Itália pára na terça-feira

Greve geral contra a austeridade

A prin­cipal cen­tral sin­dical ita­liana con­vocou para a pró­xima terça-feira, dia 6, uma greve geral de oito horas por turno, contra o mais re­cente pa­cote de aus­te­ri­dade apro­vado pelo go­verno de Sílvio Ber­lus­coni.

A CIL apela a ma­ni­fes­ta­ções e pro­testos em todo o país

 

A jor­nada de luta tem como causa pró­xima o mais re­cente pa­cote de me­didas de ajuste or­ça­mental adop­tado pelo go­verno de centro-di­reita para tentar apa­zi­guar os «mer­cados» da dí­vida pú­blica.

Para a CGIL, Con­fe­de­ra­zione Ge­ne­rale Ita­liana del La­voro, que já tinha sido con­fron­tada com um plano de cortes de 79 mil mi­lhões de euros, apro­vado pelo par­la­mento em 15 de Julho, o novo pa­cote, apre­sen­tado em 12 de Agosto, é sim­ples­mente ina­cei­tável.

«Os re­a­jus­ta­mentos eco­nó­micos são in­justos e er­rados», afirma a cen­tral sin­dical ape­lando a uma jor­nada na­ci­onal de greve, com ma­ni­fes­ta­ções por todo o país. Em Roma, está pre­vista uma grande ma­ni­fes­tação que ter­mi­nará frente à Câ­mara dos De­pu­tados, onde novo plano dra­co­niano de­verá ser apro­vado em me­ados deste mês.

Para além de uma vaga de pri­va­ti­za­ções, o pro­grama, que pre­tende re­a­lizar um en­caixe de 45,5 mil mi­lhões de euros em dois anos e al­cançar o equi­lí­brio das contas pú­blicas já em 2013, es­ti­pula o con­ge­la­mento dos sa­lá­rios, cortes nas des­pesas das ad­mi­nis­tra­ções, com pro­fundos re­flexos na pres­tação de ser­viços pú­blicos.

Quase me­tade do en­caixe, 20 mil mi­lhões de euros, de­verá ser re­a­li­zado em 2012, e os res­tantes 25,5 mil mi­lhões, no ano se­guinte.

Na calha está uma al­te­ração ra­dical na di­visão ad­mi­nis­tra­tiva do país, que prevê a ex­tinção de todas as pro­vín­cias com menos de 300 mil ha­bi­tantes ou 3 mil km2 (cri­tério que abrange entre 29 a 35 num total de 109 pro­vín­cias), e 1500 mu­ni­cí­pios, num uni­verso de mais de oito mil.

Cerca de 50 mil lu­gares serão ex­tintos na ad­mi­nis­tração cen­tral, re­gi­onal e local, di­mi­nuindo em seis mil mi­lhões de euros as trans­fe­rên­cias do Es­tado para as re­giões e mu­ni­cí­pios em 2012, a que se so­mará um novo corte de 3500 mil mi­lhões de euros em 2013.

Em nome da «equi­dade», o go­verno chegou a anun­ciar a cri­ação de uma cha­mada «taxa de so­li­da­ri­e­dade» sobre os ren­di­mentos mais ele­vados, su­pe­ri­ores a 90 mil euros anuais, e uma taxa sobre de­pó­sitos ban­cá­rios su­pe­ri­ores a 500 mil euros, num má­ximo de 1100 euros. Mas um co­mu­ni­cado do Con­selho de Mi­nis­tros di­vul­gado esta se­gunda-feira, 29, deu conta de que a «taxa de so­li­da­ri­e­dade» afinal será subs­ti­tuída por «novas me­didas fis­cais que terão como ob­je­tivo eli­minar os abusos nos re­gistos de pro­pri­e­dade e na ins­crição do pa­tri­mónio em nome de ter­ceiros para evitar o pa­ga­mento de im­postos, assim como a re­dução de van­ta­gens fis­cais às so­ci­e­dades co­o­pe­ra­tivas».

To­davia, como sa­li­entam os sin­di­catos, o prin­cipal peso da aus­te­ri­dade recai sobre os tra­ba­lha­dores e as ca­madas mais des­fa­vo­re­cidas da po­pu­lação. «Só os que já pagam im­postos são atin­gidos, e os mais fracos são ainda pe­na­li­zados pela di­mi­nuição dos ser­viços pú­blicos», notou Su­sanna Ca­musso, se­cre­tária-geral da CGIL.

 

De­sem­prego ju­venil re­corde

 

Ao mesmo tempo, a si­tu­ação do mer­cado de tra­balho con­tinua a de­gradar-se na Itália afec­tando em par­ti­cular nas ca­madas mais jo­vens. Um es­tudo di­vul­gado, dia 24, pela Con­far­ti­gi­a­nato, con­fe­de­ração ita­liana dos ar­te­sãos, re­vela que o país é de­tentor do re­corde eu­ropeu de de­sem­prego ju­venil.

Ba­seado nas es­ta­tís­ticas ofi­ciais, o es­tudo in­dica que a ca­mada etária entre os 15 e os 24 anos re­gista uma taxa de de­sem­prego de 29,6 por cento, contra uma média eu­ro­peia de 21 por cento.

Nas idades entre os 15 e os 35 anos, a taxa de de­sem­prego é de 15,9 por cento, mas al­cança os 21,1 por cento no Sul do país. O re­corde ab­so­luto cabe à Si­cília, onde o de­sem­prego fla­gela 28 por cento da po­pu­lação entre os 15 e os 35 anos.

O es­tudo dá ainda nota de um agra­va­mento da si­tu­ação nos úl­timos anos. Entre 2008 e 2011, o nú­mero de jo­vens a tra­ba­lhar caiu em 926 mil.

A de­te­ri­o­ração do mer­cado de tra­balho afecta também os adultos. Por exemplo, na faixa etária entre os 25 e os 54 anos, o ín­dice de de­sem­prego atinge uns sur­pre­en­dentes 23,2 por cento, contra uma média eu­ro­peia de 15,2 por cento. A gra­vi­dade destes nú­meros não pode ser mi­ni­mi­zada pela taxa global de de­sem­prego de apenas oito por cento, abaixo da média de 9,9 por cento da zona euro.



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