Lutar agora para construir o futuro

João Dias Coelho (Membro da Comissão Política do PCP)

Pas­sado o mo­mento elei­toral, a po­eira da de­ma­gogia e da ocul­tação da ver­dade, por parte dos par­tidos do sis­tema ca­pi­ta­lista, sobre o que vai acon­tecer aos por­tu­gueses e a Por­tugal com a apli­cação das me­didas im­postas pela troika es­tran­geira FMI/BCE/UE e apoi­adas pela troika na­ci­onal PS, PSD e CDS-PP, já co­meça a as­sentar.

Não somos parte do sis­tema ca­pi­ta­lista. Lu­tamos pela sua li­qui­dação

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A mis­ti­fi­cação feita pelos co­men­ta­dores e ana­listas po­lí­ticos ao ser­viço da grande bur­guesia acerca do es­tado das nossas contas pú­blicas, apre­sen­tando como ine­vi­tável o cha­mado em­prés­timo «amigo» para salvar Por­tugal – es­con­dendo sempre quem eram os res­pon­sá­veis por tal si­tu­ação e que há ou­tras al­ter­na­tivas – criou o am­bi­ente ne­ces­sário a uma outra ine­vi­ta­bi­li­dade. Ou seja, os mesmos que pro­vo­caram a crise eram ine­vi­ta­vel­mente os mesmos que es­tavam em con­di­ções de a re­solver, pelo sim­ples facto de os media do­mi­nantes e do­mi­nados pelos in­te­resses da grande bur­guesia terem de­ci­dido pre­vi­a­mente que assim tinha de ser.

Não era, aliás, de es­perar outra coisa por parte da­queles que não vêem, porque não podem ver – pois existem, servem e exercem o poder para de­fender e salvar o ca­pital –, que existem ou­tras so­lu­ções para atacar os pro­blemas com que o País se con­fronta, já que eles e a sua po­lí­tica an­ti­de­mo­crá­tica, anti-so­cial e an­ti­pa­trió­tica são causa e efeito da si­tu­ação a que os que vivem do seu tra­balho e das suas re­formas e pen­sões e o País che­garam. Ao con­trário do que o poder da grande bur­guesia quer fazer crer, os tra­ba­lha­dores e o povo não são ma­so­quistas e se co­nhe­cessem em toda a sua di­mensão o que de ver­da­dei­ra­mente PS, PSD e CDS-PP as­si­naram com a troika es­tran­geira não te­riam dado o seu voto a estas forças.

Nin­guém em seu juízo per­feito vota para ser des­pe­dido, para ver re­du­zido o seu sa­lário, pensão ou sub­sídio de de­sem­prego, para ser rou­bado em 50 por cento do sub­sídio de Natal, para ver au­men­tadas as taxas mo­de­ra­doras na Saúde, o gás e a elec­tri­ci­dade, e des­truído o SNS e a es­cola pú­blica, entre tantas e tantas mal­fei­to­rias.

Eles es­con­deram tudo isto do povo, só que a re­a­li­dade é mais forte e por mais pro­pa­ganda que façam, todas as suas teses e mis­ti­fi­ca­ções vão cair por terra quando o povo for con­fron­tado com a nua re­a­li­dade do ataque que lhe vai ser mo­vido. Não há que ter dú­vidas (e nós PCP não temos) que com a apli­cação da re­ceita im­posta pelos re­pre­sen­tantes do grande ca­pital es­tran­geiro e aceite pelos paus-man­dados do grande ca­pital na­ci­onal, vão chover au­tên­ticos pe­dre­gu­lhos em cima da ca­beça dos que menos têm e menos podem – que, mais cedo do que tarde, se er­guerão num com­bate sem tré­guas. O Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês lá es­tará, como sempre es­teve, ao seu lado para de­fender os seus di­reitos du­ra­mente con­quis­tados ao longo de muitas dé­cadas de sa­cri­fício, tra­balho e luta.

 

Lu­tamos pelo so­ci­a­lismo

 

A ofen­siva global do ca­pi­ta­lismo, sis­tema velho e ca­duco, as­sente na mais vil ex­plo­ração de quem tra­balha, co­nhece hoje con­tornos al­ta­mente pe­ri­gosos. No caso por­tu­guês, – onde houve uma Re­vo­lução e se pro­du­ziram, por força da luta das massas e sempre com o apoio do PCP, pro­fundas trans­for­ma­ções po­lí­ticas, eco­nó­micas e so­ciais e avanços ci­vi­li­za­ci­o­nais, sem que o povo to­masse o poder e onde o pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário con­du­zido pelo PS, PSD e CDS já dura há 35 anos e tem pro­du­zido pro­fundos re­cuos –, visam des­truir por com­pleto o re­gime de­mo­crá­tico que é in­se­pa­rável dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo con­sa­grados na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica. Esta tem como pro­ta­go­nistas pes­soas que, in­de­pen­den­te­mente da sua idade, efi­ci­ência e ca­pa­ci­dade, re­pre­sentam os in­te­resses da classe do­mi­nante – a grande bur­guesia – e não olham a meios para atingir o seus fins.

Tal re­a­li­dade faz, ela pró­pria, um risco na areia, co­lo­cando de um lado a grande bur­guesia na­ci­onal, os seus par­tidos e or­ga­ni­za­ções de classe como a CIP, a CAP, a CCP e os sin­di­catos fan­to­ches como a UGT; e do outro os tra­ba­lha­dores, o povo e o seu Par­tido de classe – o PCP – e as suas or­ga­ni­za­ções uni­tá­rias, como a CGTP-IN e muitas ou­tras que re­pre­sentam sec­tores e classes atin­gidas pela fúria da con­cen­tra­li­zação e cen­tra­li­zação ca­pi­ta­listas.

O que hoje está em causa é o nosso fu­turo co­lec­tivo, é a pró­pria es­sência do re­gime de­mo­crá­tico, a so­be­rania, a in­de­pen­dência na­ci­onal. Por isso, que nin­guém es­pere do PCP qual­quer con­tenção na mo­bi­li­zação po­pular em nome da «sal­vação do País», ex­pressão e con­ceito que vindo de quem vem apenas serve para en­cher os bolsos a uns poucos e re­tirar à mai­oria. Sim, os co­mu­nistas por­tu­gueses querem salvar o País da gula do ca­pital e to­maram a opção de de­fender em pri­meiro lugar as ví­timas da ex­plo­ração, que tudo criam e nada têm.

Nós, co­mu­nistas por­tu­gueses, somos fun­da­dores do re­gime de­mo­crá­tico e somos a prin­cipal força que tem lu­tado em sua de­fesa. Mas não somos nem parte nem de­fen­sores do de­su­mano sis­tema ca­pi­ta­lista. Lu­tamos sim pela sua li­qui­dação. Lu­tamos por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, uma de­mo­cracia avan­çada ba­seada nos prin­cí­pios e va­lores da Cons­ti­tuição. Lu­tamos pelos tra­ba­lha­dores e pelo povo. Lu­tamos pelo so­ci­a­lismo.



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