A maré negra chegou à saúde

O Ser­viço Na­ci­onal de Saúde está a ser alvo do mais grave ataque de sempre e muitas são as de­nún­cias que foram for­mu­ladas por mé­dicos e pro­fis­si­o­nais de saúde co­mu­nistas vindos de todo o país a este en­contro que en­cheu por com­pleto a sala de um hotel em Lisboa.

Na Eu­ropa, os por­tu­gueses são os que gastam mais com a saúde

Em­bora Por­tugal tenha os mais baixos sa­lá­rios da União Eu­ro­peia, os por­tu­gueses são os que pagam mais custos com a saúde na Eu­ropa. O Go­verno avançou com a pri­va­ti­zação das ges­tões hos­pi­ta­lares. Muitos dos novos ges­tores não têm quais­quer co­nhe­ci­mentos na área da saúde. Pre­tende pri­va­tizar as partes po­tên­ci­al­mente lu­cra­tivas do SNS e as listas de es­pera con­ti­nuam a es­gotar a pa­ci­ência dos utentes. Os pro­fis­si­o­nais de saúde são for­çados a optar entre os seus vín­culos à função pú­blica e os con­tratos in­di­vi­duais de tra­balho que põem em causa as suas car­reiras. A agravar esta dura re­a­li­dade, foi anun­ciado o fim da es­pe­ci­a­li­zação nas áreas de clí­nica geral dos mé­dicos de fa­mília.

 

A falta de re­cursos hu­manos e os ge­né­ricos

 

Prevê-se que em 2005, 40% dos mé­dicos, cerca de 6 mil, terão mais de 55 anos de idade. Em me­di­cina den­tária, em 3400 pro­fis­si­o­nais, 700 estão de­sem­pre­gados, nú­meros de 2000, num país onde 60% dos por­tu­gueses não têm re­cursos para ir ao den­tista. Na far­ma­cêu­tica, os alunos são me­tade dos pro­fis­si­o­nais e en­fer­meiros, faltam cerca de 12 mil e o nu­merus clausus con­tinua. A nova lei de gestão hos­pi­talar veio agravar pro­fun­da­mente a si­tu­ação de­vido aos con­tratos a termo que põem em causa as suas car­reiras. Os en­fer­meiros viram re­du­zidas as vagas para me­tade. O nu­merus clausus agrava ainda mais a falta de mé­dicos, já que a média de en­trada ul­tra­passa os 18 va­lores e levam, por vezes anos, a serem co­lo­cados.

A pro­posta do PCP para os ge­né­ricos foi to­tal­mente al­te­rada pelo Go­verno com a su­pressão do pro­posto for­mu­lário de me­di­ca­mentos que foi re­ti­rado da pro­posta e com a cri­ação do cha­mado preço de re­fe­rência, da au­toria de PSD,PS e PP. Como foi re­fe­rido, quando o mé­dico não au­to­rizar a subs­ti­tuição, os me­di­ca­mentos vão ficar mais caros aos utentes.

 

A al­ter­na­tiva

 

O PCP avançou com o pro­jecto de lei-quadro da ad­mi­nis­tração e gestão de­mo­crá­tica dos cen­tros de saúde, hos­pi­tais e sis­temas lo­cais de saúde do SNS, com vista a pre­caver o SNS da di­reita mé­dica e dos in­te­resses da in­dús­tria far­ma­cêu­tica. PS, PSD e CDS im­pe­diram a ar­ti­cu­lação e ex­plo­ração das pro­postas do PCP, uti­li­zando antes a al­te­ração como ins­tru­mento de trans­fe­rência de re­cursos pú­blicos para o sector pri­vado. A des­pe­na­li­zação da in­ter­rupção vo­lun­tária da gra­videz, os di­reitos se­xuais e re­pro­du­tivos da mu­lher, a pre­venção da to­xi­co­de­pen­dência, agora agra­vada pelo Go­verno ao in­ter­ferir na li­ber­dade de pres­crição, como no caso da me­ta­dona, de­sin­ves­tindo to­tal­mente nos CAT’s e dei­xando os pro­fis­si­o­nais em si­tu­ação pre­cária, como re­cordou o Dr. João Goulão, a saúde ocu­pa­ci­onal e a pre­venção dos aci­dentes de tra­balho são também, entre muitas ou­tras ma­té­rias, os mo­tivos da in­ter­venção co­mu­nista.

