Crise alimenta o problema
Quanto mais se agrava a desigualdade e as condições de vida das famílias, mais difícil é ter uma alimentação saudável. O alerta é do PCP, que lembra que muitas pessoas não têm outro remédio que não seja o recurso a comida de má qualidade.
Faltam apoios ao desporto amador e às colectividades
«Quem alimenta a crise, alimenta a pobreza, alimenta esse problema de saúde tão grave que é a obesidade», denunciou no Parlamento Bernardino Soares.
O líder parlamentar do PCP teceu estas considerações em recente debate realizado em torno de diplomas do PEV, PSD e PS recomendando ao Governo a adopção de medidas para combater a obesidade infantil. Nele são propostas também restrições à publicidade de produtos alimentares dirigida às crianças e adolescentes.
Iniciativas estas que abordam um problema com uma incidência cada vez maior nas nossas sociedades, fazendo, no geral, «um bom diagnóstico da situação e das suas graves consequências para a saúde pública, com acento tónico no impacto deste fenómeno na infância», de acordo com a leitura do presidente da formação comunista.
Por si valorizadas, em particular, foram as propostas do Partido Ecologista «Os Verdes», força política que ao longo dos anos tem desenvolvido uma intervenção sistemática, com várias iniciativas nesta matéria.
Ideia consensual sublinhada por Bernardino Soares é a da necessidade de um maior esforço em termos de «alertas, campanhas de esclarecimento, maior informação nos próprios alimentos».
O que todavia será pouco, advertiu, se não forem resolvidas «questões de fundo que condicionam o combate à obesidade infantil».
E uma delas, precisou, é o problema do sedentarismo, tendo recordado que neste plano somos um dos países da União Europeia com piores índices neste capítulo. O que acontece porque «não há as condições ou os incentivos (que deveria haver) para a prática desportiva e o exercício físico, porque falta apoio ao desporto amador e às colectividades, porque há limitações nas escolas e nas autarquias».
Desacerto com a prática
Bernardino Soares chamou a atenção, por outro lado, para a desconformidade entre algumas das medidas propostas e a prática governativa, bem como para a sua difícil exequibilidade face às políticas seguidas.
É o caso do diploma do PSD, exemplificou, que fala da importância do incentivo ao desporto escolar. «Mas como é que se faz desporto escolar se o PSD e o CDS-PP despedem os professores, limitam os horários em que estes faziam e acompanhavam o desporto escolar?», perguntou.
O mesmo em relação ao desporto universitário, de que fala também o diploma da bancada laranja. «Mas onde é que estão essas condições de infra-estrutura quando muitos dos estádios universitários estão em franca degradação ou quando o Estádio Universitário de Lisboa (o que está em melhores condições) se prepara para ser privatizado?», voltou a inquirir.
Sobre a necessidade do uso de frutas e legumes, tema igualmente caro naqueles diplomas, Bernardino Soares, confessando não poder estar mais de acordo, ressalvou porém que para tal é preciso uma política agrícola e uma política em relação à grande distribuição que permita que as explorações agrícolas locais tenham viabilidade e possam fornecer as escolas, como propõem os diplomas.
Quanto às reuniões de nutricionistas com associações de pais, igualmente defendida nos projectos do PSD e do PS, Bernardino Soares interrogou-se sobre a entidade que os vai contratar: «É pelas escolas? São pagos pelos pais? Quem é que lhes paga, no meio do memorando da troika, do pacto de agressão? Onde é que estão esses recursos?».
Fome nas escolas
Chega de conversa…
O líder parlamentar comunista defendeu a necessidade de rever os regimes calóricos nas refeições escolares, necessidade que em seu entender coloca em primeiro plano o problema da privatização dos refeitórios, nomeadamente a perda de qualidade alimentar que daí decorre relativamente à situação em que eram as próprias escolas a assegurar a sua confecção.
Perante a fome nas escolas, de que ultimamente muito se tem falado, acusou o Executivo de Passos Coelho e Paulo Portas de não estar a agir de acordo com a gravidade do problema. «Em vez de criar imediatamente um programa para que sejam disponibilizadas mais refeições para as crianças, o Governo anuncia que vai falar com grandes empresas para ver se estas estão dispostas a contribuir», criticou, assinalando que «quando há crianças com fome nas escolas não se pode ir falar com grandes empresas e esperar pela sua boa vontade».
«Tem de se intervir e se for preciso dinheiro vão buscá-lo ao BPN, vão buscá-lo onde quiserem, não venham é falar de nutricionistas quando há crianças a passar fome nas escolas», sustentou.