De quem é a ciência produzida?
São muitos os cientistas e investigadores, em Portugal e em muitos outros países, que partilham uma mesma inquietação: a de que a ciência, enquanto esforço colectivo, deve servir o bem comum e não estar, em primeira instância, ao serviço de interesses que a procuram mercantilizar.
Hoje, vive-se uma realidade perversa, em que prospera o negócio das grandes editoras de revistas científicas, que se apropriam do trabalho produzido pelos cientistas e investigadores. A que acresce a contradição existente ao nível europeu entre as diretrizes que a UE promove através de programas que defendem políticas de acesso aberto (como o programa Horizon) e a forma como continua a assinar acordos que garantem milhões de euros a algumas editoras.
Essas e outras questões estiveram em análise no debate «Acesso Aberto: De quem é a ciência que produzimos?», promovido recentemente pela célula da Cidade Universitária de Lisboa do PCP. A lançar a discussão estiveram Sandra Pereira, investigadora da Universidade de Lisboa, militante do PCP e antiga deputada no Parlamento Europeu; Simone Tulumello, investigador do ICS-UL, que tem trabalhado em prol do acesso aberto e integra a mais antiga revista de Ciências Sociais de Portugal, a Análise Social (de acesso aberto); e Eloy Rodrigues, investigador da Universidade do Minho e especialista em questões de acesso aberto e repositórios públicos.
Nas várias intervenções e propostas discutiu-se, para além de repensar os actuais modelos de avaliação, a possibilidade de reapropriação de revistas com um património histórico relevante ligado a departamentos universitários, a necessidade de diversificar o modo de publicação, abrangendo tanto editoras nacionais de acesso aberto, como livros que possam chegar a um público mais abrangente.
Falou-se ainda da importância dos repositórios públicos como forma de garantir o acesso universal ao conhecimento produzido e de como não é possível transformar o actual modelo de publicações sem antes repensar os critérios de avaliação dos investigadores, que permanecem atados às métricas das revistas controladas por estes monopólios editoriais.