NATO e UE de braço dado
A instabilidade e incerteza são uma marca da conjuntura actual
A subserviência das grandes potências da UE aos EUA, evidenciada na Cimeira da NATO de 25 de Junho e que nos dias seguintes o Conselho Europeu confirmou, é de tal forma escandalosa que até alguns dos mais empedernidos “atlantistas” sentem necessidade de demarcação. Uns falam de “humilhação”, outros, como TS, de “subserviência e bajulação” (Público 29.06.25) e, a avaliar pelas notícias, até Durão Barroso, em conferências da mais fina flor do grande capital, em Lisboa e no Porto, chegou a falar de “vassalagem”, não sem dizer que “afinal o que Trump quer é uma Europa mais forte”.
A situação é de tal modo escandalosa que quase todos sentem necessidade de se distanciar do vergonhoso seguidismo da UE em relação à potência imperialista dominante. É, porém, muito claro que não o fazem por discordar das gravíssimas decisões de escalada de confrontação imperialista ou para pôr em causa a demencial meta dos 5% do PIB para a guerra, mas para tentar conservar margem de manobra na cruzada da classe dominante para impor aos trabalhadores e aos povos a existência de uma dita ameaça externa (a Rússia, “ameaça de longo termo”, segundo o comunicado da cimeira da NATO) que justificaria todos os sacrifícios, incluindo o de morrer nas guerras do imperialismo, “se a Europa for atacada e a NATO nos exigir”, como afirmou um candidato a Presidente.
Em torno da problemática das relações dos EUA com a “Europa” (as grandes potências capitalistas europeias e a própria UE) e, em particular, sobre um chamado “desinvestimento” dos EUA na NATO e à sua afirmada prioridade em relação à região Ásia-Pacífico, campeiam as mais absurdas especulações, mas praticamente todas visando justificar a sujeição perante a superpotência cuja “protecção militar” se considera indispensável. É certo que a crise do capitalismo e a arrogância desmedida da nova administração norte-americana na defesa de uma hegemonia mundial em declínio, está a trazer para o primeiro plano as contradições que percorrem o campo imperialista. A corrida para ganhar preponderância, nomeadamente entre Reino Unido, França, Alemanha e Itália, chega a atingir o ridículo. Sem apagar a coincidência de interesses de classe, trata-se uma questão que não pode ser subestimada, particularmente quando a Alemanha “está de volta”, orgulhosa de possuir “o maior exército europeu” e a afirmar, dirigida pela “grande coligação”, a hegemonia germânica no processo de integração capitalista europeu – o que, lembrando tragédias passadas, não pode deixar de ser inquietante.
Entretanto, no binómio concertação/rivalidade que caracteriza as relações inter-imperialistas, o que tem predominado é a concertação na luta contra os trabalhadores e contra os povos. A instabilidade e incerteza são uma marca da conjuntura actual, mas o vergonhoso seguidismo das grandes potências “europeias” tem raízes bem fundas. Sob a batuta norte-americana, NATO e UE sempre andaram de braço dado. Com uma bem marcada natureza de classe, uma e outra nasceram e desenvolveram-se como instrumentos da “guerra fria” contra a dita “ameaça soviética” e a “contenção do comunismo”. Desaparecida a URSS, temos agora a “ameaça russa” como pretexto para intensificar a exploração e a deriva racista e fascizante em numerosos países, incluindo Portugal.