Organizações e militantes comunistas

Construtores da greve geral

Mais do que apoiar a con­vo­cação e re­a­li­zação da greve geral, as cé­lulas e or­ga­ni­za­ções do PCP são cons­tru­toras ac­tivas desta grande jor­nada de luta contra a ex­plo­ração e o em­po­bre­ci­mento.

Os co­mu­nistas são des­ta­cados pro­ta­go­nistas da greve geral

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Para além do papel de­sem­pe­nhado pelos muitos di­ri­gentes e de­le­gados sin­di­cais co­mu­nistas na luta dos tra­ba­lha­dores, no­me­a­da­mente na greve geral de amanhã, o papel do Par­tido não se fica por esta in­ter­venção dos seus mi­li­tantes ou por uma mera de­cla­ração de apoio à re­a­li­zação da pa­ra­li­sação. Em muitas em­presas e sec­tores, onde se dá a ex­plo­ração e o con­fronto de classe, as cé­lulas e or­ga­ni­za­ções do Par­tido dão um con­tri­buto no­tável no es­cla­re­ci­mento e mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores para a greve. E amanhã os mi­li­tantes co­mu­nistas es­tarão onde lhes com­pete – nos pi­quetes, fa­zendo desta uma imensa greve geral.

Num co­mu­ni­cado di­ri­gido aos tra­ba­lha­dores da Carris, a cé­lula do PCP alerta para o que está em causa no sector dos trans­portes e par­ti­cu­lar­mente na em­presa Ro­doviária de Lisboa: «Bem pode o Sr. Mi­nistro da Eco­nomia vir dizer que o PET (Plano Es­tra­té­gico dos Trans­portes) é apenas uma pro­posta. Uma pro­posta que re­du­ziria a Carris para me­tade, uma pro­posta que re­ti­raria a Carris da zona su­bur­bana da ci­dade de Lisboa, uma pro­posta que ex­tin­guiria a Rede da Ma­dru­gada, uma pro­posta que abriria ca­minho à pri­va­ti­zação e aos des­pe­di­mentos em massa dos tra­ba­lha­dores.» Uma pro­posta que, con­clui a cé­lula do Par­tido, «tem que ser der­ro­tada».

Na So­tancro, na Ama­dora, con­si­dera o Par­tido ser o «mo­mento de dizer Basta». Para além dos mo­tivos ge­rais, os tra­ba­lha­dores desta em­presa têm ra­zões acres­cidas para aderir, sus­tenta o PCP, no­me­a­da­mente o clima de pro­vo­cação e in­ti­mi­dação que a ad­mi­nis­tração pre­tende montar a quem de­fende os tra­ba­lha­dores. Da ten­ta­tiva de «com­prar» ac­ti­vistas sin­di­cais passou-se à in­ti­mi­dação aberta, com a ins­tau­ração de pro­cessos dis­ci­pli­nares. Para o PCP, os tra­ba­lha­dores da em­presa «não podem per­mitir que se ins­tale um clima de pro­vo­cação, medo e re­pressão da qual são os prin­ci­pais des­ti­na­tá­rios».

A cé­lula da EPAL lem­brou os ele­vados lu­cros al­can­çados pela em­presa – 100 mi­lhões de euros nos úl­timos três anos – e o facto de os sa­lá­rios se en­con­trarem con­ge­lados. Re­al­çando que os tra­ba­lha­dores da em­presa têm, hoje, menos poder de compra do que há 10 anos, o PCP afirma ser «tempo de travar esta ofen­siva».

Também as cé­lulas do Par­tido nas câmaras mu­ni­ci­pais de Lisboa e Vila Franca de Xira chamam a atenção para as me­didas le­sivas dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Local.

 

Ra­zões para lutar

 

Num co­mu­ni­cado di­ri­gido aos tra­ba­lha­dores das em­presas ro­do­viá­rias de pas­sa­geiros, o PCP chama a atenção para as me­didas pro­postas pelo Go­verno, ga­ran­tindo que não atingem apenas os fun­ci­o­ná­rios pú­blicos. «No sector pri­vado, querem ainda que tra­ba­lhemos mais por menos, fa­zendo cair o valor das horas extra para me­tade e en­tre­gando ao pa­trão meia hora grátis por dia». Contra estas e ou­tras me­didas, ga­rante o PCP, «o ca­minho é a luta».

Com a ne­go­ci­ação sa­la­rial con­ge­lada desde o ano pas­sado e sem pro­gressão nas car­reiras, os tra­ba­lha­dores da Anacom têm ra­zões de sobra para aderir à greve geral, sa­li­enta o PCP num co­mu­ni­cado di­ri­gido aos tra­ba­lha­dores desta em­presa. Os co­mu­nistas lem­bram que a isto deve somar-se as con­sequên­cias das me­didas do Go­verno que afec­tarão a ge­ne­ra­li­dade do povo por­tu­guês. O PCP também se di­rigiu aos tra­ba­lha­dores da Al­fasom e da Cerci Póvoa.

Num co­mu­ni­cado do Sector de Em­presas do Con­celho de Cas­cais, o Par­tido sa­li­enta a si­tu­ação que se vive na ho­te­laria – ataque à li­ber­dade sin­dical no Hotel Quinta da Ma­rinha; re­cusa da as­so­ci­ação pa­tronal em ne­go­ciar ta­belas sa­la­riais; des­pe­di­mentos e re­curso a tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios no Ca­sino Es­toril; atraso no pa­ga­mento de sa­lá­rios e sub­sí­dios no Hotel Ci­da­dela e, no Hotel In­gla­terra, a ten­ta­tiva de pagar o tra­balho pres­tado aos fe­ri­ados apenas a 50 por cento. Tudo ra­zões que jus­ti­ficam uma forte adesão, con­si­dera o PCP.

