Rejeição e repúdio ao acordo em toda a linha

Nada que se aproveite

As re­ac­ções no Par­la­mento ao texto as­si­nado por Go­verno, pa­trões e UGT na cha­mada con­cer­tação so­cial não se fi­zeram es­perar, com o de­pu­tado co­mu­nista Jorge Ma­chado, logo no dia se­guinte, a de­finir o acordo como «mais um em­purrão para a in­jus­tiça e o de­sastre eco­nó­mico e so­cial do País».

«Uma bru­ta­li­dade» foi mesmo o termo uti­li­zado pelo par­la­mentar do PCP no de­bate de ac­tu­a­li­dade re­a­li­zado no dia 18 por ini­ci­a­tiva do BE, no de­curso do qual acusou os subs­cri­tores do acordo, bem como o PR que o pa­tro­cinou, de es­tarem «unidos na ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, no em­po­bre­ci­mento do povo, no com­pro­me­ti­mento do pre­sente e do fu­turo, no afun­da­mento do País».

Para o mi­nistro Álvaro Santos Pe­reira, de quem ra­pi­da­mente os co­men­ta­dores de ser­viço vi­eram dizer ter sido um dos es­tra­tegas do acordo, ele­vando a fi­gura à ca­te­goria de «grande ven­cedor», aquele teria sido «um dia his­tó­rico», em que «Por­tugal ga­nhou».

Mais disse que fora um acordo «equi­li­brado para todas as partes», que os par­ceiros re­ve­laram «sen­tido de res­pon­sa­bi­li­dade», que per­mi­tirá um «mer­cado de tra­balho mais di­nâ­mico» e uma «maior cri­ação de em­prego», além de «au­mentar a nossa cre­di­bi­li­dade ex­terna». E con­cluiu que «per­mite en­carar o fu­turo com es­pe­rança», as­se­ve­rando que «unidos, iremos vencer a crise».

 

Bater em re­ti­rada


Ge­ne­ra­li­dades à parte, o ti­tular da pasta da Eco­nomia não foi capaz de res­ponder a ne­nhuma das ques­tões que lhe foram co­lo­cadas pelos par­tidos da opo­sição, no­me­a­da­mente pelo PCP que o in­ter­pelou a apontar neste acordo uma única me­dida que seja fa­vo­rável ao mundo do tra­balho.

«Uma única, diga», in­sistiu, vá­rias vezes Jorge Ma­chado, de­pois de ter re­fe­ren­ciado, pelo con­trário, muitas das mal­fei­to­rias ins­critas no acordo, como, por exemplo, as que visam baixar os sa­lá­rios, tornar os des­pe­di­mentos mais fá­ceis e ba­ratos, des­re­gular os ho­rá­rios, impor a dis­cri­ci­o­na­ri­e­dade nos dias de fé­rias, le­ga­lizar o loc­kout, re­duzir o sub­sídio de de­sem­prego no valor e no tempo.

Me­didas de re­gressão in­to­le­rá­veis para as quais a de­pu­tada do BE Ana Drago chamou igual­mente a atenção, pro­cu­rando obter do mi­nistro uma res­posta que es­cla­re­cesse em que «é que tudo isto ajuda a com­pe­ti­ti­vi­dade e gera em­prego».

Es­forço in­glório, este, o le­vado a cabo pelas ban­cadas do PCP e do BE. É que o go­ver­nante, fu­gindo às ques­tões, sempre que in­ter­veio foi para re­petir o que já dis­sera na sua in­ter­venção ini­cial. E sem prestar os es­cla­re­ci­mentos que lhe foram so­li­ci­tados, não obs­tante dispor de tempo, re­solveu aban­donar o he­mi­ciclo. Mais pro­pri­a­mente «bater em re­ti­rada», como bem ob­servou o líder par­la­mentar do PCP, Ber­nar­dino So­ares, in­ter­pre­tando assim esta ati­tude como uma de­mons­tração da com­pleta au­sência de ar­gu­mentos por parte de Álvaro Santos Pe­reira.

 



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