Manter o rumo, diz o PS!

Provocar a ruptura, dizemos nós!

Armindo Miranda (Membro da Comissão Política do PCP)
A taxa de crescimento económico continua a agravar-se e aproxima-se cada vez mais da estagnação, com consequências muito negativas na vida dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas, dos micro e pequenos empresários.

Há que reforçar a organização partidária e sindical nas empresas

As desigualdades sociais estão em crescimento e o desemprego está nos mais altos níveis das últimas décadas. As situações de salários em atraso estão a crescer em todo o País. O Governo não cumpre com o compromisso assumido e prepara-se para, em mais um ano, reduzir o poder de compra aos trabalhadores da Administração Pública central e local. O trabalho precário aumenta e já ultrapassa o milhão e duzentos mil trabalhadores. Ao contrário do que prometeu na campanha eleitoral – que o combate à pobreza seria um dos seus principais objectivos –, com o Governo PS, a pobreza está em crescimento. São mais de dois milhões de portugueses a viver no limiar da pobreza, dos quais cerca de 40% são assalariados.
Os responsáveis de várias IPSS ligadas ao trabalho com crianças referem o aumento do número de casais que chegam ao final do mês e não pagam a mensalidade. Cresce o número de trabalhadores a quem é cativada parte do salário por ordem judicial. Muitos voltam a trazer a lancheira ou comem apenas uma sopa.
Trata-se, em muitos casos, de jovens casais que, para tentar salvar a casa e estando com a corda na garganta, pagam ao banco e cortam a alimentação. E tudo indica que a situação se vai agravar. São já anunciados aumentos da energia, do gás e da água e é certo o aumento dos transportes no início do ano de 2009.
Mas, ao lado desta injusta e preocupante realidade social, existe e floresce radiante, uma outra, bem diferente e de sentido antagónico. Apenas alguns exemplos. Os lucros dos grandes grupos económicos e do capital financeiro cresceram de forma escandalosa, 524 milhões na GALP e 703 Milhões na EDP, só no primeiro semestre.
As cem maiores fortunas arrecadam 20 por cento da riqueza criada no País (32 milhões de euros). Só a riqueza da família mais rica do País, a família Amorim, dava para pagar um salário médio a 337 mil trabalhadores durante todo o ano. 6,9 por cento das famílias mais ricas têm de rendimento anual o mesmo que 60,7 por cento das famílias mais pobres – 25 por cento do total dos rendimentos.

«Pacto de sangue» entre Governo e grande capital

Para agravar ainda mais esta já complicada situação social, o Governo e o PS fizeram aprovar na generalidade, na Assembleia da República, a sua proposta de Código do Trabalho. O patronato e a direita também estão radiantes, têm o Código que desejavam e ainda podem dizer que fizeram melhor. Ao avançar com esta proposta, com tantos prejuízos para os trabalhadores e tantos benefícios para o patronato, fica mais claro o pacto de sangue entre Sócrates, o PS e o capital, para defender os seus interesses de classe. Tendo prometido exactamente o contrário na campanha eleitoral, o PS perdeu toda a legitimidade política para pedir o apoio e o voto dos trabalhadores portugueses
Mas, para o Primeiro-ministro e para o PS, Portugal está no bom caminho e já anunciaram que vão manter o rumo das políticas que têm vindo a seguir. O mesmo é dizer ainda mais dificuldades para os que têm como única riqueza a sua força de trabalho – os explorados – e crescimento dos lucros e mais abundância para os que vivem à grande e à francesa à custa da exploração dessa mesma força de trabalho – os exploradores.
Eles querem manter o rumo desta política ao serviço do grande capital. Nós queremos a ruptura com esta política de direita e a sua substituição por uma outra, ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País, da sua soberania e independência. Foi com esta perspectiva que, convocados pela CGTP-IN, os trabalhadores portugueses concretizaram ontem mais uma grande jornada de luta, contra o Código de Trabalho e por melhores salários.
Foram muitas as empresas onde se fez sentir esta acção nacional de luta. Será o aprofundamento da consciência de classe e da luta dos trabalhadores a partir das empresas e locais de trabalho que criará as condições sociais e políticas para a concretização da alternativa de esquerda pela qual lutamos. E por isso é tão importante que no âmbito da preparação do nosso Congresso, todo o colectivo partidário faça uma reflexão activa e consequente, que leve ao reforço da organização do Partido e sindical nas empresas e, ao emergir com toda a força a partir delas, da acção reivindicativa e o alargamento da luta dos trabalhadores.


Mais artigos de: Opinião

A crise capitalista e a alternativa

Não é mais possível disfarçar a extraordinária dimensão da crise económica e financeira do capitalismo que está a assolar o mundo e desde logo os EUA. O plano entretanto falhado de Bush envolvendo a astronómica soma de 700 000 milhões de dólares para evitar o colapso do sistema financeiro e o afundamento da economia...

Grândola

Grândola, a «Vila Morena» que Zeca Afonso celebrou em canção e o MFA imortalizou no 25 de Abril como a «Terra da Fraternidade» que deu o sinal para o derrube do fascismo, foi o sítio escolhido por um vereador local para exibir a prepotência que lhe sobra através de um poder que não tem.Imagine-se que a criatura, vereador...

O cerco

Há poucas semanas, a equipa de «Os Contemporâneos», programa de humor da RTP, ironizava com o tratamento dado pelos media à criminalidade, sugerindo que se substituíssem os conselhos sobre trânsito, por informações sobre bancos assaltados, numa crítica mordaz ao valor de notícia que passaram a ter acontecimentos até...

<i>«Empate Técnico»</i>

O primeiro debate televisivo entre os candidatos à presidência dos EUA realizou-se na passada sexta-feira. Segundo a imprensa o debate foi «morno» e com «boas maneiras» resultando num «empate técnico». Tudo isto apesar de realizado num momento em que a economia dos EUA, e do mundo, estava a pegar fogo. Haveria o...

A crise só tem uma solução!

Depois das centenas de milhões de dólares e euros injectados pelos Estados capitalistas no sistema financeiro nos últimos dias, uma nova injecção de 700 mil milhões de dólares do Governo dos EUA é discutida como se uma intervenção dos estados capitalistas na economia fosse algo de novo ou surpreendente, como se não...