Uma caixa sem maçã riscadinha

João Frazão

A maçã ris­ca­dinha de Pal­mela, De­no­mi­nação de Origem Pro­te­gida, é uma das va­ri­e­dades au­tóc­tones que fazem do nosso País o tal jardim à beira mar plan­tado, que produz o me­lhor que a terra pode dar, assim te­nham os agri­cul­tores con­di­ções para lançar as se­mentes e delas tratar para dar mais vida à vida.

Os pro­du­tores da maçã ris­ca­dinha or­ga­ni­zaram-se na Co­o­pe­ra­tiva Agrí­cola de Pal­mela, para ga­rantir o es­co­a­mento da sua pro­dução. A Co­o­pe­ra­tiva, para in­ves­ti­mentos ne­ces­sá­rios à di­na­mi­zação de tal ta­refa, en­di­vidou-se junto da Caixa Geral de De­pó­sitos em cerca de 300 mil euros. À pri­meira di­fi­cul­dade, a CGD não só não ga­rantiu o fi­nan­ci­a­mento para a re­a­li­zação de in­ves­ti­mentos in­dis­pen­sá­veis (meia dúzia de mi­lhares de euros para o ar­ranjo de uma câ­mara de frio e a aqui­sição de uma má­quina de tri­agem), como, em As­sem­bleia de Cre­dores, votou pela in­sol­vência, mesmo sa­bendo que o pa­tri­mónio da Co­o­pe­ra­tiva ga­rantia a to­ta­li­dade da dí­vida, con­tri­buindo para a des­truição desta uni­dade, so­mando novas di­fi­cul­dades aos pro­du­tores e co­lo­cando-os mais de­pen­dentes da grande dis­tri­buição.

En­tre­tanto, a tre­zentos qui­ló­me­tros de dis­tância, a mesma CGD em­prestou di­nheiro a uma outra so­ci­e­dade. A imo­bi­liária Cha­martin, pro­mo­tora de cen­tros co­mer­ciais, pre­cisou de mais de 150 mi­lhões de euros para cons­truir um grande centro co­mer­cial em Braga, uma boa parte dos quais a CGD lhe fa­cultou.

Pro­jecto me­ga­ló­mano, já teve duas inau­gu­ra­ções mar­cadas e en­contra-se agora em si­tu­ação de fa­lência, por in­ca­pa­ci­dade da­quele grupo es­pa­nhol em vender os quase 70 000 m2 de lojas que, quando abrirem, se abrirem, vão cavar mais di­fi­cul­dades para os pe­quenos co­mer­ci­antes da re­gião, pro­vo­cando novas fa­lên­cias e mais de­sem­prego.

Face a uma tal si­tu­ação o que fez a CGD? De­cidiu com­prar todo o pro­jecto, man­tendo uma em­presa do Grupo Cha­martin a cuidar da obra e en­tre­gando a gestão ao grupo Sonae.

À pri­meira vista pode pa­recer que há uma du­a­li­dade de cri­té­rios. Nem pensar! Em ambos os casos, a ori­en­tação da Caixa é exac­ta­mente a mesma. A da po­lí­tica de di­reita que fa­vo­rece grandes grupos eco­nó­micos, seja o grande agro-ne­gócio, a grande dis­tri­buição, ou o sector imo­bi­liário, e pro­move a des­truição do apa­relho pro­du­tivo.

O que eles querem é ga­rantir que, no fim, fica apenas uma caixa sem ne­nhuma maçã ris­ca­dinha!



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