 

Dar força às co­mis­sões de utentes

 

No sen­tido de apelar à po­pu­lação para que de­fenda seus di­reitos, o PCP con­si­dera in­dis­pen­sável a cons­ti­tuição de co­mis­sões de utentes. Se­gundo Elsa Dias, das Co­mis­sões de Utentes da Pe­nín­sula de Se­túbal, estas co­mis­sões têm um papel fun­da­mental no sen­tido de in­formar e de­bater com a po­pu­lação os pro­blemas re­la­ci­o­nados com a saúde, em co­la­bo­ração com as au­tar­quias, para apre­sentar às au­to­ri­dades ofi­ciais os seus ca­dernos rei­vin­di­ca­tivos. No sen­tido de «unir von­tades e par­ti­cipar nas co­mis­sões de utentes», re­a­lizou-se hoje um en­contro das co­mis­sões de utentes da Pe­nín­sula, em Pal­mela.


In­ter­venção de Carlos Car­va­lhas

Acen­tuam-se as de­si­gual­dades

 

No âm­bito das ini­ci­a­tivas «Em Mo­vi­mento por um Por­tugal com fu­turo», de­correu um de­bate su­bor­di­nado ao tema «Saúde: pú­blica e para todos». Na sua in­ter­venção, Carlos Car­va­lhas traçou o re­trato da saúde em Por­tugal e apre­sentou as pro­postas do PCP

Esta nossa ini­ci­a­tiva de­corre num quadro em que se têm acen­tuado as de­si­gual­dades e em que se tem agra­vado a si­tu­ação so­cial. Di­mi­nuição dos sa­lá­rios reais, que o Go­verno quer também levar à prá­tica em 2004 e 2005, au­mento do de­sem­prego, en­cer­ra­mento e des­lo­ca­li­zação de em­presas em zonas do país em que não há al­ter­na­tivas, de­gra­dação das fun­ções so­ciais do Es­tado de­baixo da capa de menos Es­tado e re­dução do nível e qua­li­dade de vida de mi­lhares e mi­lhares de fa­mí­lias.

Este quadro que se re­flecte no nível de bem estar dos por­tu­gueses tem, também e na­tu­ral­mente, tra­dução no es­tado de saúde dos por­tu­gueses e exige uma po­lí­tica bem di­fe­rente quer no plano eco­nó­mico e fi­nan­ceiro, quer na po­lí­tica de re­dis­tri­buição do Ren­di­mento Na­ci­onal, quer na po­lí­tica fiscal e na po­lí­tica de saúde.

Ora a res­posta que no es­sen­cial o Go­verno tem dado e apon­tado, de­baixo de uma fra­se­o­logia de­ma­gó­gica de pre­tensa pre­o­cu­pação com os do­entes, tem-se re­su­mido à co­nhe­cida fór­mula ne­o­li­beral: quem quer saúde que a pague! Isto é ina­cei­tável.

A pou­pança e a apli­cação cri­te­riosa e ra­ci­onal dos meios e re­cursos que são es­cassos é um im­pe­ra­tivo, uma exi­gência, uma ne­ces­si­dade mas é também im­pe­rioso que estas exi­gên­cias não sejam o pre­texto e a cor­tina de fumo para a mer­can­ti­li­zação da saúde dos por­tu­gueses, que é o que está em marcha. O acesso aos cui­dados de saúde e aos me­di­ca­mentos não pode estar de­ter­mi­nado pela busca do má­ximo be­ne­fício ou su­jeito ir­res­tri­ti­va­mente às leis do mer­cado. O que está em causa é uma questão de saúde e, muitas vezes, uma questão de vida ou de morte.

A de­fesa e a re­vi­ta­li­zação do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde é hoje uma questão fun­da­mental da nossa so­ci­e­dade e cons­titui um ele­mento de­ci­sivo de uma po­lí­tica de de­sen­vol­vi­mento, pro­gresso e jus­tiça so­cial.

In­te­grando a di­nâ­mica de avanços so­ciais que se se­guiram à Re­vo­lução de Abril, a cri­ação e de­sen­vol­vi­mento do SNS foi ao longo destas mais de duas dé­cadas um ele­mento de­ci­sivo e um ins­tru­mento in­dis­pen­sável da uni­ver­sa­li­zação do acesso à saúde e um factor de­ter­mi­nante no pro­gresso so­cial.

