O «trabalho sujo»
A luta pela Paz é também a luta pela verdade
Ao comentar a agressão de Israel ao Irão, à margem da reunião do G7 que se realizou dia 17 no Canadá, o belicista chanceler alemão, Merz, agradeceu o «trabalho sujo que Israel faz para todos nós», entenda-se «todos nós», as grandes potências imperialistas que formam este sinistro conclave. Na verdade, e ao contrário do lapsus linguae de Merz, os EUA, com a cumplicidade e o apoio dos seus aliados da NATO e da UE, têm vindo a promover uma imensa campanha de mentira e mistificação para encobrir que Israel é efectivamente (e há décadas) o instrumento do imperialismo norte-americano no Médio Oriente. Aliás, todo o apoio político e militar fornecido – incluindo o seu envolvimento directo na agressão contra o Irão –, por parte dos EUA ao “trabalho sujo” levado a cabo por Israel, comprovam tal realidade.
Uma campanha de mentira e mistificação veiculada à exaustão e de forma sórdida na comunicação social dominante, que procura esconder de forma vergonhosa e hipócrita que o “trabalho sujo” é, afinal, de todos eles, EUA, Israel, potências da NATO e da UE e dos que com estes são coniventes, em que o Governo português se inclui.
Veja-se como procuram esconder que Israel é o único país do Médio Oriente que possui armas nucleares, que rejeita aderir ao Tratado de Não Proliferação de armas nucleares, que se recusa a permitir que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) supervisione as suas instalações nucleares. Ou que ocupa ilegalmente territórios da Palestina, é responsável pelo genocídio do povo palestiniano e agride e ocupa territórios de outros países na região, como do Líbano e da Síria, não cumprindo há décadas e impunemente acordos firmados por si, os princípios da Carta da ONU e o direito internacional.
Veja-se como procuram omitir que o Irão cumpriu com as suas obrigações ao abrigo do Acordo sobre o seu programa nuclear para fins pacíficos, assinado em 2015, e que foram os EUA que unilateralmente o abandonaram em 2018, impondo severas sanções contra o Irão. Ou que agora, sete anos depois, a mesma administração norte-americana que tinha desvinculado os EUA desse Acordo, iniciasse negociações indirectas com o Irão, ao mesmo tempo que preparava a agressão a este país, em conluio com Israel.
Veja-se como procuram escamotear que a agressão ao Irão, tal como outras agressões militares levadas a cabo pelos EUA e os seus aliados – recordemos a farsa das ditas “armas de destruição massiva” que serviu de pretexto à brutal agressão contra o Iraque –, é realizada sem uma qualquer evidência quanto às alegações veiculadas, neste caso, a iminência da construção de armas nucleares, proclamada (há décadas) por Israel e reiteradamente rejeitada pelas autoridades iranianas, assim como pela AIEA e outras entidades insuspeitas de conivência com o Irão.
Veja-se como procuram dissimular que esta nova agressão contra o Irão é, afinal, mais uma expressão de todo o “trabalho sujo” promovido pelo imperialismo, que procura, pela via da confrontação, da escalada armamentista e da guerra, impor o seu domínio hegemónico no mundo e impedir o desenvolvimento de processos de diálogo, articulação e cooperação, assentes, entre outros princípios, na igualdade soberana dos Estados e no desenvolvimento mútuo.
A luta pela Paz é também a luta pela verdade, incluindo a denúncia do “trabalho sujo” do imperialismo.