A turma de Cavaco

Jorge Cordeiro

João Ren­deiro – fi­gura maior do BPP, en­vol­vido, pelo que está tor­nado pú­blico, na gestão da­nosa no Banco a que pre­sidia, agora acu­sado de um ale­gado desvio de cem mi­lhões de euros para contas pes­soais – con­fessou em 2006, em en­tre­vista a uma re­vista, as­pirar a poder vir a in­te­grar aquilo que de­signou como a «turma do bem». Sem des­primor pela am­bição do pró­prio e sem querer con­tra­riar as re­du­zidas pos­si­bi­li­dades de su­cesso, em bom rigor e para mais as­ser­tiva de­fi­nição se de­verá dizer que na es­cola onde mi­lita é na «turma de Ca­vaco» que deve ter lugar. Ren­deiro, e com toda a jus­tiça Oli­veira Costa ou Dias Lou­reiro, fazem parte da­quela gesta de fi­lan­tropos e de exemplo de em­pre­en­do­rismo que pre­en­chem o ima­gi­nário de Ca­vaco Silva e ilus­tram a sua am­bição para Por­tugal. É à me­dida e imagem desta nata de apoi­antes po­lí­ticos e fi­nan­ci­a­dores das suas am­bi­ções elei­to­rais que Ca­vaco Silva vis­lumbra o Por­tugal de in­clusão que por aí apregoa. Essa «causa na­ci­onal», que Ca­vaco vendeu ao país no seu «ro­teiro para a in­clusão», e que se terá es­go­tado na me­diá­tica e pom­posa re­cepção re­a­li­zada quatro anos atrás no Pa­lácio de Belém ao então pro­cla­mado grupo de «em­pre­sá­rios pela in­clusão» ca­pi­ta­ne­ados por Ren­deiro. Apesar de tudo, do mal o menos. Ima­gine cada um o que po­deria ter re­sul­tado para edu­cação dos nossos jo­vens e para a for­mação de toda uma nova ge­ração se o ob­jec­tivo pro­cla­mado de cen­trar tal «missão in­clu­siva» nas es­colas ti­vesse sido para levar a sério por parte de tão ilus­tres di­dactas. O epi­sódio tem o mé­rito de re­velar o ver­da­deiro Ca­vaco Silva. Não aquele que apregoa, sem se rir, que é «do povo» e que diz pro­curar os res­pon­sá­veis pelas in­jus­tiças e a po­breza. Mas sim o ver­da­deiro Ca­vaco Silva, o pro­cu­rador maior dos in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e do ca­pital fi­nan­ceiro, um dos prin­ci­pais res­pon­sá­veis nos úl­timos vinte e cinco anos pelo em­po­bre­ci­mento de Por­tugal e dos por­tu­gueses.



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