«Há Vozes que Não se Calam» a cantar Abril com Luísa Basto
Na Academia Almadense, foi homenageada Luísa Basto, «uma das “vozes que não se calam”, símbolo da memória activa de Abril, e inspiração para todos os que não desistem de um mundo mais justo e fraterno».
Uma voz inconfundível e firme, com uma carreira marcada pela coerência e a coragem
O espectáculo, organizado pela Comissão Concelhia de Almada do PCP, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, reuniu centenas de pessoas, na tarde de domingo, dia 13.
Intitulado «Há Vozes que Não se Calam!» e centrado em Luísa Basto, que reside há décadas no concelho, o concerto contou com os músicos Nuno Tavares (piano e arranjos), Ivo Nogueira (baixo), Jorge Anacleto (guitarra), Carlos Mil-Homens (percussão) e, como convidado «que veio de Barcelos» para se juntar a esta festa, Jorge Lomba. Para interpretar com Luísa «A Paz» (poema de Romeu Correia), subiu ao palco o jovem Francisco Soares.
Nome próprio de tantas causas
Antes de os artistas tomarem o palco, usou da palavra João Frazão, da Comissão Política do Comité Central do PCP, para falar da “voz de Abril, símbolo de liberdade”».
A lembrar marcos da biografia da cantora, contou como Luísa Basto «não é um nome artístico», tomado por Úrsula Lobato, mas sim o seu nome da clandestinidade, sugerido por Álvaro Cunhal, quando, ainda menina, teve de deixar Portugal.
Recebeu na União Soviética «a liberdade, a segurança, a educação e a infância que o fascismo quis roubar» com a prisão dos pais, José Pulquério e Úrsula Machado, «operários agrícolas que se tornaram funcionários do Partido» e que, «durante toda a sua vida, se dedicaram à causa da libertação do nosso povo».
Em Moscovo, licenciou-se em Canto pelo prestigiado Instituto Musical Pedagógico do Estado Gnessine. Ainda no exílio, gravou em 1967 o seu primeiro disco, onde se incluía «Avante, Camarada!».
«Com o triunfo da Revolução, Luísa Basto regressou a Portugal, em Maio de 1974, trazendo consigo a liberdade na voz e o compromisso com os ideais de Abril», recordou João Frazão, notando que a homenageada «construiu uma carreira artística marcada pela coerência, pela coragem e pelo profundo respeito pelos direitos humanos, pela democracia e pela justiça social».
Destacou que Luísa, «gravou diversos álbuns, interpretou poemas de grandes autores da literatura portuguesa» («António Aleixo, Ary dos Santos, Eugénio de Andrade, Florbela Espanca, João Fernando, Joaquim Pessoa, José Gomes Ferreira, Luís Cília, Manuel da Fonseca, Nuno Gomes dos Santos, entre tantos outros») e «colaborou com nomes marcantes da música», integrando «Os Amigos», que em 1977 venceu o Festival RTP da Canção, com «Portugal no Coração».
Luísa Basto «é também nome próprio de outras causas», como os direitos das mulheres e a luta pela paz, e «é, por maioria de razão, nome próprio de cultura». «É também nome próprio de Alentejo» e «é, com muito orgulho nosso, nome próprio de comunista».
Com uma voz «inconfundível e firme», Luísa Basto «é um testemunho de uma vida dedicada à música, à cultura e à luta pela liberdade» e «é, ainda hoje, uma das “vozes que não se calam”, símbolo da memória activa de Abril e inspiração para todos os que não desistem de um mundo mais justo e fraterno», afirmou João Frazão.
Luísa Basto entrou em palco, juntando a sua voz ao clamor do público, «25 de Abril, sempre! Fascismo, nunca mais!». Muitas canções e emoções depois, despediu-se, cantando com todos «Avante, Camarada!» e deixando «um abraço do tamanho do nosso Partido».