Lénine ou Goldman Sachs

Filipe Diniz

Há 100 anos, em 11 de Ja­neiro de 1918, Lé­nine abriu a sua in­ter­venção no III Con­gresso dos So­vi­etes de toda a Rússia – 2 meses e 15 dias desde a for­mação do poder so­vié­tico – com uma re­fe­rência à Co­muna de Paris: «Dois meses e quinze dias – isto são apenas cinco dias mais do que o prazo du­rante o qual existiu o pre­ce­dente poder dos ope­rá­rios sobre todo um país, ou sobre os ex­plo­ra­dores e ca­pi­ta­listas, o poder dos ope­rá­rios pa­ri­si­enses na época da Co­muna de Paris de 1871» (VILOE 6T, T3, p.372). A Re­vo­lução de­fendia-se e cons­truía-se dia a dia. Cons­truir uma so­ci­e­dade in­tei­ra­mente nova era um ca­minho nunca antes per­cor­rido, que a Co­muna «co­me­çara a criar». «É uma obra nova, sem pre­ce­dentes na his­tória, que não se pode aprender nos li­vros». Lé­nine enu­mera ele­mentos do que de­fen­derá a Re­vo­lução so­vié­tica e im­pe­dirá que sofra a sorte da Co­muna de Paris: o poder so­vié­tico, o Exér­cito Ver­melho, o novo sis­tema ju­di­cial; a na­ci­o­na­li­zação da banca; o con­trolo ope­rário; a in­ter­venção di­recta e cri­a­dora das massas, a cons­trução da nova eco­nomia so­ci­a­lista, ta­refa que só pode ser em­pre­en­dida «con­tando com a ex­pe­ri­ência e o ins­tinto das massas tra­ba­lha­doras».

Leia-se a en­tre­vista de Carlos Mo­edas (mais um Goldman Sachs na CE) no DN, 29.12.2017. Re­giste-se apenas dois ou três traços do som­brio con­traste com o que foi antes ci­tado: a «união ban­cária» (em que «foram dados passos de gi­gantes»), com o do­mínio da UE pelos co­lossos da banca mun­dial; o ca­pital mo­no­po­lista no co­mando, im­pondo a sua von­tade com o fim da regra da una­ni­mi­dade na to­mada de de­ci­sões («como é que é pos­sível que um par­la­mento na Va­lónia, na Bél­gica, tenha con­se­guido parar um tra­tado com o Ca­nadá») e a cen­tra­li­zação de de­ci­sões na Co­missão Eu­ro­peia, etc. etc.

Sempre o mesmo do­mínio de classe, cujos «pre­ce­dentes na his­tória» são mais do que bas­tantes para que os povos o ar­rumem de vez. A his­tória mostra quão di­fícil é. Mas ne­nhum outro ca­minho vale a pena.




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