O Ser­viço Na­ci­onal de Saúde tem sido alvo de muitos ata­ques vi­sando a sua des­truição. Vá­rios go­vernos do PSD e do PS pra­ti­caram uma po­lí­tica que, por acção ou omissão, nunca deixou ver­da­dei­ra­mente de en­fra­quecer o SNS e os cui­dados de saúde.

Pela nossa parte re­co­nhe­cemos a im­por­tância e os mé­ritos do SNS mas não temos a ideia de que está tudo bem no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde. Existem justas e fun­dadas ra­zões para a crí­tica e o des­con­ten­ta­mento da po­pu­lação.

Assim é com muitas ca­rên­cias ao nível de ins­ta­la­ções.

Assim, é com cres­centes di­fi­cul­dades no acesso aos cui­dados de saúde de largas faixas da po­pu­lação, seja porque não têm acom­pa­nha­mento por um mé­dico de fa­mília, seja porque estão su­jeitos a in­ter­mi­ná­veis listas de es­pera para fazer uma ci­rurgia ou a ina­cei­tá­veis de­moras que chegam a ser reais im­pos­si­bi­li­dades de obter uma con­sulta ou um tra­ta­mento es­pe­ci­a­li­zado.

Assim também é com um custo cada vez maior dos cui­dados de saúde, que faz da nossa po­pu­lação aquela que, no con­junto da União Eu­ro­peia, para além da­quilo com que já con­tribui através dos im­postos, mais des­pesas com saúde su­porta di­rec­ta­mente.

O PCP tem apre­sen­tado res­postas a estes pro­blemas: gestão hos­pi­talar, filas de es­pera, po­lí­tica do me­di­ca­mento...

 

SNS mi­nado por graves pro­blemas

 

En­tre­tanto, o Go­verno en­con­trou, neste quadro, forma de criar umas largas de­zenas de lu­gares para os seus boys. Com o novo mo­delo de em­pre­sa­ri­a­li­zação dos hos­pi­tais, o Go­verno cons­ti­tuiu 31 Con­se­lhos de Ad­mi­nis­tração Hos­pi­talar, para os quais no­meou 170 ges­tores. É um ver se te avias de ges­tores hos­pi­ta­lares, no­me­ados, de facto, pelo apa­relho do PSD, na sua mai­oria sem qual­quer li­gação ou ex­pe­ri­ência no sector da saúde. Para além disso, estes novos ges­tores ga­nham, em geral, o dobro do que re­cebem os ad­mi­nis­tra­dores dos res­tantes hos­pi­tais, al­guns de grande com­ple­xi­dade e di­mensão.

O Ser­viço Na­ci­onal de Saúde tem sido, na ver­dade, mi­nado por graves pro­blemas que pro­gres­si­va­mente afec­taram e afectam o seu de­sem­penho.

Cresceu a pro­mis­cui­dade entre sec­tores pú­blicos e pri­vados com estes a pa­ra­si­tarem os re­cursos pú­blicos e o Or­ça­mento de Es­tado, fa­zendo com que seja hoje in­dis­pen­sável a qual­quer re­forma pro­gres­sista da saúde em Por­tugal a exi­gência de uma ri­go­rosa se­pa­ração dos in­te­resses, de uma fis­ca­li­zação mais aper­tada e da de­fesa in­tran­si­gente do in­te­resse co­lec­tivo.

Man­teve-se e mantém-se um mo­delo de gestão sem res­pon­sa­bi­li­zação dos ges­tores es­co­lhidos por no­me­ação po­lí­tica, em que a cor par­ti­dária e não a com­pe­tência tem sido o factor de­ter­mi­nante para as fun­ções em causa, em que o cum­pri­mento de ob­jec­tivos e o au­mento e me­lhoria da ca­pa­ci­dade de res­posta nunca foram prá­tica cor­rente. A falta de ar­ti­cu­lação, por exemplo entre hos­pi­tais e cen­tros de saúde, foi e con­tinua a ser uma das prin­ci­pais causas de des­per­dício e ine­fi­ci­ência, cau­sa­dora de enormes di­fi­cul­dades aos utentes, sem que na prá­tica se te­nham dado passos sig­ni­fi­ca­tivos para re­solver o pro­blema.

