Cedências favorecem a especulação
A situação de endividamento que o País enfrenta tem causas e responsáveis, mas também tem soluções, afirma o PCP num comunicado do seu Gabinete de Imprensa emitido no dia 11, que transcrevemos na íntegra.
Na década do Euro, o endividamento externo líquido mais do que duplicou
A situação de endividamento do País, longe de constituir um problema novo para o qual alguns dos principais responsáveis políticos parecem ter acordado agora, é um dos mais graves sintomas da política de desastre nacional que PS, PSD e CDS, com o apoio do Presidente da República, têm imposto ao País.
Em dez anos, o valor do endividamento externo líquido (envolvendo dívida pública e privada) passou de cerca de 50 mil milhões de euros em 2000, correspondente a 40% do PIB, para mais de 182 mil milhões de euros em 2009, correspondente a 109% do PIB.
Uma realidade que confirma, tal como o PCP há muito vem alertando, que o problema central do País não é o défice público ou a dívida pública como PS, PSD e CDS querem fazer crer, mas sim a dívida externa global (pública e privada) em consequência de um processo de desindustrialização, de degradação e do abandono do aparelho produtivo, das privatizações, do domínio do capital estrangeiro sobre a economia nacional, da entrada de Portugal na União Económica e Monetária e de uma política monetária e cambial conduzida pelo Banco Central Europeu e pelos interesses da Alemanha e do grande capital, atentatória da soberania nacional e altamente penalizante das nossas exportações e actividades produtivas.
A escalada a que o País vem assistindo, de crescente chantagem e pressão por parte dos chamados mercados financeiros em torno da dívida soberana – com uma taxa de juro que se aproxima dos 7% sobre a emissão de dívida pública a dez anos – confirma que não é persistindo na mesma política de submissão aos interesses especulativos e de abdicação dos interesses nacionais – como se verificou com a aprovação do Orçamento de Estado por PS e PSD – que se travará a especulação, ou se encontrarão respostas para o crescente endividamento nacional.
Os «mercados» são os mega-bancos
Uma especulação dirigida a partir do capital financeiro – nacional e estrangeiro – que encontrará sempre novos pretextos para prosseguir, com a conivência e participação activa do PS e PSD, este verdadeiro roubo ao nosso País. Se primeiro especularam com a dimensão do défice orçamental e com a suposta incapacidade do País para cumprir os draconianos limites impostos pela União Europeia para o défice das contas públicas, especulam agora com a suposta incapacidade do País para fazer face aos compromissos de endividamento decorrentes da mais que certa recessão económica que a política de submissão à ditadura do défice impôs ao País.
Na verdade, especulam porque está na sua natureza especular. Especulam porque com as premissas da União Económica e Monetária e a política do BCE ganham rios de dinheiro. Especulam porque encontram da parte do Governo português a atitude obediente e servil, de quem está sempre pronto para ceder a nova chantagem, a impor mais sacrifícios aos trabalhadores e ao povo, a comprometer a situação do País. Especulam porque os princípios em que assenta a União Europeia e a sua União Económica e Monetária são aqueles que presidem à participação activa do BCE na extorsão da economia nacional e no inaceitável dispositivo que permite que a banca privada – e aqui com a intervenção directa dos principais bancos nacionais – se financie junto do BCE a uma taxa de 1% para a seguir comprar dívida do Estado português cobrando taxas de 5,6 e 7% como acontece actualmente.
O PCP considera que a resposta a este saque aos recursos nacionais não está nem em novas medidas ditas de austeridade ou cedências perante a agiotagem e os interesses do grande capital por parte do Governo português nem no recurso ao FMI ou ao fundo de garantia da União Europeia como alguns se atrevem a admitir.
Por mais que se reduza o défice a especulação vai continuar. A resposta não é, ingenuamente, a de tentar «acalmar» os mercados. Mercados que têm bilhete de identidade e que são os mega-bancos da Alemanha, França ou da Holanda.
