Estudantes, mineiros e populações protestam

Lutas massivas no Chile

Mi­lhares de chi­lenos con­tes­taram a se­mana pas­sada as po­lí­ticas an­ti­po­pu­lares e an­ti­la­bo­rais do go­verno e exi­giram um novo mo­delo sócio-eco­nó­mico no país.

A si­tu­ação dos mi­neiros con­firma um recuo de dé­cadas

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As ac­ções rei­vin­di­ca­tivas ini­ci­aram-se na quarta-feira, 16, com uma ma­ni­fes­tação que reuniu 100 mil es­tu­dantes na ca­pital, San­tiago. A se­gunda mo­bi­li­zação con­vo­cada este ano pelos alunos do Su­pe­rior e do Se­cun­dário su­perou a ini­ci­a­tiva re­a­li­zada no pas­sado mês de Abril – na qual es­ti­veram cerca de 80 mil es­tu­dantes –, e teve como rei­vin­di­cação cen­tral a im­ple­men­tação de um sis­tema de en­sino pú­blico, gra­tuito e de qua­li­dade, a mesma que, em 2011, levou o con­junto dos agentes edu­ca­tivos a mo­bi­li­za­ções sem pre­ce­dentes na úl­tima dé­cada.

«Se­cun­dá­rios, uni­ver­si­tá­rios e pro­fes­sores estão unidos na luta para li­quidar a he­rança da di­ta­dura, um sis­tema edu­ca­tivo se­gre­gador que dis­cri­mina os po­bres», en­fa­tizou Ga­briel Boric, da Con­fe­de­ração de Es­tu­dantes do Chile, ou­vido pela Te­lesur no final da marcha.

A frequência uni­ver­si­tária no Chile é con­si­de­rada uma das mais caras do mundo. O Centro de Es­tudos para um De­sen­vol­vi­mento Al­ter­na­tivo (CEDA) es­tima em quatro mil dó­lares anuais o valor mí­nimo para ga­rantir a per­ma­nência de um aluno no Su­pe­rior.

Ora esta verba equi­vale ao ren­di­mento mensal médio de uma fa­mília chi­lena abas­tada, mas, ao invés, um agre­gado de baixos ren­di­mentos ne­ces­sita de apro­xi­ma­da­mente 20 sa­lá­rios para pagar um ano de frequência uni­ver­si­tária a um dos seus mem­bros.

O pro­grama de Cré­dito com Aval do Es­tado, em vigor, su­porta até 100 por cento do custo da frequência uni­ver­si­tária a uma taxa de juro de seis por cento. A questão é que os alunos e as res­pec­tivas fa­mí­lias as­sumem en­cargos por uma a duas dé­cadas, os quais, na ac­tual con­jun­tura, são ina­ces­sí­veis a mi­lhares de li­cen­ci­ados e agre­gados fa­mi­li­ares chi­lenos, facto que des­mas­cara com crueza a dis­torção da uni­ver­sa­li­dade do sis­tema e a sua sub­missão à ló­gica do lucro.

Be­ne­fício têm co­lhido apenas as en­ti­dades ban­cá­rias que, desde 2006, já lu­craram cerca de 550 mi­lhões de dó­lares com o «fi­nan­ci­a­mento» dos es­tudos de mi­lhares de jo­vens, re­velam os dados apu­rados pela Red Di­ario Di­gital do Chile.

 

Força so­cial po­de­rosa

 

Em luta es­ti­veram igual­mente os mi­neiros chi­lenos que, na quinta-feira, 17, re­a­li­zaram um pro­testo na­ci­onal contra o re­gime de au­tên­tica es­cra­va­tura a que são su­jeitos os tra­ba­lha­dores do sector nas em­presas pú­blicas e pri­vadas, su­bli­nhou o pre­si­dente da Con­fe­de­ração dos Tra­ba­lha­dores do Cobre (CTC), Cris­tian Cu­evas (Prensa La­tina 17.05.2012).

Para Cu­evas, a si­tu­ação dos mi­neiros con­firma um recuo de dé­cadas no que diz res­peito aos di­reitos, re­mu­ne­ra­ções, ho­rá­rios, li­ber­dade de acção e or­ga­ni­zação sin­dical e se­gu­rança la­boral, fruto não apenas da de­gra­dação im­posta nas em­presas já ins­ta­ladas, mas, também, do agra­va­mento da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores nas novas con­ces­sões mi­neiras.

A Con­fe­de­ração Mi­neira do Chile e a Fe­de­ração da Mina Es­con­dida, a maior mina de cobre do mundo, também ade­riram à jor­nada con­vo­cada pela CTC. No total, dis­seram as or­ga­ni­za­ções sin­di­cais, es­ti­veram em luta mais de 35 mil mi­neiros afectos a em­presas pú­blicas e pri­vadas, efec­tivos e pre­cá­rios, já que, des­ta­caram, nada os di­fe­rencia.

Já na sexta-feira, 18, as po­pu­la­ções do Norte do Chile pros­se­guiram os pro­testos da po­de­rosa força so­cial que re­pre­sentam os mi­neiros, mas, desta feita, em de­fesa de uma mais justa re­dis­tri­buição dos ren­di­mentos da ex­plo­ração do sub­solo pelos mu­ni­cí­pios.

O go­verno chi­leno propõe a cri­ação de um fundo (Fon­denor) que, até 2025, di­vida 225 mi­lhões de dó­lares por 40 mu­ni­cí­pios, mas a es­ma­ga­dora mai­oria da po­pu­lação e al­guns eleitos lo­cais con­testam o pro­jecto.

Es­teban Ve­lás­quez, o pre­si­dente da Câ­mara de Ca­lama, a mais im­por­tante ci­dade mi­neira do Chile, si­tuada na re­gião de An­to­fa­gasta, lembra mesmo que a verba não chega se­quer para cons­truir um hos­pital de­cente (Prensa La­tina 18.05.2012).

Nos úl­timos cinco anos, só na pro­víncia de El Loa, onde fica Ca­lama, foi ex­traída ma­téria-prima no valor de mais de 15 mil mi­lhões de dó­lares, mas o povo pouco ou nada be­ne­fi­ciou. O mesmo su­cede nas de­mais ci­dades e pro­vín­cias mi­neiras chi­lenas, por isso foram re­a­li­zadas con­cen­tra­ções, mar­chas, ca­ra­vanas au­to­mó­veis e blo­queios de es­tradas contra o Fon­denor em 30 lo­ca­li­dades do Norte do país.

 



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