau humor, e talvez ten­tasse dar lustro aos seus pas­sados per­ga­mi­nhos “li­be­rais”. Mas meteu-se por um beco. Dados da S&P500 (Stan­dard & Poors) re­la­tivos às duas an­te­ri­ores pre­si­dên­cias e ao im­pacto bol­sista ime­diato de cada eleição são elu­ci­da­tivos. Todos os sec­tores S&P500 ga­nharam em co­tação bol­sista, tanto com Biden como com Trump. Biden con­tri­buiu com uns no­tá­veis +208,79% no sector da energia, à conta de coisas como o NordS­tream2 e ou­tras, opor­tu­ni­dade que Trump não teve. Mas existe para ambos um im­pacto bol­sista ime­diato em cada eleição: +57,5% em 2016 para Trump, +69,6% em 2020 para Biden.

Os grandes media podem en­gal­fi­nhar-se na pro­moção deste ou da­quele can­di­dato, mas não é com esses olhos que o grande ca­pital EUA (in­cluindo o que é pro­pri­e­tário desses media) vê as elei­ções. As elei­ções e os eleitos nos EUA medem-se em dó­lares e os grandes po­ten­tados dão di­nheiro a qual­quer das can­di­da­turas com pos­si­bi­li­dade de ga­nhar. Ha­verá con­tra­di­ções entre sec­tores do ca­pital mo­no­po­lista EUA, mas ne­nhuma delas poria em causa o sis­tema que co­mandam. Chama-se ca­pi­ta­lismo mo­no­po­lista de Es­tado.

É por isso que são ver­da­dei­ra­mente pa­té­ticas certas opi­niões de­sa­len­tadas, como uma (Pú­blico, 7.11) que dizia: «O farol da de­mo­cracia dos Es­tados Unidos apagou-se esta terça-feira […] no país mais de­sen­vol­vido, mais aberto, mais li­beral do mundo.»

Esse de­sa­lento tem cura. Re­vejam o cur­rí­culo in­terno e ex­terno desse “farol da de­mo­cracia” – o mais agres­sivo, vi­o­lento e in­to­le­rante pe­rante a von­tade dos povos (in­cluindo a do seu pró­prio povo) polo im­pe­ri­a­lista. E tirem as de­vidas con­clu­sões.

 



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