A acção do imperialismo e a luta dos povos

Pedro Guerreiro (Membro do Secretariado)

“assume a maior importância a convergência entre os países – muito diferenciados entre si – que são alvo da acção e dos intentos do imperialismo”

Os acontecimentos que têm lugar no plano internacional estão a mostrar como o imperialismo norte-americano tudo faz para retomar a iniciativa, tentando contrariar as tendências que têm caracterizado a recente evolução da situação mundial.

Assume particular significado que os primeiros a se submeter e a alinhar com os esforços encetados pelos EUA para impor a prevalência dos seus interesses sobre todos os demais sejam, precisamente, as restantes potências imperialistas reunidas no denominado G7 – Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Canadá e Japão.

Tal realidade já tinha ficado vergonhosamente patente na recente Cimeira da NATO, realizada em Haia, onde a generalidade dos governos dos países que integram este bloco político-militar aceitaram, subserviente e empenhadamente, cumprir o ditame norte-americano de aumento exponencial das despesas militares, comprando, no essencial, armamento aos EUA – situação sintetizada nas humilhantes palavras dirigidas a Trump por Rutte, Secretário-geral da NATO.

Subordinação e alinhamento com o imperialismo norte-americano que são evidentes na cumplicidade e apoio ao genocídio do povo palestiniano levado a cabo por Israel, assim como noutros conflitos no mundo.

No entanto, ela é de novo exposta na forma como o Reino Unido, o Japão e, agora a União Europeia, cedem às pressões da Administração Trump para redefinir as suas relações comerciais e assumir compromissos de fluxos de investimento em termos muito mais favoráveis aos EUA, para gáudio dos seus grupos económicos e financeiros.

Tanto assim é que, no agora anunciado acordo entre os EUA e a UE, os termos são tão desequilibrados que diversos responsáveis governamentais de países que integram a UE rapidamente procuraram desresponsabilizar-se, colocando o ónus do acordo e das suas negativas consequências na abominável von der Leyen – a quem coube protagonizar o papel que Rutte havia desempenhado um mês antes.

As classes dominantes das grandes potências imperialistas, no contexto da crise estrutural do capitalismo e apesar de contradições entre si, claudicam perante os ditames do imperialismo norte-americano, sabendo que sem este não serão capazes de fazer frente ao desafio que representa a afirmação da soberania, do direito ao desenvolvimento e da dinamização de relações entre diversos países não subordinadas ao imperialismo e às suas imposições de domínio económico, político e ideológico – processo onde a China tem vindo a assumir um papel fundamental.

A concertação de classe entre as potências imperialistas, mesmo que subordinando-se à hegemonia de uma delas, sobrepõe-se, de momento, às suas rivalidades, aos seus interesses contraditórios.

Em sentido inverso, assume a maior importância a convergência entre os países – muito diferenciados entre si – que são alvo da acção e dos intentos do imperialismo. É na convergência, articulação e cooperação entre estes países que reside um dos mais importantes factores para fazer face ao imperialismo norte-americano e aos seus subordinados, com os seus ditames, as suas chantagens, as suas ingerências, as suas sanções e bloqueios, as suas agressões, a sua brutal e criminosa violência.

Ou seja, se o imperialismo procura impor o isolamento político e económico de países para poder prosseguir, sob velhas e novas formas, a exploração, o saque, o domínio neocolonial, é na convergência entre estes países que se encontra um dos seus esteios de resistência.

A evolução da situação mostra que se reafirma a necessidade, a exigência, a aspiração a um mundo livre de relações desiguais, de uma nova ordem internacional mais equitativa, baseada na igualdade soberana dos Estados, no direito ao desenvolvimento, na cooperação mutuamente vantajosa.

Ao contrário do que o imperialismo procura evitar a todo o custo, a realidade mostra que o futuro da Humanidade passa necessariamente pelo fim da condenação à dependência económica, à pilhagem de recursos, ao subdesenvolvimento, à pobreza.

Um processo cujo sentido da evolução é inseparável da luta pela paz e contra a guerra, da aproximação e articulação entre os que resistem ao imperialismo, do desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos pelos seus direitos e emancipação.

 



Mais artigos de: Opinião

Tempo dos monstros

Esvaem-se as palavras para descrever os crimes de Israel em Gaza, terra palestiniana ocupada, martirizada, calcinada. Chegar ao quadro dantesco existente, que o governo sionista anseia ver também na Cisjordânia, foi possível graças ao indispensável apoio e cumplicidade dos EUA e do imperialismo em geral. A chacina...

Cheira a troika (e a pólvora)

Olhamos para França e vislumbramos o futuro – não um qualquer futuro inevitável (tal coisa não existe), mas aquele que também por cá nos querem impor. Falamos da proposta de Orçamento do Estado para 2026 apresentada pelo governo francês: aí estão avultados cortes nas pensões e nos apoios sociais, o enfraquecimento dos...

Ir ao essencial

Como era de esperar, no debate sobre o estado da Nação na AR, há duas semanas, o primeiro-ministro fez o elogio da «brilhante» governação que, de medida em medida, vai tornando cada vez mais difícil a vida de quem vive e trabalha em Portugal. Corrigindo-se a si próprio, em vez da célebre tirada de 2014 (quando era...

Descobriram agora?

«Portugal é um País soberano e, portanto, a sua política não é decidida pelos outros Estados», diz Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, em declaração solene aos órgãos de comunicação social. Apanhada desprevenida, uma pessoa, ficaria a pensar «até que enfim temos um Governo firme na defesa dos...

A falta de regras

Um dos liberais de serviço, Moreira Rato, que tanto está a governar Instituições Públicas (Presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, CGD) como privadas (BES, Banco CTT), preside agora ao Instituto de Corporate Governance, nome que só por si, pelo seu anglicismo subserviente e desnecessário,...