De Lisboa para o Mundo

Ângelo Alves

Dentro de 24 horas terá início a cimeira da NATO em Lisboa. Portugal receberá, pela primeira vez na sua história, uma Cimeira de chefes de Estado e de governo desta organização. O Governo do Partido Socialista e o Presidente da República serão, na FIL, os colaborantes anfitriões. Nas ruas de Lisboa o povo defenderá a paz e a Constituição da República Portuguesa. 

O povo desfilará com a alegria que só a firmeza de princípios permite

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Foi há 36 anos que o povo português e o Movimento das Forças Armadas libertaram Portugal do fascismo e conquistaram a liberdade pondo fim a uma criminosa ditadura que em 1949 envolveu Portugal na fundação da NATO. O povo português conquistou então a liberdade, mas não apenas para si. A Revolução, a independência das então colónias portuguesas e a aprovação da Constituição da República Portuguesa significaram avanços históricos exemplares na concepção do relacionamento do Estado democrático português com outros países e povos do Mundo. Abril foi uma profunda mensagem de amizade e de paz, um acto de internacionalismo e um imenso abraço fraterno a todos os povos do Mundo. 

A inclusão no artigo 7.º da CRP da afirmação «Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares (…)» não foi um mero enunciado retórico de princípios. As palavras da Constituição foram expressão e são filhas da história e da luta do povo português. Ao incluirmos, como povo, esses princípios na CRP, dissemos ao Mundo que a opressão e a agressão que marcou o regime fascista e colonialista português, membro da NATO, pertenciam ao passado negro da história de Portugal. 

Mas, três décadas passadas, Portugal recebe, pela primeira vez na sua história, uma cimeira da NATO. Como referiu o Secretário-geral do PCP, «dessa reunião não sairá mais paz! Sairá sim mais insegurança, mais guerra, mais dinheiro para a indústria da morte, mais ingerências e ameaças contra os povos e países (…) renovados ataques ao direito internacional, à própria organização das Nações Unidas, à democracia, à soberania, à autodeterminação dos povos e à liberdade».

O momento em que Portugal é palco desta grave escalada do imperialismo, coincide com o momento em que as classes dominantes em Portugal reflectem sobre a entrega do que resta da nossa soberania ao sinistro binómio FMI/UE – poderosa máquina trituradora de independência nacional, de tecidos produtivos e de direitos laborais e sociais. Simultaneamente o Governo e o Presidente da República regozijam ao dar mais um passo no reforço da NATO e na submissão das nossas Forças Armadas e da política externa portuguesa aos interesses, objectivos e estratégias do imperialismo e neocolonialismo, traindo assim a Constituição que juraram cumprir e fazer cumprir.

 

Que não falte ninguém

 

Na FIL estarão todos os principais responsáveis políticos pela situação que vivemos, os de casa e os de fora. Ali estarão aqueles que para defenderem o grande capital e o domínio económico das suas potências lançam milhões no desemprego e na pobreza, decidem da extorsão de economias como a portuguesa e espezinham a sua soberania. Ali estarão os que não hesitam em recorrer à guerra, ao golpismo, aos crimes mais hediondos, às ingerências e ameaças para dominar países, recursos e mercados. Será o estado-maior do imperialismo que se reunirá na FIL e o Governo do PS e o Presidente (do PSD) serão os seus entusiastas e colaborantes anfitriões. Ali estarão todos juntos, numa unidade de classe, da sua classe, cantando odes à NATO, ao capitalismo, ao militarismo e aos seus chefes supremos. Será essa a triste e fraca figura que têm para enviar da FIL ao Mundo.

Mas de Lisboa, da Avenida que da Liberdade tem nome, sairão no sábado outras e opostas mensagens. Bem coloridas, vivas, combativas e de paz. Será o povo de Abril que desfilará na Liberdade. O povo que face às pressões, às campanhas de intoxicação ideológica, às intimidações e manobras, desfilará com a serenidade e a alegria que só a firmeza de princípios permite, dizendo presente!

Oriundos de todo o País, mobilizados pela JCP, pelo PCP, pela CGTP-IN, pelo CPPC e pelas mais de 100 organizações que, unidas na Campanha «Paz Sim, NATO Não», demonstraram ao longo do ano o que de facto significa perseverança, princípios e unidade na acção, esses serão os que nas ruas de Lisboa defenderão a Constituição de Abril e a Paz enviando assim mais um grande abraço fraterno e de solidariedade internacionalista de Lisboa para o Mundo.

Que não falte ninguém!



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