Os democratas são os porteiros do fascismo
Quanto mais acelera a fascização dos EUA, mais calado fica o Partido Democrata (PD). Rápida e descaradamente, como é em tudo seu florão e apanágio, Trump atropela a Constituição, ignora os tribunais, manda prender activistas solidários com a Palestina e elimina agências federais inteiras como o Departamento da Educação. O que tem a dizer o PD? À margem da lei, Trump ameaça, coage e despede centenas de milhares de trabalhadores federais, acaba com os direitos sindicais e com a contratação colectiva em sectores chave da função pública, sugere que os EUA não voltarão a precisar de mais eleições e entrega de bandeja o Estado aos monopólios tecnológicos. Insisto: por onde andarão os democratas limpinhos, de discurso arranjadinho e valores respeitável, do partido de Biden, Clinton e Kamala?
Os mesmos liberais que, durante a campanha, agitavam, numa grande aflição democrática, a ameaça apocalíptica representada por Trump, são agora confrontados com o cumprimento da própria profecia, mas não saem às ruas, em grandes manifestações nacionais; não procuram bloquear, no Congresso, os desígnios de Trump; não desejam sequer, criticar o presidente. O PD não só não faz frente a Trump, como decidiu apoiá-lo, primeiro tácita e agora explicitamente.
Esta estratégia, visível desde a tomada de posse de Trump, teve como epítome, esta semana, a aprovação, pelo Partido Democrata, da lei de financiamento do Estado federal. O orçamento de Trump, que prevê cortes de 13 mil milhões de dólares nas funções sociais do Estado e o aumento das despesas militares, contou com o voto favorável do PD no senado e o apoio explícito do líder democrata naquela câmara, Chuck Schumer.
Num artigo de opinião recente, o estratega do PD, James Carville, resumiu a estratégia do partido para o segundo mandato de Trump: «fingir de morto (…) até a política económica de Trump implodir.» Esta estratégia de apaziguamento de Trump é corolário da reflexão interna do PD sobre as razões para a derrota de Kamala: demasiados impostos; demasiadas regulamentações na economia; demasiado Estado federal – toda a cartilha neoliberal que Trump está a cumprir e que o grande capital – mesmo os sectores alinhados com o PD – não quer inverter.
Com uma oposição assim, Trump nem precisará de abrir as portas do fascismo: a social-democracia é uma porteira incansável e diligente.