O terror israelita

Rui Paz

É cho­cante a falta de ver­gonha com que este filme im­pe­ri­a­lista se de­sen­rola di­a­ri­a­mente

O go­verno is­ra­e­lita de­cidiu cons­truir mais 1300 fogos em Je­ru­salém Ori­ental, num co­lo­nato ju­daico que já contém 800 ha­bi­ta­ções ile­gais. Estes co­lo­natos estão a ser cons­truídos em solo pa­les­ti­niano ocu­pado desde 1967. São actos pro­vo­ca­tó­rios com­ple­ta­mente ar­bi­trá­rios onde um Es­tado, pro­te­gido, fi­nan­ciado e ar­mado pelos Es­tados Unidos e pelos seus ali­ados eu­ro­peus, co­mete os mai­ores crimes, ex­pro­pria, de­porta e se­questra im­pu­ne­mente po­pu­la­ções in­teiras.

As grandes po­tên­cias da NATO cujos chefes se reúnem amanhã em Lisboa con­tem­plam num si­lêncio cúm­plice os crimes da maior po­tência mi­litar e nu­clear do Médio Ori­ente como se isso fosse a coisa mais na­tural deste mundo.

De facto, qual­quer Es­tado que apoie ac­ti­va­mente a causa do povo pa­les­ti­niano vê au­to­ma­ti­ca­mente apon­tado contra si o es­pectro da sua total des­truição. A po­lí­tica de ter­ro­rismo de Es­tado que Is­rael pra­tica contra o povo pa­les­ti­niano e os povos vi­zi­nhos como o Li­banês é se­me­lhante àquela que a ali­ança mi­litar tem vindo a pra­ticar nos Balcãs, no Iraque ou no Afe­ga­nistão.

 

É cho­cante a falta de ver­gonha com que este filme im­pe­ri­a­lista se de­sen­rola di­a­ri­a­mente di­ante dos nossos olhos e como a di­ta­dura ét­nico-re­li­giosa is­ra­e­lita alastra im­pu­ne­mente na Pa­les­tina com os aten­tados à livre cir­cu­lação da po­pu­lação dos ter­ri­tó­rios árabes; a hu­mi­lhação da mul­ti­pli­cação dos pontos de con­trolo com horas e dias de es­pera; a ex­pro­pri­ação e roubo das me­lhores terras ará­veis e dos me­lhores re­ser­va­tó­rios de água pa­les­ti­ni­anos; o em­pa­redar de um povo in­teiro con­de­nado a viver numa prisão gi­gan­tesca; os ata­ques contra a au­to­ri­dade pa­les­ti­niana em Ra­mallah e a prisão de mi­nis­tros e de­pu­tados eleitos pelo povo; a in­ten­si­fi­cação do bom­bar­de­a­mento e ge­no­cídio da po­pu­lação civil, como acon­teceu ainda re­cen­te­mente em Gaza com a ope­ração Chumbo Fun­dido; o re­curso à pi­ra­taria ma­rí­tima para im­pedir a ajuda e so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­nais contra o em­bargo cri­mi­noso e de­su­mano; o as­sas­sínio de fun­ci­o­ná­rios pa­les­ti­ni­anos em Es­tados Árabes uti­li­zando do­cu­mentos falsos ob­tidos em es­tados mem­bros da NATO sem re­ceio de quais­quer con­sequên­cias.

 

Só quem es­tiver cego face à re­a­li­dade po­derá acre­ditar que o ac­tual re­gime de Te­la­vive al­guma vez de­se­jará a paz e o res­peito pelos di­reitos so­be­ranos do povo pa­les­ti­niano. Desde 1948 que Is­rael é o agressor e pro­cura por todos os meios - e em pri­meiro lugar pelo terror - im­pedir a pro­cla­mação de um Es­tado Pa­les­ti­niano.

A dou­trina que vem sendo sis­te­ma­ti­ca­mente se­guida por Is­rael foi for­mu­lada cla­ra­mente pelo pri­meiro-mi­nistro Me­na­chem Begin: «nunca re­co­nhe­ce­remos a par­tilha. “Eretz Is­rael” será re­cu­pe­rado pelo povo is­ra­e­lita na sua to­ta­li­dade e para sempre»1. As po­tên­cias im­pe­ri­a­listas com os Es­tados Unidos à frente en­ganam des­ca­ra­da­mente o mundo e o povo pa­les­ti­niano quando fazem pi­e­dosas de­cla­ra­ções contra a cons­trução dos co­lo­natos. O seu ob­jec­tivo é jun­ta­mente com o re­gime is­ra­e­lita fazer de­sa­pa­recer pro­gres­si­va­mente do mapa a Pa­les­tina para fi­carem com as mãos li­vres para se apo­de­rarem do pe­tróleo do Médio Ori­ente e impor os seus planos de do­mínio ge­o­es­tra­té­gico da re­gião.

 

Lutar pelo fim do terror is­ra­e­lita, pelo di­reito de re­gresso dos exi­lados e pelos di­reitos do povo pa­les­ti­niano ao seu Es­tado so­be­rano, nas fron­teiras an­te­ri­ores a 1967 com a ca­pital em Je­ru­salém Ori­ental é uma questão vital para a paz mun­dial.

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1 (Noam Chomsky. «A fe­rida aberta. Is­rael, os pa­les­ti­ni­anos e a po­lí­tica dos EUA» – 2003 Ham­burgo)

 



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