Algumas notas sobre a ofensiva ideológica
Intensificar a denúncia do capitalismo e da exploração capitalista
Como sabemos, os centros de decisão e controlo do capital contam com meios poderosos. Num quadro geral de crise do capitalismo, querem aproveitar e promover a baixa consciência política para conter e encaminhar sentimentos populares de revolta para falsas soluções. A profusão e promoção de forças políticas, com características diversas, são elementos fundamentais para criar condições mais favoráveis às opções dos grupos económicos e para a aceitação da exploração, introduzindo factores de dispersão e desfocagem na identificação de responsabilidades.
O Governo PSD-CDS é o principal instrumento no momento actual, apresentando-se quer CH, quer IL como tentáculos de um mesmo organismo que se move numa mesma direção. Estas forças partilham um programa, alimentado sempre pela convergência do PS, que acaba a contribuir para a intensificação do círculo vicioso de não resolução dos problemas dos trabalhadores e do povo, o que por sua vez potencia sentimentos de revolta conduzidos para falsas soluções. A IL, que serve de lebre ideológica com capa pseudocientífica, apresentando-se como tolerante nos costumes, não consegue esconder o apoio a projectos ultramontanos. O CH, como força plástica e maleável, carregada de hipocrisia, navega e potencia os sentimentos primários que colocam os trabalhadores a encontrar os inimigos olhando para baixo e para o lado.
Existem muitos aspectos programáticos que comprovam a partilha de um programa político. A utilização do conceito burguês de liberdade individual – de modo em que cada um encontre no outro, não a realização, mas antes uma barreira à sua própria individualidade – atravessa todos os seus programas com expressões como «soberania do indivíduo», «liberdade de escolha», «auto-responsabilidade» (na versão de CH e IL) ou, na versão do PSD, «liberdade e responsabilidade». A expressões assentes na atomização do indivíduo e que remetem de facto para a liberdade para explorar, acrescem conteúdos que deslocam a centralidade da luta de classes e passam o foco para aspectos idealistas centrados no individualismo e na promoção da ideia do “homem providencial” capaz de pôr ordem em tudo, fabricando cenários para potenciar a utilização do conceito de “Ordem”, sempre na perspectiva securitária. Recorrem à agitação de sentimentos primários como a raiva e fanatismo, reactivando e incentivando preconceitos, constroem conceitos como “tradição civilizacional portuguesa”, “primado moral”, mas também falam do combate a um suposto “primado da vitimização, de matriz soviética”.
Tudo isto num quadro em que há mais disponibilidade mental para considerar o fim do mundo do que o fim do capitalismo, em que as alternativas são apresentadas como irrealistas, em que a redução do peso do Estado aparece como inevitável, perante as dificuldades criadas pela própria política de desestruturação das funções do Estado, e em que a corrupção aparece como acto individual e isolado e não como reflexo da promiscuidade do poder político com o poder económico.
À convergência de forças social-democratas seja no anticomunismo, seja em aspectos fundamentais da política de direita, como a promoção do projecto neoliberal, federalista e militarista da UE, acresce a profusão de forças cujo discurso pseudo-radical esconde a convergência de objectivos com a direita: no ataque ao Partido e a organizações de massas; convergindo na dissociação das questões de classe na origem das discriminações; atribuindo a todo o povo o ónus da ideologia dominante, em questões como racismo, colonialismo e discriminações em função de questões da sexualidade; deturpando a natureza e os conteúdos transformadores da Revolução de Abril; promovendo um falso internacionalismo, que em muitos aspectos coincide com a agenda do imperialismo norte-americano; desertando da luta na defesa do regime democrático, antes da a travar.
Todo o cenário é complexo, mas implica desenvolvermos as linhas definidas no XXII Congresso: intensificar a denúncia do capitalismo e da exploração capitalista; intensificar a luta pela melhoria das condições de vida; denunciar situações de exploração e promover a organização e luta para a elevação da consciência de classe e política; combater expressões antidemocráticas de conteúdo liberal; combater o isolamento e a atomização individualista, as discriminações e preconceitos; defender as liberdades democráticas; denunciar o imperialismo, defendendo a Paz; promover a ruptura com a política de direita e a afirmação da alternativa política, dos valores de Abril, do projecto do Partido.