CPL quê?

Ângelo Alves

Os jor­nais no­ti­ciam, os «co­men­ta­dores» co­mentam, per­so­na­li­dades e can­di­datos à pre­si­dência da Re­pú­blica pro­nun­ciam-se … todos pre­o­cu­pados com o pe­dido de adesão da Guiné Equa­to­rial à Co­mu­ni­dade de Países de Língua Por­tu­guesa (CPLP).

A or­ga­ni­zação, fun­dada em 1996, a que per­tencem os oito países com língua ofi­cial por­tu­guesa (An­gola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Mo­çam­bique, São Tomé e Prín­cipe, Timor-Leste, Por­tugal) re­a­li­zará na pró­xima sexta-feira em Lu­anda a sua VIII Con­fe­rência de Chefes de Es­tado e de Go­verno onde será abor­dado o pe­dido feito pela Guiné Equa­to­rial, ac­tual membro ob­ser­vador da CPLP.

O tema é na­tu­ral­mente dis­cu­tível e é por de­mais evi­dente que não é o cri­tério da língua – ele­mento es­ta­tu­tário prin­cipal da con­dição de Es­tado membro desta or­ga­ni­zação – que pre­side à von­tade da Guiné Equa­to­rial e dos países que já de­cla­raram o apoio à sua pre­tensão.

Mas o que es­panta no tra­ta­mento me­diá­tico desta questão, assim como nas de­cla­ra­ções en­tre­tanto pro­fe­ridas pelos «opi­nantes» por­tu­gueses, é que todos fogem à per­gunta mais im­por­tante: porquê este in­te­resse sú­bito na CPLP? Tão sú­bito e tão im­por­tante que já levou países como a Aus­trália, In­do­nésia, Lu­xem­burgo, Su­a­zi­lândia e a Ucrânia a de­cla­rarem o seu in­te­resse em aderir à or­ga­ni­zação.

Num quadro de pro­funda crise do ca­pi­ta­lismo, eco­no­mias como a bra­si­leira ou a an­go­lana têm uma im­por­tância cres­cente, e o con­ti­nente afri­cano, com o seu pe­tróleo e ri­quezas na­tu­rais, é cada vez mais o alvo de uma onda ne­o­co­lo­ni­a­lista das prin­ci­pais po­tên­cias im­pe­ri­a­listas – veja-se, por exemplo, o modo como Sar­kozy co­me­morou a To­mada da Bas­tilha com o des­file de forças mi­li­tares das ex-co­ló­nias fran­cesas ou a in­sis­tência dos EUA no fa­mi­ge­rado pro­jecto do AFRICOM.

Então, a questão que se co­loca é se não es­tará em curso a uti­li­zação da CPLP para ob­jec­tivos que já pouco têm a ver com os seus prin­cí­pios fun­da­dores e a sua trans­for­mação num con­glo­me­rado de in­te­resses eco­nó­micos, ins­tru­mento de do­mínio e de re­co­lo­ni­zação dos grandes mo­no­pó­lios, presa fácil dos in­te­resses do grande ca­pital trans­na­ci­onal e das prin­ci­pais po­tên­cias im­pe­ri­a­listas mun­diais. É sobre esta questão que nin­guém se está a pro­nun­ciar… porque será?

 



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