O cerco
Há poucas semanas, a equipa de «Os Contemporâneos», programa de humor da RTP, ironizava com o tratamento dado pelos media à criminalidade, sugerindo que se substituíssem os conselhos sobre trânsito, por informações sobre bancos assaltados, numa crítica mordaz ao valor de notícia que passaram a ter acontecimentos até agora remetidos para o jornal «O Crime».
Para a maioria dos espectadores de «Os Contemporâneos», a coisa há-de ter ficado como piada. Para outros, há-de ter parecido ideia oportuna.
Vem isto a propósito das demasiadas vezes em que, desde o Verão, os portugueses se levantam de manhã com directos nas televisões de bairros cercados pela polícia. Quase sempre com um jornalista tremendo de emoção e trajado como se estivesse com as tropas americanas no Iraque, ficamos a saber que do bairro tal ou tal da área metropolitana de Lisboa ou do Porto «ninguém entra nem sai», para supostas rusgas casa a casa, pessoa a pessoa, carro a carro, que nalguns casos se anuncia terem começado ao final da tarde do dia anterior, ou madrugada dentro, às vezes incluindo helicópteros. Nos telejornais da noite, segue-se a incontornável reportagem em que a polícia dá conta da operação, normalmente para explicar que se tratou de uma acção para «tranquilizar a população». Leia-se: decidida pelo Governo para disfarçar a falta de meios materiais e humanos para garantir a segurança das populações.
Resta saber que população é que fica mais tranquila com o aparato. Não é com certeza a que mora nesses bairros cercados. Haverá, como em todos os outros, gente boa e gente má, gente honesta e trabalhadora e quem se dedique ao crime. Depois de tal cerco, passa é a haver mais gente insegura e revoltada, impedida de sair de casa ou de voltar a ela, amachucada em directo na televisão, com carimbo de traficante por morar onde mora.
Para quem é dos tais bairros de onde «ninguém entra nem sai», é que daria jeito o programa que os «Contemporâneos» sugeriam. Pelo menos, daria para telefonar para a escola, para o emprego ou para o médico a avisar que se vai chegar tarde, invocando o cerco que até deu na televisão...
Para a maioria dos espectadores de «Os Contemporâneos», a coisa há-de ter ficado como piada. Para outros, há-de ter parecido ideia oportuna.
Vem isto a propósito das demasiadas vezes em que, desde o Verão, os portugueses se levantam de manhã com directos nas televisões de bairros cercados pela polícia. Quase sempre com um jornalista tremendo de emoção e trajado como se estivesse com as tropas americanas no Iraque, ficamos a saber que do bairro tal ou tal da área metropolitana de Lisboa ou do Porto «ninguém entra nem sai», para supostas rusgas casa a casa, pessoa a pessoa, carro a carro, que nalguns casos se anuncia terem começado ao final da tarde do dia anterior, ou madrugada dentro, às vezes incluindo helicópteros. Nos telejornais da noite, segue-se a incontornável reportagem em que a polícia dá conta da operação, normalmente para explicar que se tratou de uma acção para «tranquilizar a população». Leia-se: decidida pelo Governo para disfarçar a falta de meios materiais e humanos para garantir a segurança das populações.
Resta saber que população é que fica mais tranquila com o aparato. Não é com certeza a que mora nesses bairros cercados. Haverá, como em todos os outros, gente boa e gente má, gente honesta e trabalhadora e quem se dedique ao crime. Depois de tal cerco, passa é a haver mais gente insegura e revoltada, impedida de sair de casa ou de voltar a ela, amachucada em directo na televisão, com carimbo de traficante por morar onde mora.
Para quem é dos tais bairros de onde «ninguém entra nem sai», é que daria jeito o programa que os «Contemporâneos» sugeriam. Pelo menos, daria para telefonar para a escola, para o emprego ou para o médico a avisar que se vai chegar tarde, invocando o cerco que até deu na televisão...