A es­cassez de pes­soal, quer de­vida à ir­ra­ci­onal po­lí­tica do sis­tema de nu­merus clausus que im­pede a for­mação de qua­dros su­pe­ri­ores, quer ao su­ces­sivo e sis­te­má­tico con­ge­la­mento de vagas na função pú­blica, le­vando ine­vi­ta­vel­mente a uma maior pre­ca­ri­zação, di­fi­cultou e di­fi­culta a res­posta às ne­ces­si­dades.

Di­zendo que vai atacar e vencer estas ques­tões, o Go­verno PSD/​CDS-PP tem vindo a de­sen­ca­dear uma ver­da­deira ope­ração de pri­va­ti­zação na saúde, pro­cu­rando abrir cres­cen­te­mente es­paço para os grupos eco­nó­micos pri­vados, ge­ral­mente à custa do erário pú­blico e des­guar­ne­cendo o di­reito à saúde de todos os por­tu­gueses.

O Go­verno de­cidiu en­tregar a cons­trução dos 10 novos hos­pi­tais pre­vistos a Grupos pri­vados e de­cidiu fazê-lo in­vo­cando falsos ar­gu­mentos de falta de fi­nan­ci­a­mento e apon­tando su­postas van­ta­gens para o Es­tado. Na ver­dade, esta ope­ração de en­trega de 10 hos­pi­tais aos pri­vados é um mag­ni­fico ne­gócio para estes e um pés­simo ne­gócio para o Es­tado. É que, mesmo que o Es­tado se en­di­vi­dasse para fi­nan­ciar a cons­trução dos hos­pi­tais, o custo seria menor para os co­fres pú­blicos do que aquilo que, pre­vi­si­vel­mente, se vai pagar anu­al­mente du­rante dé­cadas aos pri­vados.

Quanto às novas so­ci­e­dades anó­nimas hos­pi­ta­lares elas são o ca­minho aberto para a pri­va­ti­zação. Desde logo porque já se prevê a en­trega de ser­viços do hos­pital, mesmo de ser­viços de pres­tação di­recta de cui­dados de saúde, a en­ti­dades pri­vadas. Mas também porque é fácil prever o ca­minho a que le­varão as res­tri­ções ao fi­nan­ci­a­mento das uni­dades hos­pi­ta­lares. Quando no pró­ximo Or­ça­mento já não puder uti­lizar o ca­pital so­cial para pagar dí­vidas, lá virá a pro­posta de en­trada de pri­vados nos hos­pi­tais mesmo que, numa pri­meira fase, de forma mi­no­ri­tária.

Ao mesmo tempo que avança com a pri­va­ti­zação na rede hos­pi­talar, o Go­verno não se quer atrasar na aber­tura do mer­cado dos cui­dados pri­má­rios de saúde aos in­te­resses pri­vados. Com as anun­ci­adas al­te­ra­ções neste sector o Go­verno visa de­sar­ti­cular a rede pú­blica de cui­dados pri­má­rios de saúde, pri­va­ti­zando os ni­chos lu­cra­tivos e dei­xando ao aban­dono o resto. O que irá acon­tecer à pro­moção da saúde, à pre­venção da do­ença, ao pla­ne­a­mento fa­mi­liar e a tantas ou­tras ver­tentes da me­di­cina geral e fa­mi­liar que não se com­pa­decem com uma po­lí­tica de pa­ga­mento por ficha de do­ente, nem serão do in­te­resse dos pri­vados?

Com as me­didas anun­ci­adas, o Go­verno põe em causa uma rede de cui­dados de­ci­siva para as­se­gurar a uni­ver­sa­li­dade do acesso, a mais pró­xima das po­pu­la­ções e que tem na sua fi­lo­sofia uma in­dis­pen­sável in­te­gração na co­mu­ni­dade que é marca ca­rac­te­rís­tica de cui­dados de saúde mo­dernos.

Quanto à po­lí­tica do me­di­ca­mento é sa­bido que a po­pu­lação por­tu­guesa é, já, das que mais paga di­rec­ta­mente do seu bolso o custo dos me­di­ca­mentos, com es­pe­cial pe­na­li­zação dos sec­tores mais des­fa­vo­re­cidos.

 

Uma exi­gência de jus­tiça so­cial

 

A in­tro­dução e a uti­li­zação de ge­né­ricos, há muito de­fen­dida pelo PCP, apesar de per­sistir a exis­tência de ge­né­ricos de marca, é um ca­minho po­si­tivo.

