Jerónimo de Sousa na Guarda e na Covilhã

«Para a luta não haverá férias»

No âm­bito da cam­panha «Não ao PEC - Em­prego, Pro­dução e Jus­tiça So­cial», Je­ró­nimo de Sousa par­ti­cipou, sá­bado, num des­file na Guarda, «um dis­trito fus­ti­gado pelo de­sem­prego e de­ser­ti­fi­cação», e num co­mício em Tor­to­sendo, na Co­vilhã, onde acusou PS e PSD pela «dra­má­tica si­tu­ação a que o País chegou».

 

Não podem ser os tra­ba­lha­dores a pagar a crise

Nas ruas da ci­dade da Guarda, o Se­cre­tário-geral do PCP con­tactou com a po­pu­lação e co­mer­ci­antes e alertou, no final do des­file, que contou com largas de­zenas de pes­soas, para o en­cer­ra­mento de ser­viços pú­blicos. «Es­tamos aqui, não para pedir votos, para apelar à de­mons­tração da in­dig­nação e do pro­testo, que hoje a mai­oria da po­pu­lação sente, tendo em conta as di­fi­cul­dades, os pro­blemas, os efeitos desta de­sas­trosa po­lí­tica, em par­ti­cular do cha­mado PEC [Pro­grama de Es­ta­bi­li­dade e Cres­ci­mento] e as suas me­didas adi­ci­o­nais», afirmou, re­cor­dando que aquele dis­trito «co­nhece bem os efeitos da po­lí­tica de di­reita».

Como exemplo, para além da de­ser­ti­fi­cação e da li­qui­dação do apa­relho pro­du­tivo, das em­presas, da agri­cul­tura, «que tem con­sequên­cias no pre­sente e para o fu­turo», Je­ró­nimo de Sousa falou dos pe­quenos co­mer­ci­antes, que têm «cada vez mais di­fi­cul­dades em poder con­correr com as grandes dis­tri­bui­doras e as grandes su­per­fí­cies, tendo em conta a in­jus­tiça que existe no plano dos ho­rá­rios, dos li­cen­ci­a­mentos e do es­co­a­mento dos pro­dutos, que leva ao de­fi­nha­mento do co­mércio tra­di­ci­onal».

Con­denou, de igual forma, a pers­pec­tiva de en­cer­ra­mento de de­zenas de es­colas no dis­trito da Guarda e de ser­viços pú­blicos. «En­cer­ra­mentos que podem ter de­sen­vol­vi­mentos mais graves caso se avance com a pri­va­ti­zação desses mesmos ser­viços, no­me­a­da­mente dos CTT, da EDP, da GALP, entre ou­tras, pre­vistas pelo Go­verno», cri­ticou o Se­cre­tário-geral do PCP, lem­brando que «está posto em causa» o «prin­cipio cons­ti­tu­ci­onal da co­esão na­ci­onal». «Cada vez mais se as­siste a um País in­cli­nado para o mar, com os dis­tritos do in­te­rior cada vez com mais di­fi­cul­dades», acres­centou.

Tra­ba­lha­dores pagam a crise

Na parte da tarde, em Tor­to­sendo, Je­ró­nimo de Sousa re­feriu que a crise in­ter­na­ci­onal do ca­pi­ta­lismo não iliba PS e PSD, com os seus go­vernos, na dra­má­tica si­tu­ação a que o País chegou e que «não podem ser os tra­ba­lha­dores a pagar uma crise para a qual nada con­tri­buiram».

«Es­tamos aqui numa ini­ci­a­tiva de pro­testo e de luta tendo em conta a si­tu­ação do País, dos tra­ba­lha­dores e do povo», su­bli­nhou, re­cor­dando que há mais de 30 anos PS e PSD, com ou sem CDS-PP, com a sua po­lí­tica de di­reita, para além das con­sequên­cias que trouxe a crise in­ter­na­ci­onal, con­tri­buírem para o «pro­cesso de des­truição do apa­relho pro­du­tivo e da pro­dução na­ci­onal, da agri­cul­tura, das pescas, da in­dús­tria».

