José Casanova
Membro da Comissão Política
Mais do que pela brutalidade de que se revestiu, o atentado terrorista de 11 de Setembro de 2001 ficará na História como ponto de partida de profundos e perigosos avanços da nova ordem imperialista totalitária.
É esse, aliás, o objectivo primeiro da chamada «guerra ao terrorismo», desencadeada, na sequência do atentado, pelo governo dos EUA. Uma guerra conduzida pelo Estado que é, ele próprio, o berço e a fonte do terrorismo internacional; uma guerra subservientemente apoiada pela generalidade dos governos à escala planetária; uma guerra aplaudida pela nova ordem comunicacional como cruzada do Bem contra o Mal; uma guerra que despeja toneladas de bombas sobre povos inocentes e, ao mesmo tempo, bombardeia direitos, liberdades e garantias de milhões de cidadãos.
No facto de toda esta ofensiva estar a ser levada por diante em nome da democracia, dos direitos humanos e da paz mundial, reside a grande, a monumental mistificação dos tempos que vivemos mistificação recheada de perigos óbvios para a democracia, para os direitos humanos, para a paz mundial. Violar a democracia e os direitos humanos invocando uma pretensa defesa desses valores; esconder a defesa dos interesses dos grandes e dos poderosos por detrás de uma falsa defesa dos interesses da humanidade; apresentar o abuso da força bruta para o domínio do Mundo como se de preocupação humanitária se tratasse; ocultar as responsabilidades directas no sofrimento e na morte de centenas de milhões de seres humanos por detrás de um manto de falso e hipócrita humanismo; procurar enfraquecer ou liquidar, apelidando-as de terroristas, as forças que se opõem ao sistema dominante e não desistem de lutar contra ele - constituem algumas das expressões concretas dessa ofensiva e dessa operação mistificatória.
O conceito de democracia hoje preponderante, para além de a esvaziar completamente das suas componentes social, económica e cultural, redu-la à exclusiva e cada vez mais empobrecida vertente política. Sem dúvida, a componente política da democracia possui um valor intrínseco; sem dúvida, a liberdade política é um elemento básico essencial da democracia; sem dúvida, o sufrágio universal e o multipartidarismo, são pilares marcantes de um sistema democrático. E, sem dúvida também, o modelo de democracia hoje dominante tem vindo a moldar todas essas referências essenciais aos seus interesses imediatos; a limitar drásticamente as liberdades individuais; a transformar o sufrágio universal e o multipartidarismo em autênticas farsas. Atente-se no exemplo dos EUA: apesar de, naquele país, as eleições serem cada vez mais uma mascarada e de o multipartidarismo não passar, de facto, de um unipartidarismo bicéfalo, o sistema ali em vigor é-nos apresentado como expoente máximo da democracia e, por isso, em permanente e acelerado processo de exportação para os quatro cantos do Mundo exportação a bem ou a mal: pacificamente se os destinatários acatarem o modelo; pela força das armas, dos bloqueios ou da chantagem se ousarem defender um modelo diferente.
O sentido da evolução do conceito de terrorismo desde o atentado de 11 de Setembro, e as previsíveis evoluções futuras de sentido igual, tendem a fichar como elementos perigosos todos os que não aceitam, contestam ou combatem a nova ordem imperialista totalitária. Um gigantesco ficheiro individual criado com intenções persecutórias e fascizantes (que faz do Big Brother imaginado por Orwell um inofensivo menino de coro) condena cada cidadão que luta pela justiça, pela democracia, pelos direitos humanos à condição de perigoso terrorista. (O exemplo da recente detenção de Pierre Boulez, na Suíça, por figurar numa «lista de suspeitos terroristas» - na base de afirmações públicas produzidas pelo famoso maestro francês há quase quarenta anos! é bem elucidativo da minúcia persecutória dos donos da nova ordem imperialista.)
É à luz desta realidade que deve ser vista a vasta e diversificada ofensiva imperial, conduzida directamente ou por credenciados representantes, contra todas as forças progressistas do Mundo. E é nessa mesma realidade que, no nosso país, se insere a poderosa e multifacetada ofensiva actual contra o PCP. Liquidar o PCP constitui o objectivo essencial de todos os que, pelas mais diversas formas, integram essa ofensiva.
Reconheça-se que causam mossas não pouco graves. Mas, como os próprios sabem e o futuro confirmará, o seu objectivo não será alcançado. Recorramos, uma vez mais, a ONeill e à sua fala a Belarmino, campeão de boxe:
Esperam de 1 a 10 que a gente, oxalá, não se levante - e a gente
levanta-se, pois pudera, sempre.
«Avante!» Nº 1472 - 14.Fevereiro.2002