Re­cor­damos que ainda em 1999, pre­ci­sa­mente a 7 de Maio, PS,PSD e CDS/​PP chum­baram sem apelo nem agravo o pro­jecto do PCP vi­sando a in­tro­dução dos ge­né­ricos. Só mais tarde os ou­tros par­tidos se vi­eram a render à jus­teza da po­sição do PCP. Perdeu-se tempo e di­nheiro. A sua con­sa­gração legal é po­si­tiva. Só que o Go­verno in­tro­duziu à bo­leia a questão da com­par­ti­ci­pação por preço de re­fe­rência fa­zendo com que o utente passe a pagar mais pelo mesmo me­di­ca­mento sempre que o mé­dico re­ceitar por marca e proibir a subs­ti­tuição.

Na ver­dade, no pre­am­bulo da Lei afirma-se e bem que, “os ci­da­dãos (...) devem dispor da pos­si­bi­li­dade de, no acto de for­ne­ci­mento ou dis­pensa dos me­di­ca­mentos lhes ser pro­por­ci­o­nada a opção pelo me­di­ca­mento com a mesma subs­tância ac­tiva, se­gu­rança e valor te­ra­pêu­tico, ao menor preço”.

Porém, ce­dendo a pres­sões da Ordem dos Mé­dicos, logo no art.º 3º, o Go­verno es­queceu-se do que aca­bava de pro­clamar no preâm­bulo, ao dispor hi­po­cri­ta­mente que, “não obs­tante ser re­co­nhe­cida a li­ber­dade de opção por parte do utente”, o far­ma­cêu­tico ou o seu co­la­bo­rador de­vi­da­mente ha­bi­li­tado “só po­derão al­terar o me­di­ca­mento pres­crito a pe­dido do utente se não houver uma de­cla­ração ex­pressa do mé­dico pres­critor”. E, neste con­texto, o ar­tigo se­guinte logo con­sagra que a re­ceita in­te­grará “a de­cla­ração do mé­dico pres­critor sobre a dis­pensa ou não do me­di­ca­mento ge­né­rico”.

São co­nhe­cidas as es­pan­tosas de­cla­ra­ções da Ordem dos Mé­dicos e as po­si­ções de con­ser­va­do­rismo de al­guns mé­dicos avessos a qual­quer al­te­ração nesta ma­téria, es­pe­ci­al­mente se ela im­plicar a apro­xi­mação da regra da pres­crição pelo prin­cípio ac­tivo. Assim, nos casos em que o mé­dico não au­to­rizar os ge­né­ricos os ci­da­dãos vão passar a pagar muito mais pelo me­di­ca­mento de marca. Já foram apon­tados acrés­cimos de 63% no custo a su­portar pelo utente.

É, por isso, uma exi­gência de jus­tiça so­cial que se in­tro­duza, como o PCP já propôs na As­sem­bleia da Re­pú­blica, uma clau­sula de ga­rantia que sal­va­guarde os in­te­resses dos utentes e que este pro­ce­di­mento seja re­visto.

Mas nem as di­fi­cul­dades con­cretas, nem a pro­pa­ganda de­ma­gó­gica do Go­verno con­se­guem es­conder que é pos­sível uma outra po­lí­tica de saúde em Por­tugal. Uma po­lí­tica que o PCP tem vindo a propor e a de­fender, sus­ten­tada no apro­vei­ta­mento das ca­pa­ci­dades do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, na par­ti­ci­pação das po­pu­la­ções, no res­peito pelos di­reitos dos pro­fis­si­o­nais, na apli­cação ra­ci­onal e cri­te­riosa dos meios e re­cursos, que são es­cassos, e de com­bate ao des­per­dício e à ine­fi­ci­ência.

Neste mo­mento em que de­corre o Fórum So­cial de Porto Alegre, onde se en­contra uma im­por­tante de­le­gação do PCP e da JCP, é também de lem­brar as con­sequên­cias da glo­ba­li­zação ca­pi­ta­lista com a cres­cente po­la­ri­zação de ri­queza e in­ca­pa­ci­dade de dar res­posta a graves pro­blemas da Hu­ma­ni­dade, antes as agra­vando e de­sig­na­da­mente os re­la­tivos às ques­tões da saúde.

A SIDA atinge no mundo 42 mi­lhões de seres hu­manos, mais de 3 mi­lhões são cri­anças. A ma­lária mata por ano 1 mi­lhão de pes­soas em África, ou seja 3 000 por dia.

