Stereossauro

Voltar à Festa do Avante! enquanto artista é «uma honra enorme»

Nome incontornável da música electrónica em Portugal, que mistura com sons tipicamente portugueses, Stereossauro tem uma carreira sólida – e premiada – além fronteiras. Este ano actua na Festa do Avante! e vai bem acompanhado, com Carlão, DJ Ride, Ana Lua Caiano e Pedro Jóia. Em entrevista ao Avante!, lembra a Festa a que foi várias vezes quando jovem, e considera-se honrado de poder voltar a pisar o palco.

«Acho que deve ser a Festa a que fui mais vezes enquanto público»

Venceu em outubro do ano passado o DMC World Open Championship que se realizou em Paris. Qual a importância deste prémio?

É a cereja no topo do bolo em termos de campeonatos de DJ. Para um “turntablist” ou “giradisquista” que venha da minha escola, é o título com maior importância, pois é o campeonato mais prestigiado que já vem dos anos 80 e era o que me faltava ganhar, já tinha ficado em segundo lugar há alguns anos e tinha sempre aquela coisa por resolver, tinha de ir lá buscar o caneco. Ter conseguido ganhar o formato online e depois o presencial em Paris no mesmo ano foi incrível. Online é também importante, mas o presencial é outra conversa e trouxe para casa o disco dourado e o casaco a dizer world champion, que são o troféu máximo das competições de DJ.

Nos seus “sets” e nos espectáculos que apresenta tende a misturar estilos musicais muito diversos. Os critérios que segue para fazer essa mistura são meramente estéticos, são resultado de uma busca para obter uma maior eficácia junto do público ou procura juntar a isso uma mensagem identitária original?

Desde muito novo que tive a sorte de ter acesso a uma colecção de música muito eclética do meu tio Luís, com os mais variados estilos de música, e isso foi sem dúvida a minha maior influência em termos de diversidade musical, e de uma maneira muito natural traduz-se quer nos meus “sets” de DJ ou em concertos com música produzida por mim, faz mesmo parte da minha identidade essa abertura musical e diversidade de estilos.

Nota-se uma preocupação constante em usar referências musicais portuguesas nos seus “sets”. Segue algum critério especial na escolha desses extractos? Tem algumas preferências?

Eu venho da escola do hip-hop, que teve a sua origem nos Estados Unidos, onde os pioneiros desse estilo usavam “samples” ou pedaços de música de outros estilos com recurso ao gira-discos e a caixas de ritmos e sequenciadores. Ou seja, faziam algo novo a partir de algo já existente, sendo que o funk, a soul e o jazz eram os estilos mais utilizados. No meu caso, sendo português, é natural que vá buscar referências portuguesas com maior incidência no fado para fazer a minha música, à minha maneira. Para além do fado, que já trabalhei em bastantes discos, estou agora também a usar referências mais tradicionais, como os adufes, etc.

Para além do DJ Ride, com quem trabalha há muitos anos, neste espectáculo na Festa do Avante! vai actuar com Carlão, Ana Lua Caiano e Pedro Jóia. Quer explicar-nos porque convidou cada um deles e como é que eles se vão enquadrar no espectáculo?

O Carlão é uma referência e um amigo com o qual já tive o prazer de trabalhar algumas vezes. Para mais, sendo que estamos a falar da Festa do Avante!, acho que não podia ter um convidado com maior relevância da Margem Sul que o Carlão! O Ride é o meu parceiro no gira-discos e nas produções desde o dia um, com ele tenho a crew Beatbombers e é imprescindível, para além das nossas coisas em conjunto participa em todos os meus projectos a solo, é o meu “brother”! O Pedro Jóia é o às da guitarra, já temos algumas colaborações e estamos a trabalhar em mais. É uma honra partilhar o palco com ele... E a Ana Lua Caiano é incrível, a maneira como ela pega na música tradicional e lhe dá a roupagem eletrónica dela e a voz é incrível. Temos uma música nova em conjunto, que vamos apresentar aqui no Avante!, e que será para um próximo disco mais focado na música tradicional portuguesa. Para além destes convidados, vão também a Ana Magalhães e o Ricardo Gordo, os meus companheiros de estrada e de discos, não poderia faltar uma fadista e uma guitarra portuguesa neste concerto!

Já alguma vez reflectiu sobre o papel da Festa do Avante! na cultura portuguesa desde que, há 49 anos, ela se realizou pela primeira vez? Gosta de ir à Festa!?

Gosto muito, fui várias vezes nos anos 90 quando era “teenager” e vi vários concertos maioritariamente de música portuguesa. Voltar ao Avante! enquanto artista é uma honra enorme, acho até que deve ser a Festa a que fui mais vezes enquanto público... Por acaso nunca tinha pensado a sério nisso, mas deve ser a Festa mais impulsionadora de música portuguesa e mais consistente, com tantos anos e com uma reputação tão grande e histórica. Não há festa como esta!

 



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