Situação insustentável nas urgências de obstetrícia
A cada dia que passa, agrava-se a situação nas urgências de obstetrícia em diversos hospitais do País. No Barreiro, uma mulher grávida foi obrigada a dar à luz no corredor do Hospital devido ao encerramento da urgência ao exterior.
Mais de 50 bebés nasceram em ambulâncias no último ano
Lusa
Em nota divulgada a 23 de Abril, a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro demonstrou «a sua mais profunda consternação e repúdio» com o facto de, no fim-de-semana da Páscoa, «uma mulher em trabalho de parto ter dado à luz ajoelhada, sem as mínimas condições, à porta do bloco de partos» do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, uma situação «inaceitável» que «atenta em grande medida os mais fundamentais direitos no acesso à saúde».
«O encerramento dos serviços de ginecologia, obstetrícia e bloco de partos tem merecido a maior atenção e mobilização por parte dos utentes do Barreiro e dos concelhos servidos por este Hospital, sem que o actual e anteriores governos tomassem medidas para reverter a situação, através do reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS)», refere a Comissão, considerando «inaceitável» que «existam dias em que nenhum hospital da região» tenha a sua maternidade aberta e que «encaminhem mulheres grávidas e em trabalho de parto para hospitais fora da sua zona de residência, sabendo de antemão a situação de sobrelotação desses equipamentos».
Como os utentes têm vindo a alertar, a situação tem-se agravado, com mais de 50 bebés a nascer em ambulâncias no último ano. «Quantas mães terão de se deslocar e viver momentos de angustia e incerteza para ter os seus filhos?», interroga aquela Comissão, para quem «é urgente e necessário valorizar os profissionais de saúde e investir no reforço das condições do Hospital do Barreiro e do SNS».
Saúde não é um negócio!
Também o Movimento Democrático de Mulheres (MDM) pronunciou-se sobre o encerramento das maternidades e das urgências pediátricas, que «empurra as mulheres para o privado, sustentando a linha ideológica que olha a saúde como negócio» e «vota a saúde materna a profundos retrocessos porque obstaculiza seriamente o acesso de todas as mulheres, em igualdade, a assistência na gravidez, parto e pós-parto, e a adequados cuidados de saúde primários, continuados e de real proximidade».
«Estes encerramentos de urgências contribuem para a sobrelotação das escassas unidades de saúde em funcionamento, apresentando graves consequências para o funcionamento dos serviços, as condições de trabalho dos profissionais de saúde e a prestação de cuidados às utentes», adverte o MDM.
Sobre a Linha «SNS Grávida», o Movimento salienta ser «menos resposta e mais jogo de ocultação das consequências de anos de desinvestimento do SNS», sendo «um tipo de pré-triagem incapaz de avaliar riscos à distância e um obstáculo ao acesso a cuidados que se podem vir a apresentar de cariz urgente e indispensável». «Só um SNS forte assegura o funcionamento dos serviços de obstetrícia e pediatria e a garantia da universalidade do direito à saúde – independentemente da condição económica e social», afirma o MDM, que exige «políticas públicas de investimento no SNS, que melhorem as condições materiais dos serviços e garantam a dignificação e contratação de mais profissionais de saúde e a valorização das suas carreiras».