Em Coimbra, os co­mu­nistas apelam aos tra­ba­lha­dores da Aquinos para que adiram em força à greve. «Os ritmos de tra­balho, além de serem um abuso do teu corpo e do teu tra­balho, estão as­si­na­lados como uma das prin­ci­pais causas de aci­dentes», ga­rante o PCP, que alerta ainda para as ten­ta­tivas em curso de pôr em causa os di­reitos de an­ti­gui­dade de­vido à mu­dança de em­presa no mesmo grupo.

Num co­mu­ni­cado do Sector do Táxi do PCP, apela-se aos tra­ba­lha­dores e em­pre­sá­rios para que adiram à greve geral, não dando assim «quais­quer pre­textos a este Go­verno de de­sastre na­ci­onal para con­ti­nuar o roubo para en­tregar aos bancos e con­duzir Por­tugal a uma si­tu­ação idên­tica àquela a que con­du­ziram a Grécia».

 

Co­ragem e de­ter­mi­nação

 

Ao con­trário do que muitos acre­ditam, é pos­sível fazer greve nos sec­tores em que grassa a pre­ca­ri­e­dade. Exem­plos não faltam, como se pôde ve­ri­ficar com maior vi­si­bi­li­dade na úl­tima greve geral, re­a­li­zada há um ano. E tudo in­dica que amanhã estes tra­ba­lha­dores, com co­ragem, par­ti­ci­parão uma vez mais em força na pa­ra­li­sação.

Num co­mu­ni­cado aos tra­ba­lha­dores do El Corte Inglês, a cé­lula do PCP con­si­dera que nem que fosse só pela si­tu­ação in­terna da em­presa havia ra­zões para aderir à greve geral de amanhã. No que res­peita ao tra­balho aos do­mingos, a cé­lula re­alça que «foi-nos rou­bado um di­reito que nos as­sistia desde a aber­tura da loja há dez anos. Es­tá­vamos numa si­tu­ação pri­vi­le­giada em re­lação a ou­tras grandes su­per­fí­cies, mas não éramos nós que tí­nhamos de perder esse di­reito – os ou­tros tra­ba­lha­dores é que ti­nham de ga­nhar o di­reito de passar o do­mingo com a fa­mília e os amigos».

Afir­mando ainda que «não acei­tamos tra­ba­lhar seis dias se­guidos», os co­mu­nistas do El Corte Inglês apelam aos co­legas para que se sin­di­ca­lizem e juntos tra­ba­lhem para ter um de­le­gado sin­dical em cada piso. «Seria também muito im­por­tante que ti­vés­semos um ca­derno rei­vin­di­ca­tivo», acres­centam.

No Shop­ping dos Oli­vais, no nú­mero de No­vembro/​De­zembro do seu bo­letim, a cé­lula do PCP ma­ni­festa o seu apoio ao pré-aviso de greve emi­tido pela CGTP-IN e apela à par­ti­ci­pação de todos os tra­ba­lha­dores da­quela grande su­per­fície co­mer­cial de Lisboa. Todos os tra­ba­lha­dores, sus­tenta, «estão a ser des­ca­ra­da­mente rou­bados, as­sal­tados nos seus di­reitos e na sua dig­ni­dade».

O Sector das Grandes Su­perfícies da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Lisboa do Par­tido está a dis­tri­buir um co­mu­ni­cado aos tra­ba­lha­dores onde se re­corda que os se­gundo e ter­ceiro mai­ores mi­li­o­ná­rios por­tu­gueses são os «ca­be­ci­lhas dos grandes grupos eco­nó­micos li­gados às grandes su­per­fí­cies co­mer­ciais». Re­alçam os co­mu­nistas que «longe de serem em­presas do co­mércio» estes grupos são, na ver­dade, mo­no­pó­lios, pois «con­trolam desde a pro­dução ao ar­ma­ze­na­mento e dis­tri­buição dos pro­dutos que vendem».

Des­ta­cando o «lugar ci­meiro» que estas em­presas as­sumem na «ca­te­goria dos ex­plo­ra­dores», o PCP sa­li­enta ser isso que leva a que os hi­per­mer­cados «sejam uma es­pécie de la­bo­ra­tório de en­saio dos pi­ores des­mandos contra os tra­ba­lha­dores».

Aos tra­ba­lha­dores dos call-cen­ters o PCP apela à par­ti­ci­pação na greve geral pela sua pró­pria re­a­li­dade la­boral: baixos sa­lá­rios; con­tratos pre­cá­rios com as em­presas de tra­balho tem­po­rário, re­no­vá­veis quin­ze­nal­mente, men­sal­mente ou se­ma­nal­mente; in­ter­valos de três mi­nutos por hora e con­trolo a cada ida à casa de banho; obri­gação de tra­ba­lhar mais horas do que o ho­rário, muitas vezes sem a res­pec­tiva re­mu­ne­ração su­ple­mentar.

Já a Or­ga­ni­zação dos Tra­ba­lha­dores Co­mu­nistas no Sector da Vigilância, também de Lisboa, prevê «abusos dos acertos de jor­nada para com­pletar o ho­rário de 42,5 horas se­ma­nais», caso avance a pro­posta do Go­verno de au­mento do ho­rário de tra­balho. Assim, no final do mês, o vi­gi­lante «tra­ba­lhará, de borla, mais de um dia». Se esta me­dida vier a ser lei, alertam os co­mu­nistas, os tra­ba­lha­dores que fazem ac­tu­al­mente horas ex­tra­or­di­ná­rias pas­sarão a re­ceber menos, já que o que hoje são horas extra pas­sarão a estar in­te­gradas no ho­rário re­gular.



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