Mais de 200 mil casas entregues ao povo

Pedro Campos

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Quando um vi­si­tante chega a Ca­racas pela pri­meira vez e o faz de noite é im­pos­sível não re­parar que as mon­ta­nhas que bor­deiam a ci­dade estão cheias de pe­quenas luzes como se fossem um pre­sépio de di­men­sões co­los­sais. Na manhã se­guinte, ao olhar as mesmas serras do Wa­raira Re­pano ve­ri­fi­cará que são bar­racas de­gra­dadas que ma­ri­nham monte acima como se qui­sessem es­capar de uma terra que his­to­ri­ca­mente lhes negou tudo ou quase. São cons­tru­ções mi­se­rá­veis, que às vezes nos fazem du­vidar da lei da gra­vi­dade tal o de­safio que fazem às leis da na­tu­reza. Se num dia de sol tro­pical são um drama, quando chove este trans­forma-se fa­cil­mente em tra­gédia.

No final de 2010, chuvas tor­ren­ciais, dessas que são fre­quentes nas zonas tro­pi­cais, aba­teram-se com enorme vi­o­lência sobre di­fe­rentes re­giões da Ve­ne­zuela des­truindo as casas de de­zenas de mi­lhares de pes­soas na sua grande mai­oria dos sec­tores mais des­fa­vo­re­cidos da so­ci­e­dade, desses que vivem nos bairros de lata. No res­caldo desse de­sastre na­tural, o go­verno bo­li­va­riano deu co­meço enér­gico à Grande Missão Vi­venda Ve­ne­zuela. No final da pri­meira quin­zena deste mês, o go­verno ter­minou e en­tregou um con­junto de 2331 fogos cons­ti­tuídos por 17 pré­dios de 13 pisos cada um. São apar­ta­mentos de três e quatro as­so­a­lhadas, com áreas que vão dos 55 aos 72 m2. Com esta en­trega as au­to­ri­dades bo­li­va­ri­anas ul­tra­passam o nú­mero dos 200 mil fogos em menos de ano e meio desta «missão so­ci­a­lista». Con­cre­ta­mente, che­garam ao total de 202 042 apar­ta­mentos atri­buídos em con­di­ções de fi­nan­ci­a­mento par­ti­cu­lar­mente fa­vo­rá­veis para os be­ne­fi­ci­ados. Como dado adi­ci­onal e de não so­menos im­por­tância re­giste-se que este úl­timo con­junto de edi­fi­ca­ções foi cons­truído pelas pró­prias bri­gadas da co­mu­ni­dade. Para que ti­vesse sido pos­sível atingir essa cifra nesse es­paço de tempo é óbvio que é for­çoso ver, um pouco por todo o país mas es­pe­ci­al­mente na ca­pital, obras em pro­cesso de cons­trução. Como é na­tural, esta vaga de cons­tru­ções re­la­ci­o­nada com a esta missão e ou­tros pro­jectos contam com o apoio po­pular mas in­co­modam muito... a opo­sição re­ac­ci­o­nária. Visto que se torna di­fícil acusar o go­verno bo­li­va­riano de nada estar a fazer para re­solver o pro­blema da ha­bi­tação das classes po­pu­lares, então in­venta-se outro: a po­luição!

Um exemplo. No co­ração de Ca­racas, na ur­ba­ni­zação La Car­lota, onde antes es­tava um ae­ro­porto uti­li­zado fun­da­men­tal­mente pela oli­gar­quia local (pri­vi­légio que perdeu há vá­rios anos e de cuja «des­graça» ainda não se re­cu­perou) está agora a ser cons­truído o Parque Bo­lívar. Com uma su­per­fície de 105 hec­tares, o parque, além de estar for­mado por mais 90 por cento de es­paços verdes, in­cluirá, entre ou­tras edi­fi­ca­ções, um com­plexo cul­tural e um centro de con­ven­ções . A in­fra­es­tru­tura de­verá estar pronta em 2016. Con­tudo, como a zona da cons­trução passa ao lado de vá­rias zonas re­si­den­ciais de classe média e média alta, os meios de co­mu­ni­cação ao ser­viço da contra-re­vo­lução não se cansam de «de­nun­ciar» que a planta de ci­mento que serve este pro­jecto polui o ar e já falam de do­entes com asma e ou­tros pro­blemas res­pi­ra­tó­rios. Para in­qui­etar a po­pu­lação das zonas mais pró­ximas da cons­trução es­condem al­guns factos, que foram re­cen­te­mente es­cla­re­cidos pelo mi­nistro res­pon­sável. O pri­meiro que calam é a di­fe­rença entre uma planta e uma fá­brica de ci­mento. Con­ti­nu­ando com a sua cam­panha de ma­ni­pu­lação ob­viam que a planta que ali fun­ciona é de al­tís­sima tec­no­logia. Como con­sequência disso o ci­mento é pro­du­zido no in­te­rior, não vê a luz e sai lí­quido pelo que não há pó que com­pro­meta a qua­li­dade do ar que a po­pu­lação res­pira. Por outro lado es­ca­mo­teiam o facto de que, neste mo­mento, há, nessa ur­ba­ni­zação, oito plantas de ci­mento a tra­ba­lharem em pro­jectos pri­vados e nada se diz sobre po­luição. E isto sem men­ci­onar, tal como in­formou o mi­nistro Sesto, que há cen­tenas de plantas em todo o país a ser­virem de ponto de apoio a cons­tru­ções de luxo e também nada se diz sobre a tal po­luição. Na ver­dade, esta nova cam­panha de ter­ro­rismo me­diá­tico «só» tem duas fi­na­li­dades. Por um lado, as­sustar a po­pu­lação sobre uma po­luição que não existe e, pelo outro, as­sustar, também, as em­presas pri­vadas que co­o­peram com o go­verno bo­li­va­riano e levá-las para o campo da opo­sição ou, pelo menos, evitar que apoiem o pro­cesso de trans­for­mação do país. É que das onze plantas de ci­mento com que tra­balha o Ga­bi­nete Pre­si­den­cial de Planos e Pro­jectos Es­pe­ciais, oito per­tencem ao sector pri­vado!



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