«Verão total»

Com este tí­tulo, «Verão total», a RTP 1 as­susta o mais bravo dos mor­tais, já que o te­les­pec­tador ima­gina logo um pro­grama vazio e um calor de ra­char, tudo alin­dado com mu­si­qui­nhas pimbas ao gosto fa­bri­cado de uma po­pu­lação te­le­de­pen­dente. Um alar­gado lote de apre­sen­ta­dores, uns me­lhores e ou­tros pi­ores, dispõe-se a en­treter as fa­mí­lias – e desta vez serão mais nu­me­rosas porque os tempos, isto é, os di­nheiros, vão dando cada vez menos para uns pas­seios à beira mar.

Ainda assim – e porque aqui es­tamos para isso mesmo – des­ta­camos o en­tre­ter­ni­mento-con­curso cha­mado «7 ma­ra­vi­lhas na­tu­rais de Por­tugal» onde, se as con­versas podem não ins­truir grande coisa, pelo menos as pai­sa­gens são das boas. Claro que temos de alancar com as tais mu­si­qui­nhas e com os ar­tistas con­vi­dados, que nor­mal­mente não são grande coisa mas que se es­forçam por en­con­trar pú­blicos e pro­curam na TV uma rampa de lan­ça­mento. Por nós, pre­fe­rimos os palcos dos Novos Va­lores da Festa do Avante! ou o Palco Ar­raial.

Às vezes, con­tudo, há sur­presas – a pai­sagem é bela, as tra­di­ções bem mos­tradas, os au­tarcas gente séria, ho­nesta e in­te­li­gente. Mas não é raro a pai­sagem pa­recer po­voada de tolos. O pró­ximo di­recto é já hoje, pelas 10 horas e às 15.15. O lugar é a Costa Nova. Vamos a ver... Mas só para quem es­tiver de fé­rias.

 

Como foi?

 

Volta aos ecrãs da RTP 1 a série «Conta-me como foi». O êxito re­pete-se e con­fes­samos não saber se é uma nova série (ou tem­po­rada) ou se se trata de re­pe­tição. É todas as noites de se­mana, às 22 horas. De qual­quer modo este tra­balho re­a­li­zado por Sérgio Gra­ciano, in­ter­pre­tado por um lote de muito bons ac­tores, com des­taque para Rita Blanco e Ma­nuel Gui­lherme, re­cria com uma per­feição co­mo­vente a apa­gada e vil tris­teza dos por­tu­gueses ur­banos em tempos de fas­cismo, poucos anos antes de este ser var­rido pela co­ragem do povo e do MFA. A gente acom­panha uma fa­mília fa­zendo pela vida e, através dos olhos de uma cri­ança, vê como era então di­fícil so­bre­viver. Se o te­les­pec­tador en­con­trar aí al­guns si­nais que se as­se­me­lhem aos tempos ac­tuais é que dis­cerniu o es­sen­cial. A vida está de novo di­fícil para quem tra­balha e tem so­nhos, os vi­ga­ristas estão em altos po­leiros, os ricos mandam de novo e mentem que se fartam. Vai ser ne­ces­sária co­ragem de novo.

 

Tou­radas

 

É tempo delas. E os afic­ci­o­nados que se cuidem porque as cam­pa­nhas para acabar com esse es­pec­tá­culo vi­o­lento e si­mul­ta­ne­a­mente cheio de tra­di­ções já co­meçou e vai cons­ti­tuir cer­ta­mente mais uma cor­tina de fumo para en­co­brir os mais pre­mentes pro­blemas do País. Não vão faltar vo­lun­ta­ri­ados e már­tires, que se dis­põem a mos­trar mais amor aos ani­mai­zi­nhos do que ao pró­ximo. Sá­bado, às 22, há tou­rada na Fi­gueira da Foz.

Em lugar de en­te­diar-se pela tarde com um filme abs­truso, veja, às 16.15, a re­a­li­zação de Mel Gibson, com Mel Gibson em pro­ta­go­nista. É a nar­ração de uma saga he­róica, pas­sada na Es­cócia do Sé­culo XIII, do­mi­nada então pela In­gla­terra. En­quanto a no­breza dei­tava contas à vida sem saber de que lado ia ficar, o pa­triota Wil­liam Wal­lace junta os cam­po­neses e o povo na luta contra os do­mi­na­dores. Ganha uma ba­talha e... perde a guerra: Mas o seu exemplo há-de fru­ti­ficar.

 

O mi­lagre

 

No do­mingo, cos­tuma ser uma pes­se­gada, a co­meçar pelas li­tur­gias ecle­siás­ticas. Mas quê, es­tava à es­pera de um mi­lagre? Pois não será bem um mi­lagre que lhe ofe­recem à noite. Mas pode en­treter-se com um filme te­ne­broso, saído da ima­gi­nação de Stephen King e re­a­li­zado por Frank Da­ra­bont. Trata-se pre­ci­sa­mente de «À Es­pera de um Mi­lagre», pro­ta­go­ni­zado por Tom Hanks e Mi­chael Clarke Duncan. Narra o ca­minho para a morte de um con­de­nado negro, nos Es­tados Unidos e de um guarda da prisão que se afeiçoa e de uma re­lação plena de hu­ma­ni­dade face à de­su­ma­ni­dade do sis­tema.



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