As epi­de­mias e pan­de­mias atingem so­bre­tudo os países po­bres. O acesso destes países aos me­di­ca­mentos mais es­sen­ciais con­tinua a ser im­pe­dido, no­me­a­da­mente pelos EUA, a nível da Or­ga­ni­zação Mun­dial do Co­mércio. Con­tinua a ser ne­gado o di­reito dos países em vias de de­sen­vol­vi­mento de pro­du­zirem me­di­ca­mentos sem a au­to­ri­zação (pa­ga­mento) dos res­pec­tivos La­bo­ra­tó­rios.

É ne­ces­sário con­ti­nuar a mo­bi­lizar a opi­nião pú­blica contra esta in­justa si­tu­ação.

 

Uma jor­nada pela paz

 

Assim como é ne­ces­sário que a opi­nião pú­blica mun­dial de­clare nas ruas o seu veto à dita guerra pre­ven­tiva que os EUA pre­param contra o Iraque para sa­tis­fazer os in­te­resses pe­tro­lí­feros ame­ri­canos e o com­plexo mi­litar ame­ri­cano e bri­tâ­nico. É, por isso, que o nosso Par­tido, con­jun­ta­mente com ou­tras forças po­lí­ticas e so­ciais, con­voca uma grande ma­ni­fes­tação em Lisboa contra a guerra, no dia 15 de Fe­ve­reiro, data em que também ha­verá ma­ni­fes­ta­ções nou­tras ca­pi­tais eu­ro­peias. É ne­ces­sário parar a guerra antes que ela co­mece. No Iraque há um mi­lhão de cri­anças que sofre de sub­nu­trição e es­ti­ma­tivas de or­ga­nismos in­ter­na­ci­o­nais apontam para 900 mil as cri­anças que mor­reram nos úl­timos dez anos em con­sequência do aper­tado em­bargo eco­nó­mico. Uma nova guerra seria uma tra­gédia para este povo. Não há ne­nhum ar­gu­mento que jus­ti­fique a guerra dita pre­ven­tiva, que está a ser pre­pa­rada, não em nome do di­reito, mas sim da afir­mação he­ge­mó­nica dos EUA.

É por isso que ape­lamos a todas as ca­madas da po­pu­lação, a todas as sen­si­bi­li­dades de­mo­crá­ticas e hu­ma­nistas para que, in­de­pen­den­te­mente das di­ver­si­dades par­ti­dá­rias, se mo­bi­lizem para fazer de 15 de Fe­ve­reiro uma grande jor­nada de luta contra a guerra.

A pro­pa­ganda do Go­verno e da di­reita para jus­ti­ficar as suas op­ções e lu­di­briar e atrair quem os ouve as­senta em vá­rias mis­ti­fi­ca­ções e muita de­ma­gogia.

O Go­verno, em es­pe­cial o Mi­nistro da Saúde, afirmam re­pe­ti­da­mente não querer saber de ide­o­lo­gias; que o que lhes im­porta é tratar os do­entes. Assim tentam dis­farçar as suas reais op­ções po­lí­ticas de ataque ao di­reito à saúde e de mer­can­ti­li­zação dos cui­dados de saúde.

Dizem não ter com­plexos com o sector pri­vado, sendo in­di­fe­rente se as pes­soas são tra­tadas pelos ser­viços pú­blicos ou por pri­vados. Assim jus­ti­ficam a cres­cente trans­fe­rência dos cui­dados de saúde para en­ti­dades pri­vadas, à custa dos di­nheiros pú­blicos e ab­di­cando de uti­lizar as ca­pa­ci­dades do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde. Não há du­vida que quando com­pro­va­da­mente os ser­viços pú­blicos não têm ca­pa­ci­dade de res­ponder a uma ne­ces­si­dade ina­diável, se deve ad­mitir o re­curso a ou­tras en­ti­dades. Mas o que não é ad­mis­sível é o re­curso sis­te­má­tico a pri­vados sem que as ca­pa­ci­dades pú­blicas es­tejam es­go­tadas. Não é acei­tável, e con­traria até as tão apre­go­adas re­gras de boa gestão, que o Es­tado pague a ou­tros para fa­zerem aquilo que ele pró­prio tem ca­pa­ci­dade para fazer.