«Já havia crise quando pro­cu­raram atacar os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, quando deram golpes nas re­formas e nas pen­sões, em di­reitos fun­da­men­tais das po­pu­la­ções, como o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, da se­gu­rança so­cial, da edu­cação, numa ten­ta­tiva pri­va­ti­za­dora vi­sando eli­minar, ou pelo menos re­duzir, esses di­reitos que estão ins­critos na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica», afirmou o Se­cre­tário-geral do PCP, de­mons­trando que aqueles que nos go­vernam e go­ver­naram, «apesar de às vezes pa­re­cerem zan­gados, di­ver­gindo aqui e acolá» sempre, de «acordo» na «de­fi­nição da po­lí­tica eco­nó­mica e so­cial».

Re­la­ti­va­mente ao dé­fice das contas pú­blicas, que a União Eu­ro­peia mandou baixar para os três por cento, Je­ró­nimo de Sousa lem­brou que vão ser os tra­ba­lha­dores, os re­for­mados, a ju­ven­tude, os pe­quenos e mé­dios co­mer­ci­antes, os pe­quenos e mé­dios in­dus­triais, os pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores, a pagar a fac­tura da crise. «Quais são os sa­cri­fí­cios que os ban­queiros, os grandes grupos eco­nó­micos estão a fazer?», in­ter­rogou, dando conta que «em pleno ano de crise» os «cinco prin­ci­pais bancos pri­vados ti­veram 5,5 mi­lhões de euros de lucro por dia». Uma si­tu­ação que conta com a co­ni­vência do Go­verno que nada faz para al­terar a si­tu­ação, antes a agrava, «usando o IVA para au­mentar o preço dos bens es­sen­ciais», pe­na­li­zando «quem menos tem e menos pode».

Romper com a po­lí­tica de di­reita

O Se­cre­tário-geral do PCP falou ainda do de­sem­prego em Por­tugal, que se­gundo nú­meros ofi­ciais ronda os 11 por cento, e das me­didas de re­dução do sub­sídio de de­sem­prego. «Este Go­verno, com a benção do PSD, perdeu tanto a ver­gonha que em me­didas e em apoios so­ciais ex­tra­or­di­ná­rios, tendo em conta a si­tu­ação que vi­vemos, vai, a partir de 1 de Agosto, fazer novos cortes, que vão atingir as cri­anças, os re­for­mados com menos posses, os do­entes aca­mados, os de­fi­ci­entes, aqueles que são mais vul­ne­rá­veis», con­denou, fri­sando que «é pos­sível der­rotar estas me­didas com a luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções».

«Os tra­ba­lha­dores por­tu­gueses nunca de­sis­tiram da jus­tiça so­cial, do pro­gresso, do de­sen­vol­vi­mento, lu­tando para al­terar a si­tu­ação, rom­pendo com esta po­lí­tica, pro­mo­vendo a mu­dança que nós de­fen­demos. É por isso que es­tamos aqui, de­mons­trando que este Par­tido não pensa apenas em elei­ções. Con­si­de­ramos que o de­sen­vol­vi­mento da luta é a res­posta, como se de­mons­trou no dia 29 de Maio, na­quela ma­ni­fes­tação que en­volveu mais de 300 mil pes­soas, e na acção des­cen­tra­li­zado do dia 8 de Julho, que mo­bi­lizou mi­lhares de tra­ba­lha­dores em todas as prin­ci­pais ci­dades do País», des­tacou Je­ró­nimo de Sousa, pro­me­tendo que na «luta não ha­verá fé­rias» e que «es­tamos num com­bate que está longe de ter­minar no Verão».

«A luta é o factor fun­da­mental para en­ca­mi­nhar o País no bom sen­tido. O PCP têm uma po­lí­tica eco­nó­mica e so­cial, com eixos cen­trais as­sentes no de­sen­vol­vi­mento do apa­relho pro­du­tivo e na pro­dução na­ci­onal, na va­lo­ri­zação dos di­reitos de quem tra­balha, no apoio aos pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, aos agri­cul­tores, uma visão de de­mo­cracia cul­tural, de afir­mação e de­fesa da so­be­rania na­ci­onal. Temos um pro­jecto e uma po­lí­tica al­ter­na­tiva», afirmou, ter­mi­nando: «Podem contar com o PCP, na As­sem­bleia da Re­pú­blica e fora dela. Podem contar com este Par­tido. Es­ta­remos na linha da frente contra as in­jus­tiças, o re­tro­cesso so­cial, o de­clínio na­ci­onal que está pre­visto no PEC.»

 



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