Israel usa fome como arma no genocídio contra povo palestiniano
A resistência palestiniana denunciou o plano israelita destinado a esmagar a vontade do povo e quebrar a sua firmeza mediante a fome, a intimidação e a humilhação. E acusou o governo dos EUA de se ter convertido no «parceiro total no crime de fome e genocídio» que Israel está a perpetrar na Faixa de Gaza.
Na faixa de Gaza, em 22 meses, Israel matou ou feriu mais de 200 mil palestinianos, a maioria mulheres e crianças
Lusa
No domingo, 3, à semelhança dos dias anteriores, foram reportados pelo menos mais 18 mortes e numerosos feridos em diversas zonas do território. A televisão Al Jazeera noticiou que 13 civis foram abatidos pelas tropas ocupantes quando esperavam receber alimentos num dos chamados centros de distribuição, na cidade de Rafah, no sul, perto da fronteira com o Egipto. Outros quatro civis foram baleados quando elementos do exército israelita abriram fogo contra um grupo de pessoas concentradas junto de outro centro de distribuição, próximo do Corredor Netzarim, construído por Telavive para cortar em dois o enclave costeiro.
Segundo o Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, até ao final da semana passada mais de 1370 palestinianos perderam a vida desde 27 de Maio, em resultado dos disparos dos militares nesses pontos, criados por Israel e pelos Estados Unidos da América (EUA) mas muito criticados pela ONU e por organizações não-governamentais (ONG) que os consideram insuficientes, selectivos e desumanos.
Fontes médicas palestinianas informaram, entretanto, que muitos palestinianos morreram ou ficaram feridos em consequência de bombardeamentos aéreos israelitas contra uma escola que acolhia deslocados, no bairro de Al-Amal, na cidade meridional de Khan Yunis. Um ataque semelhante provocou mais vítimas no bairro de Shuja’iyya, na cidade de Gaza, no norte.
Mais de 60 mil mortos na Faixa de Gaza
Nas últimas semanas, diversas agências da ONU e ONG denunciaram a severa crise humanitária que flagela a Faixa de Gaza devido aos ataques e ao bloqueio imposto por Israel.
Perante a solidariedade internacional para com o povo palestiniano, as críticas e o crescente isolamento do governo de Telavive, foi conseguida a entrada de alguns camiões com medicamentos, equipamentos sanitários e combustível, o que de qualquer modo representa uma gota no mar de necessidades dos mais de dois milhões de palestinianos ali sitiados.
A continuada agressão israelita contra a Faixa de Gaza, desde Outubro de 2023, já causou pelo menos 60.430 mortos palestinianos e mais de 148.722 feridos. As instituições de resgate palestinianas receiam que esses números possam crescer contando os milhares de corpos das vítimas que se encontram debaixo dos escombros das cidades e aldeias devastadas, inacessíveis às equipas de emergência e de defesa civil devido aos constantes ataques das forças ocupantes.
Genocídio contra um povo indefeso
O presidente do Conselho Nacional Palestiniano, Rawhi Fattouth, afirmou que a agressão israelita contra a Faixa de Gaza representa uma tragédia humanitária, uma catástrofe inimaginável e terrorismo organizado.
A continuação da política sistemática de fome imposta por Israel, cujo impacto se torna cada dia mais severo, não é mais que uma forma de genocídio praticada contra um povo indefeso, denunciou o responsável, em comunicado.
Fattouth condenou «as ferramentas do cerco e da morte lenta sob pretextos falsos e enganadores». Assegurou que essa estratégia israelita tem o apoio directo da administração norte-americana e qualificou de vergonhosa a falta de um posicionamento firme da «comunidade internacional». Questionou o mecanismo de distribuição de ajuda no enclave, imposto por Telavive e Washington, que considerou como uma armadilha mortal para a população. Acusou o governo de Telavive de impulsionar «um plano integral destinado a esmagar a vontade do povo palestiniano e quebrar a sua firmeza mediante a fome, a intimidação e a humilhação».
Essa política de provocar a fome e privar a população do território das suas necessidades básicas «é simplesmente outra faceta dos crimes de guerra cometidos a sangue frio com um pretexto político e perante a impunidade norte-americana», escreveu Fattouth. Mais: «As tentativas do governo de direita israelita de negar a existência da fome não são mais que uma evasão barata e a crua expressão de uma ideologia racista que não considera os palestinianos como seres humanos».
O líder parlamentar palestiniano alertou para um projecto sistemático visando deslocar os habitantes da Faixa de Gaza e «forçá-los ao desconhecido, como parte dos planos da extrema-direita israelita. E insistiu que «o silêncio e a passividade do mundo até à data constituem uma cumplicidade moral e legal, a qual reflecte o colapso do sistema internacional de protecção dos povos sob ocupação».
«Cena para enganar a opinião pública»
Em resposta à recente visita do enviado da Casa Branca para o Médio Oriente, Steve Witkoff, a um ponto de distribuição de comida da chamada «Fundação Humanitária para Gaza», no sul do enclave, a resistência palestiniana acusou o governo dos EUA de se ter convertido no «parceiro total no crime de fome e genocídio» que Israel está a perpetrar na Faixa de Gaza.
De acordo com os palestinianos, a visita de Witkoff não foi mais do que um «espectáculo premeditado que foi desenhado para enganar a opinião pública, limpar a imagem da ocupação e dar um encobrimento político à campanha de fome e ao sistemático assassinato de crianças e civis indefesos».
As forças palestinianas instaram o governo dos EUA a «assumir a sua responsabilidade histórica suspendendo o seu apoio ao crime do século em Gaza e avançando para um acordo de cessar-fogo que conduza ao final da agressão, à retirada o exército de ocupação e ao fim do cerco injusto» ao povo palestiniano.