Re­pete também o Go­verno que tem muito res­peito pelos pro­fis­si­o­nais de saúde mas que antes dos seus di­reitos vêm os di­reitos dos utentes. Mas, na ver­dade, nem o Go­verno res­peita os pro­fis­si­o­nais de saúde e os seus di­reitos, nem há qual­quer con­tra­dição entre di­reitos de quem tra­balha na saúde e as ne­ces­si­dades dos utentes. De facto, o que ver­da­dei­ra­mente pre­ju­dica o utente é que os pro­fis­si­o­nais de saúde es­tejam pro­gres­si­va­mente mais su­jeitos à pre­ca­ri­e­dade, a cri­té­rios de gestão eco­no­mi­cistas ou à de­gra­dação das suas con­di­ções de tra­balho, vendo assim de­gra­dadas as con­di­ções para o de­sem­penho com qua­li­dade da sua função.

 (...)

Com esta ini­ci­a­tiva de de­bate sobre o rumo da po­lí­tica de saúde o nosso Par­tido não só apro­fundou a sua re­flexão, como co­lheu também su­ges­tões e pro­postas de res­posta aos pro­blemas, res­posta que também terá ex­pressão na nossa in­ter­venção na As­sem­bleia da Re­pú­blica.

 



Mais artigos de: PCP

Governo incentiva clínicas privadas

O ne­gócio dos tra­ta­mentos de to­xi­co­de­pen­dentes é in­cen­ti­vado pela po­lí­tica do Go­verno, acusou o PCP. Hoje os co­mu­nistas apre­sentam um plano de com­bate ao bran­que­a­mento de ca­pi­tais no Par­la­mento.

Reforçar o colectivo partidário

A acção de con­tacto com os mem­bros do Par­tido, de­ci­dida pela Con­fe­rência Na­ci­onal do PCP no se­gui­mento das ori­en­ta­ções do 16º Con­gresso, está a mo­bi­lizar todas as or­ga­ni­za­ções, cons­ti­tuindo um im­por­tante ele­mento de di­na­mi­zação da sua ac­ti­vi­dade.

Vencer dificuldades, melhorar desempenho

«Ca­mi­nhar com con­fi­ança», foi o lema da 9.ª As­sem­bleia da Or­ga­ni­zação Con­ce­lhia de Gui­ma­rães, que se re­a­lizou no sá­bado pas­sado, no Au­di­tório do Centro de Tra­balho do PCP em Gui­ma­rães.

Eleição em risco

O PCP está preocupado com a actualização dos cadernos eleitorais nos postos consulares portugueses. A eleição para o Conselho das Comunidades Portugueses é a 30 de Março e ainda muito está por fazer. Como referiu Rui Fernandes, membro do Secretariado do PCP, em...

Afirmar o Partido

Também no sábado, reuniu a 4.ª Assembleia da Organização da Freguesia de Pegões do PCP, que fez o balanço da actividade realizada e definiu orientações para o trabalho a desenvolver tendo em conta a realidade da freguesia. Uma freguesia de...

Organização de Setúbal prepara conferência

Cerca de três centenas de militantes da Organização Regional de Setúbal do PCP estiveram reunidos no passado domingo num plenário regional preparatório da conferência nacional sobre poder local, a ter lugar em Maio. O plenário funcionou em três...

Comunistas do Seixal reúnem Assembleia

Sob o lema «Organizar, Intervir, Lutar para Vencer»Os comunistas do Seixal vão reunir no próximo domingo a sua 8ª Assembleia Concelhia. A Assembleia, além de submeter à aprovação dos militantes o Projecto de Resolução Política, que define a...

Envolver todo o Partido no debate

O seminário realiza-se na Sociedade Filarmónica Operária Amorense, na Amora, Seixal. Os trabalhos iniciam-se às 10h30. A sessão de encerramento está prevista para as 17h45. De manhã, estarão vários temas em discussão: a Festa na vida do Partido;...

2.º Seminário Nacional sobre a Festa do Avante!

Oito ano de­pois do 1.º Se­mi­nário Na­ci­onal sobre a Festa do Avante!, re­a­liza-se a 22 de Fe­ve­reiro, o 2.º Se­mi­nário, no Seixal. Em dis­cussão es­tarão ques­tões como a mo­di­fi­cação de con­di­ci­o­nantes que se ve­ri­ficou neste pe­ríodo e as ori­en­ta­ções a se­guir, de forma a que a Festa con­tinue a ser uma im­por­tante ini­ci­a­tiva na in­ter­venção po­lí­tica do PCP. O Avante! pu­blica nesta edição os textos que ser­virão como base de tra­balho no se­mi­nário.