Reformados, aposentados, pensionistas e idosos manifestam-se em Lisboa

Determinados a continuar a luta

Mais de quatro mil reformados, pensionistas e idosos manifestaram-se, sábado, em Lisboa, contra o pacto de agressão e de rapina da troika, subscrito pelo PS, PSD e CDS, e as medidas contidas no Orçamento do Estado para 2012.

Esta política não tem futuro

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No protesto, que se iniciou no Terreiro do Paço e terminou na Praça da Figueira, os reformados expressaram ainda a sua indignação, descontentamento e rejeição com os cortes de milhões de euros na segurança social, na saúde e nos transportes, e com os aumentos brutais nos bens alimentares essenciais, no gás, na electricidade e na carga fiscal.

Preocupações expressas em palavras de ordem, subscritas em faixas, como aquelas que percorreram a Rua da Prata. «Não ao pacto de rapina da troika. Por pensões dignas e melhor saúde», lia-se na «cabeça» da manifestação, promovida pela Confederação Nacional dos Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI) e pela Inter-Reformados, da CGTP-IN.

«Não à ingerência do FMI», «Envelhecer com dignidade», «Outro rumo, nova política», «Melhores condições sociais», «Estão a roubar-nos a alegria», «Não às reformas de miséria», «Contra os Cortes nas prestações sociais e medicamentos», «Trabalho e reforma com dignidade», «Não podem ser sempre os mesmos a pagar» e «Defender a constituição», foram outras das mensagens de desacordo com a política de direita, defendida, ao longo dos anos, pelo PS, PSD e CDS.

De costas voltadas para a estátua de D. João I, os milhares de manifestantes, muitos deles envergando o cravo de Abril, escutaram atentamente as intervenções que encerraram aquele momento.

No protesto alertou-se, por exemplo, para os golpes desferidos contra a sustentabilidade financeira da Segurança Social, de que é exemplo a decisão recente de integrar os reformados da banca no regime geral, sem que a transferência das responsabilidades, actualmente nos fundos de pensões, seja acompanhada dos correspondentes meios financeiros.

Esperança Martins, do Sindicato Nacional da Actividade Financeira, acusou mesmo o Executivo PSD/CDS de estar a manipular a opinião pública ao utilizar os sindicatos da UGT, ainda maioritários no sector, «para dar a ideia de que está a proceder ao diálogo social».

A ilustrar como «a ânsia de beneficiar os banqueiros» foi demasiado longe, a dirigente sindical referiu que a troika estrangeira obrigou o Governo a corrigir as contas na transferência dos fundos de pensões da banca para a Segurança Social, para que o cálculo fosse feito com base no valor de mercado e não no preço nominal de aquisição.

«A coroar este negócio», denunciou a sindicalista, «o Governo irá utilizar milhões de euros, consignados ao pagamento das futuras pensões de reforma, para pagar dívidas aos bancos. Isto é, o que deveria ser aplicado e rentabilizado para garantir o pagamento das pensões futuras é utilizado para outros fins». «Os banqueiros matam dois coelhos de uma cajadada só, a que o facto de o senhor primeiro-ministro se chamar Coelho dá uma ironia especial», ironizou.

 

Reformados exigem respeito

 

Por seu lado, Fátima Canavezes, coordenadora nacional da Inter-Reformados, exigiu, para 2012, o aumento de 25 euros para as pensões mínimas e cinco por cento para as restantes. «Dizemos "não" à redução ou corte total dos subsídios de Férias e de Natal», assim como «ao aumento das taxas do IVA, dos preços dos bens essenciais, como os alimentares, a electricidade, gás, transportes e habitação», sublinhou, perante os apupos dirigidos ao Governo, a quem apelidaram de «gatunos». A sindicalista criticou ainda os cortes de centenas de milhões de euros na saúde, degradando e destruindo o Serviço Nacional de Saúde, e a abolição de descontos de 50 por cento nos passes de transportes públicos aos idosos.