Uma mudança radical de atitude
O PCP considera que a gravidade a que esta situação chegou, e os seus prováveis desenvolvimentos durante os próximos meses, reclama da parte do Governo português uma mudança radical de atitude no sentido da defesa dos interesses nacionais. É no plano da iniciativa e intervenção política que se terá de dar resposta ao problema do endividamento e da especulação.
O PCP considera que o Estado português deverá desenvolver de imediato as medidas adequadas visando a diversificação das suas fontes de financiamento designadamente por via de negociações bilaterais, procurando outras fontes mais vantajosas fora daquelas que nos estão a ser impostas pelos «mega-bancos» da União Europeia e dos EUA. Ao mesmo tempo, deverá desenvolver-se uma política activa de emissão de Dívida Pública a investidores individuais nacionais (famílias) – Certificados de Aforro e Certificados de Tesouro – remunerados a taxas convidativas à captação da poupança nacional, ao invés daquilo que o Governo PS fez, que praticamente liquidou estes instrumentos de poupança interna, num favor prestado à banca e ao sector financeiro.
Promover a produção nacional
O PCP considera necessária uma intervenção firme e patriótica do Governo português junto da União Europeia visando liquidar os instrumentos que permitem a actual especulação financeira que arrasa a situação económica e as condições de vida de países como o nosso. Como? Alterando os estatutos, as orientações e a falsa autonomia do Banco Central Europeu, garantindo a presença em igualdade dos Estados na sua direcção e o efectivo controlo político, visando o controlo por cada estado da política económica e monetária. Suspendendo imediatamente o Pacto de Estabilidade e as políticas liberalizadoras e privatizadoras da Estratégia 2020. Pondo fim aos paraísos fiscais, à livre circulação dos capitais e impondo a taxação dos movimentos de capitais especulativos.
Por último, o PCP reafirma que a questão mais decisiva que se coloca para responder ao problema do endividamento externo é a do crescimento económico e o desenvolvimento de uma política de defesa e promoção da produção nacional, na indústria, na agricultura e nas pescas, capaz de adoptar uma política de Estado de produção nacional de produtos importados que permita que o País, em vez de produzir cada vez menos para dever cada vez mais, produza e exporte cada vez mais para dever cada vez menos.
PCP contra recurso ao FMI
Defender a produção nacional
Para o PCP, as declarações do Ministro das Finanças, admitindo o recurso ao FMI pelo nosso País, constituem, «para lá de uma inadmissível disponibilidade para impor um rude golpe na soberania nacional, uma fuga para a frente» que a concretizar-se «significaria um brutal agravamento de todos os problemas do País, da dependência externa e das condições de vida do nosso povo».
Em nota do Gabinete de Imprensa, difundida no início da semana, os comunistas reafirmam que «a resolução dos problemas nacionais, designadamente o combate ao endividamento externo e à especulação financeira, não passam nem pela entrada do FMI em Portugal (ou pelo recurso ao chamado Fundo de Estabilização Financeira) de má memória para o povo português, nem pela persistência na política de desastre nacional que PS, PSD e CDS-PP têm imposto», expressa «nas gravíssimas medidas que estão em curso com a aplicação dos diferentes Programas de Estabilidade e Crescimento (PEC) e do Orçamento de Estado».
O PCP exige ainda, do Governo, o «combate ao endividamento» e à «especulação financeira» e a ruptura «com o rumo de abdicação nacional», que «garanta uma necessária diversificação das fontes de financiamento do País (no plano exterior e interno)». Reclama, de igual forma, que o Executivo PS «intervenha no seio da UE no sentido da exigência da alteração do papel e dos objectivos do Banco Central Europeu, do fim da circulação de capitais e a taxação das actividades especulativas», a par «de uma política de Estado que defenda e desenvolva a produção nacional reduzindo a profunda dependência externo no nosso País».