José Inácio Revés, da Comissão de Reformados do STAL, valorizou a imensa «força» dos reformados, que em nada contribuíram para a crise que o País atravessa, e lembrou que a luta daqueles portugueses vai contribuir «para a ruptura com a política de direita». «Esta política não tem futuro, nem para quem já trabalhou, nem para quem está no activo. Apenas tem servido aqueles que lucram aos milhões: os banqueiros, os especuladores financeiros», denunciou.

A última intervenção coube a Casimiro Meneses, do MURPI, que alertou para a desvalorização progressiva do valor das pensões de reforma, que irão sofrer cortes e congelamento nos próximos anos.

«Enquanto que 80 por cento dos reformados recebem reformas inferiores a 500 euros, o Governo aumenta de forma escandalosa os benefícios e privilégios dos grandes grupos económicos e financeiros», criticou, lamentando o «aumento miserável» de 20 cêntimos diários para algumas pensões mínimas, assim como «a não transferência de verbas para subsídio das prestações sociais às pessoas dependentes dos apoios das IPSS», que «estão a comprometer a viabilidade das instituições e onerar ainda mais as famílias que se vêem a braços com a crise social do desemprego, ao aumento do custo de vida e do agravamento dos impostos».

A terminar, Casimiro Meneses apelou à luta e ao protesto dos reformados. «Quanto maiores forem os protestos em cada terra ou local, em torno das pequenas e grandes lutas, em defesa do não encerramento do posto dos Correios, do posto clínico, do posto da segurança social, da junta de freguesia, mais dificuldades criamos à aplicação de todas e de cada uma das medidas do pacto de agressão e de rapina», afirmou.


Defender as conquistas de Abril

 

No final daquela acção de luta, os reformados, pensionistas e idosos - vindos de Vila Real de Trás-os-Montes, Braga, Porto, Aveiro, Viseu, Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém, Covilhã, Setúbal, Litoral Alentejano, Évora, Beja, Faro, Vila Real de Santo António - aprovaram, por unanimidade, uma moção contra a política de agravamento das condições de vida e manifestaram a sua determinação em lutar «para que não nos seja roubado o que conquistámos com o 25 de Abril». Nesse sentido, exigem:

 

O aumento extraordinário de 25 euros mensais a todos os reformados com pensões inferiores ao salário mínimo nacional;

Para manter o poder de compra das restantes pensões, a sua actualização nunca poderá ser inferior a cinco por cento;

A manutenção dos subsídios de Natal e de Férias;

A defesa do Sistema Público da Segurança Social, universal e solidário, com a salvaguarda do seu reforço financeiro e dos direitos de protecção social rejeitando a integração de sub-regimes de trabalhadores neste sistema, sem que sejam assegurados os respectivos meios financeiros, os direitos adquiridos e direito de participação dos trabalhadores;

A abolição das taxas moderadoras;

A defesa de serviços de saúde de qualidade e de proximidade e a defesa do Serviço Nacional de Saúde;

A garantia de fornecimento gratuito de medicamentos nas doenças crónicas;

A gratuitidade no pagamento de transportes de doentes, clinicamente justificados;

A defesa de manutenção de redução de 50 por cento nos passes de transportes aos idosos;

A garantia e o reforço da Carta Social na definição de equipamentos sociais e o seu acesso com justiça social.

 

Marinha Grande
Almoço de Natal dos Reformados

 

A Associação Sindical União dos Reformados, Pensionistas e Idosos da Marinha Grande (ASURPI) vai realizar, domingo, a 35.ª edição do Almoço de Natal dos Reformados, que terá lugar no Parque Municipal de Exposições do concelho. Para esta grande iniciativa são esperadas algumas centenas de pessoas, muitas delas vindas do Alentejo.

Durante o almoço será prestada uma homenagem a título póstumo a Quinhas Lourenço, uma amiga que, segundo os dirigentes da ASURPI, «merece tudo, porque em vida deu o melhor de si a favor da associação e dos associados». No dia 17, às 15 horas, será colocada uma coroa de flores e uma lápide na campa de Quinhas Lourenço, que se encontra no Cemitério da Marinha Grande.



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